Dá pelo nome de Waymo e era, até agora, conhecida apenas como o “projeto de carros autónomos da Google”. A tecnológica de Mountain View foi uma das primeiras empresas a apostar no mercado dos carros autónomos e a agora Waymo era a responsável pelos sistemas de condução autónoma, pela frota de veículos de teste e também pelo conceito de veículo pequeno, de dois lugares, que deambula pelas ruas de algumas cidades dos Estados Unidos.
No entanto, na última semana, foi notícia que a Google iria deixar de desenvolver o carro sem condutor – ficará apenas para testes. O objetivo, esse, sempre passou por colocar a tecnologia em veículos mais tradicionais e é exatamente isso que está a fazer a Waymo.
A unidade de carros autónomos separou-se da Google e passa agora a responder diretamente à Alphabet, a empresa que alberga todos os spin-offs e projetos que não estão diretamente relacionados com os principais produtos da Google. Para a tecnológica, a Waymo significa ‘um novo caminho para a mobilidade’, e os primeiros veículos já estão a ser testados nas ruas. Resultado da parceria com o grupo FCA, este ano, a tecnologia da Waymo está presente em minivans Pacifica da Chrysler. No total, serão testadas cem unidades, mas, para já, não são mais do que seis a passearem pelas ruas de algumas cidades da Califórnia, Michigan e Arizona, nos Estados Unidos.
Tal como explica o CEO da divisão, John Krafcik, numa publicação no Medium, a parceria entre a FCA e a Google nasceu em maio deste ano e o objetivo passou, desde o início, em colocar a tecnologia de condução autónoma em cem Chrysler Pacifica híbridos.
“Nos últimos seis meses, a equipa do programa conjunto tem trabalho no design e nas modificações para o Chrysler Pacifica Hybrid que nos iria permitir integrar os nossos novos sistemas de condução autónoma”, escreve Krafcik, explicando, de seguida, que já foram realizados alguns testes, incluindo “200 horas de testes em condições extremas”. O objetivo, diz, passa por colocar “estes novos veículos em estradas públicas em 2017”.
A Google foi uma das empresas que criou o conceito moderno daquilo que é uma condução autónoma, a possibilidade de ir do ponto A ao ponto B e, durante esse trajeto, poder fazer quase qualquer coisa, uma vez que não a pessoa não terá de preocupar-se com muitos dos aspetos da condução ‘tradicional’.
Para além de ter criado, também foi uma das empresas que mais tempo passou a desenvolver esse mesmo conceito. Não é a única: Tesla, Uber e Ford são apenas algumas das empresas que estão a desenvolver o seu próprio programa de condução autónoma.
Com a separação da Waymo e a Google, o objetivo de implementar a tecnologia no dia-a-dia dos cidadãos de todo o mundo continua e, muito provavelmente, aumenta. A Google em si deixa o desenvolvimento da tecnologia para quem sabe – Krafcik é o antigo executivo da Hyundai para a América do Norte – e a Waymo desenvolve essa tecnologia e melhora o conceito sempre com o importante apoio monetário da Alphabet.
O ‘nascimento’ da Waymo trará maior concorrência. Esta concorrência tanto pode ser positiva como negativa: ou as empresas lutam entre si para ter o melhor sistema de condução autónoma para o público poder comprar, ou lutam entre si para ver quem será o primeiro a colocar o conceito no mercado e isso pode não ser o melhor: depressa nem sempre é sinónimo de melhor.
Como tudo começou
A Google foi uma das primeiras empresas a investir em carros autónomos e a apresentar aquilo que hoje conhecemos como ‘self-driving car‘. Desde 2009, a tecnológica de Mountain View já acumulou dois milhões de milhas, cerca de 3,21 milhões de quilómetros, em testes, o equivalente, segundo o site da Waymo, a “mais de 300 anos de experiência de condução humana”. Só em 2016, a unidade de carros autónomos simulou um milhão de milhas.
Os testes têm lugar nas ruas de quatro cidades norte-americanas. Começou por Mountain View, onde fica localizada a sede da Google, em 2009 e expandiu-se em 2015 para Austin. Já durante este ano de 2016, os carros autónomos da Google chegaram a Metro Phoenix, no estado do Arizona, e a Kirkland, no estado de Washington.
Em termos de carros, e antes de chegarem os referidos Chrysler Pacifica Hybrid com tecnologia da Waymo, a Google tem testado nas ruas destas quatro cidades dois tipos de veículos: o seu protótipo e o Lexus RX450h.
No ano em que tudo começou, a Google colocou um desafio a si própria: conduzir de forma totalmente autónoma dez rotas de 160 quilómetros. Em 2012, o projeto cresce: é adicionado o Lexus RX450h à frota de carros autónomos (que, até então, era constituído por Toyota Prius) e foram conduzidos mais de 482 mil quilómetros. Para além disso, o projeto chega a ruas de cidades complexas, onde é suposto estes carros andarem.
