O tempo é um bem valioso. Não gostava de ter mais?

Os avanços tecnológicos têm permitido uma melhoria dramática na qualidade de vida das pessoas. Apesar do hardware e do software dos tempos modernos nos permitirem fazer mais em menos tempo – pelo menos comparado com o que acontecia há dez ou vinte anos -, o tempo continua a ser um conceito relativo.

É suposto as pessoas terem mais tempo para si e para os seus. Mas a verdade é que sobretudo nos países ocidentais, há um sentimento de vida atarefada e de escassez de tempo. Ou como diz Anis Fehri, o tempo é um recurso que só se esgota. O dia tem 24 horas, nunca terá 25. Não é possível acrescentar mais tempo às nossas vidas. Ou será que é?




Anis Fehri é o diretor executivo da empresa Smarter Time. A startup francesa veio até ao Web Summit mostrar às pessoas e aos investidores como é importante o conceito de tempo e como, com a ajuda de uma ferramenta autónoma e inteligente, é possível ter mais tempo para si.

A Smarter Time desenvolveu uma aplicação – com o mesmo nome – que faz um registo de todas as atividades de uma pessoa durante o dia. Seja dormir, comer, trabalhar, passar tempo nas redes sociais, correr, jogar um jogo ou ver o pôr do Sol ao final da tarde.

Um dos aspetos interessantes deste serviço é que o utilizador não precisa de dizer ao smartphone o que fez durante o dia. Este registo é feito de forma automática.

O segredo está num algoritmo que a Smarter Time desenvolveu e que dá ao smartphone uma maior capacidade de análise. Por exemplo, se o ambiente estiver escuro e silencioso é possível que o utilizador esteja a dormir, uma inferência que também é feita tendo em conta o horário local.

A Smarter Time criou ainda uma tecnologia de mapeamento automático para espaços onde o utilizador passa muito tempo. Durante a configuração basta dizer ao smartphone quando é que está na cozinha, quando está na sala e quando está no quarto, que daqui para a frente o sistema saberá fazer esta distinção sozinho.

Existem elementos de análise que são mais simples e não envolvem tanta tecnologia. Se estiver a usar o Facebook, então o Smarter Time sabe que o utilizador está no Facebook e considera isso como um período recreativo. Se estiver a usar uma aplicação de notícias, então a ferramenta sabe que está a consumir notícias.

A grande questão é: como é que um assistente destes permite aos utilizadores ‘ganharem’ tempo?

Já se sabe, o tempo não se ganha, mas pode ser melhor gerido. A ideia é que no final de cada semana e de cada mês a pessoa olhe para as suas estatísticas e tire conclusões. Como disse Anis Fehri em conversa com o FUTURE BEHIND, a ideia é que funcione um pouco como o extrato do banco: se virmos que gastamos muito dinheiro, no mês seguinte vamos fazer um esforço para mudar isso.

Na imagem o CEO da Smarter Time, Anis Fehri, mostra a aplicação que a empresa está a desenvolver há mais de um ano. #Crédito: Future Behind

Talvez não tenha essa ideia, mas provavelmente no final de um mês pode ter cerca de 20 horas gastas em redes sociais. É quase um dia. Se o número lhe for apresentado desta forma, terá certamente um impacto maior do que se lhe disserem que gasta seis períodos de dez minutos todos os dias.

No final do mês também saberá se passou muito ou pouco tempo com a família, se é um workaholic e se tem dormido tudo o que precisa. Dependendo dos resultados poderá ter uma maior vontade de gerir e controlar as suas atividades ao longo dos dias.

A aplicação só está disponível para o sistema operativo Android pois foi no software da Google que a Smarter Time conseguiu a melhor otimização. Ainda que do ponto de vista do negócio um começo no iOS pudesse ser teoricamente mais vantajoso, esse não foi o caminho que Anis Fehri e a sua equipa decidiram fazer.

A partir de segunda-feira, 14 de novembro, a aplicação vai sair da sua fase beta e estará disponível para todos. A Smarter Time ainda não tem fechado totalmente o modelo de negócio, mas à partida a aplicação vai existir em dois moldes: uma gratuita e com funcionalidades limitadas, uma outra paga e com todas as funcionalidades acessíveis.

Quem pagar a subscrição de dez euros também vai ter acesso a um monitorizador de atividade acessível no computador. A Smarter Time tem uma versão para desktop que consegue analisar se as atividades feitas são de trabalho, lazer ou de outra categoria.

Para fazer o que faz, a aplicação Smarter Time está constantemente em funcionamento, o que nos fez levantar a questão de ter um impacto significativo na autonomia do telemóvel. Cada doze horas de utilização ‘roubam’ em média 4% à bateria do smartphone, o que acaba por estar em linha com outras apps que que não têm um perfil de utilização intensiva.

Nem sempre foi assim e Anis Fehri recordou os primeiros tempos de desenvolvimento em que o monitorizador de tempo consumia sozinho 30% da autonomia do smartphone.

A empresa melhorou significativamente este aspeto e espera que a Smarter Time possa fazer o mesmo pela vida das pessoas. Como diz Anis Fehri no vídeo em baixo, o objetivo é garantir que “cada um vive a vida que quer viver”.

Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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