Em 2014 é apresentado o protótipo e, no ano seguinte, estes protótipos chegam às estradas públicas, primeiro a Mountain View e, depois, a Austin. Chegado a 2016, o projeto de carros autónomos da Google torna-se na Waymo, uma “empresa independente de tecnologia de condução autónoma”.
Problemas e oportunidades
No site da Waymo, a empresa partilha alguns dados de 2014 referentes a acidentes na estrada. Nesse ano, existiram 1,25 milhões de mortos por causa de acidentes de viação. Nos Estados Unidos, 94% dos acidentes envolveram erro humano e a grande maioria destes acidentes tiveram como principal causa o excesso de velocidade, o álcool e a distração.
Este é um dos problemas que qualquer empresa que esteja a trabalhar em carros autónomos quer resolver. Muitos são os que, mesmo estando a conduzir, continuam a trabalhar, seja através de uma chamada ou a enviar emails. Com um carro autónomo isso deixará de ser um problema.
Muitas vezes, as empresas ‘vendem’ o seu produto explicando que os ocupantes do veículo poderão estar a enviar emails, a trabalhar ou a ver um filme enquanto se deslocam do ponto A ao ponto B. E porquê? Porque o carro autónomo fará todo o trajeto e o ocupante não terá que se preocupar com nada.
O protótipo da Google não tem volante ou pedais e, portanto, não poderá existir qualquer tipo de intervenção humana na condução. Basta abrir a porta, sentar, dizer para onde quer ir e desfrutar da viagem.
A Waymo mostrou que, efetivamente, é assim tão simples e colocou um homem cego que sozinho num protótipo – que, relembre-se, não tem pedais ou volante – viajou através da cidade de Austin. Steve Mahan, foi, também, a primeira pessoa que não é empregado da Google a estar dentro do carro. Segundo o Washington Post, Mahan explicou que “estes carros autónomos conduzem como um muito bom condutor”.
Se a longo prazo a larga maioria dos carros que estarão na estrada são veículos autónomos e, como tal, poderão comunicar entre si e, como tal, evitar acidentes entre veículos, num futuro próximo serão poucos os carros autónomos na estrada. São esses poucos carros autónomos que vão ter um maior desafio.
Através de sensores e software, os carros são capazes de analisar o comportamento de todos os intervenientes, sejam outros condutores, ciclistas ou pedestres. Nos vários anos de testes que a Google já fez, teve vários acidentes, mas só um foi por culpa sua.
O mais recente acidente aconteceu em setembro deste ano, onde um carro bateu no veículo autónomo ao passar um sinal vermelho. O Lexus da Google tinha sinal verde, mas acabou por se ver envolvido num acidente.
No acidente em que a Google foi a culpada, o veículo colocou-se à frente de um autocarro e acabou por embater nesse mesmo autocarro. Diz a tecnológica que o seu carro ia a cerca de três quilómetros por hora e o autocarro em questão a cerca de 25 quilómetros por hora.
Também não é possível esquecer o caso da Tesla, em que um dos seus carros alegadamente em modo de condução semiautónoma não travou nem reduziu velocidade e acabou por embater num camião, causando a morte do seu ocupante.
Um outro problema para a melhoria dos carros autónomos é a regulação. Veja-se o caso da Uber: logo no primeiro dia em que começa a testar os seus veículos em São Francisco, foi obrigada a parar por não ter uma licença. A Uber acabou por ceder, explicando que irá colocar todos os 16 veículos na estrada assim que for possível.
A concorrência
Sem dúvida alguma que a Google foi a pioneira no mercado de condução autónoma, mas, atualmente, já não é a líder. Foi claramente ultrapassada pela sua concorrência e, principalmente, pela Tesla.
Atualmente, a Tesla coloca o hardware necessário para a capacidade de condução autónoma em todos os seus veículos, mas, até há pouco tempo, o Autopilot, o sistema de condução semiautónomo, tinha de ser pedido como extra.
Mas através de todos os seus veículos, mesmo os que não tinham pedido o Autopilot, a Tesla foi recolhendo informação sobre como os condutores de todo o mundo conduzem e armazenou essa informação no sistema de forma a melhorá-lo. Resultado: se entre 2009 e 2016 a Google fez 3,21 milhões de quilómetros de testes, a Tesla conseguiu recolher informação de 222 milhões de milhas, ou 357 milhões de quilómetros.
É aqui que a Google perde para a sua concorrência. Enquanto a Tesla conseguiu mais quilómetros em menos tempo, também conseguiu colocar essas funcionalidades em produtos que se podem comprar. A Google fica atrás nesse aspeto, uma vez que, para além de ter muito menos quilómetros percorridos, ainda não tem um produto que possa ser vendido, nem ao consumidor final, nem a outras empresas que queiram colocar o sistema nos seus veículos. Este último será o grande objetivo da Waymo e pode acontecer já em 2017.