Um fenómeno chamado Rocket League

Um jogo de futebol com carros e uma bola gigante’. Esta é a melhor forma, e também a mais fiel, de descrever Rocket League. Mas caso os jogadores ficassem apenas por esta frase nunca perceberiam a verdadeira magia que tornou Rocket League num fenómeno.

Estamos a falar do jogo que figurou no top dos videojogos mais rentáveis da Steam durante o ano de 2016. Estamos a falar do jogo com mais downloads em 2016 na PlayStation 4, a consola doméstica da atual geração com uma maior base de instalação. Estamos a falar do jogo que tem 25 milhões de jogadores ativos, segundo dados do próprio estúdio, a Psyonix.

E estamos a falar de um jogo que apesar de ter sido lançado em julho de 2015, está mais forte do que nunca.

Um dos aspetos de Rocket League que acaba por tornar mais relevante este sucesso é o facto de a Psyonix ‘apenas’ ter investido dois milhões de dólares no desenvolvimento e produção do título. Um valor baixo considerando que há grandes produções que chegam a custar aos estúdios de desenvolvimento várias dezenas de milhões de dólares e não atingem metade do sucesso.

Em dezembro de 2015 o jogo já tinha faturado 50 milhões de dólares. Em junho de 2016 as receitas ascendiam a 110 milhões

Senhoras e senhores, este é Rocket League.

Aprender com os erros

O sucesso de Rocket League quase faz esquecer que já houve uma primeira versão deste estilo de jogo, também desenvolvido pela Psyonix. Supersonic Acrobatic Rocket-Powered Battle-Cars até pode ser um nome bastante descritivo para o que os jogadores podiam encontrar neste jogo de 2008, mas é um nome difícil para permanecer na história.

O conceito de SARPBC era justamente o mesmo de Rocket League: um duelo de veículos numa espécie de ‘futebol automóvel’. O próprio desenho dos carros, a diversidade de arenas e os voos controlados por propulsores estavam todos lá.

O jogo foi lançado ainda nos primeiros tempos da PlayStation 3, o que talvez não terá ajudado a uma maior massificação da produção. Ainda assim SARPBC conseguiu na altura chegar aos dois milhões de jogadores, um valor interessante e que terá dado alguma margem de manobra para que a Psyonix voltasse a investir no conceito.

“Vimos que era um problema de consciencialização, disse David Hagewood, fundador da Psyonix, numa entrevista ao The Wall Street Journal onde falava sobre o primeiro jogo. O estúdio sabia que tinha um conceito vencedor entre mãos, precisava era de chegar a mais pessoas.

Apesar de a base para Rocket League estar toda em Supersonic Acrobatic Rocket-Powered Battle-Cars, a verdade é que Psyonix apercebeu-se da necessidade de criar um jogo que fosse mais simplista ao início e que pudesse evoluir em complexidade ao longo do tempo.

Como escreve a Kotaku, o primeiro jogo era muito focado nas habilidades pessoais de cada jogador, enquanto Rocket League conseguiu criar uma imagem de ‘esforço de equipa’, querendo isto dizer que o sucesso de uma partida vem muitas vezes da colaboração de todos os membros e não apenas um.

Rocket League segue a lógica ‘fácil de aprender, dificil de dominar’

A evolução gráfica que o jogo conheceu, assim como pequenas alterações ao ritmo de jogo – os carros são ligeiramente mais lentos – também ajudaram a ‘massificar’ Rocket League.

O que torna Rocket League especial

O sucesso muito acima do esperado que o jogo tem conseguido deve-se a um conjunto de factores que apesar de marcarem presença noutros jogos, têm um Rocket League uma implementação bem desenhada e bem planeada.

Um destes elementos é a componente online. Quando o primeiro jogo foi lançado em 2008, nem os jogos online tinham a mesma infraestrutura tecnológica, nem o mundo estava tão focado nos desportos eletrónicos. Os eSports são uma área em franco crescimento, ao ponto de haver equipas de futebol que estão a criar equipas para videojogos.

Quando Rocket League ficou disponível na PlayStation 4, ficou imediatamente disponível como um jogo mensal do serviço PlayStation Plus. Ou seja, a Sony Interactive Entertainment (SIE) deu aos seus utilizadores com capacidade para jogar online um jogo com uma forte vertente online. É quase como juntar a fome à vontade de comer.

 

Parte do sucesso de Rocket League explica-se justamente por esta aposta forte da SIE. O facto de haver sempre jogadores online e de o sistema do jogo ser relativamente rápido a encontrar outros ‘veículos’ tornam agradável a experiência online. Além da fluidez garantida, Rocket League tem uma forte componente competitiva, algo que contribui para a expansão ‘viral’ do título.

A Psyonix também tem sabido alimentar muito bem os próprios conteúdos do jogo. O estúdio já criou uma atualização que, por exemplo, transforma o jogo de ‘futebol automóvel’ numa partida de ‘basquete automóvel’. O grau de dificuldade de Hoops – nome da expansão – também direcionou este segmento acima de tudo para os jogadores com maior experiência.

Mas nem sempre os novos pacotes de conteúdos são dedicados para manter os fãs mais dedicados agarrados. Alguns deles também servem para recuperar os jogadores que já poderão ter pedido interesse no jogo, mas vêm nas novas pistas um elemento extra para voltar. Foi assim com o DLC AquaDome e foi assim mais recentemente com Starbase ARC.

Além das pistas, há também novos veículos que chegam ao jogo para proporcionar novas experiências de jogabilidade. Quem nunca quis conduzir o Batmobile num jogo de perfil caótico e explosivo?

O facto de os carros serem costumizáveis também acaba por conferir aqui um perfil de personalidade única que os jogadores podem atribuir às suas máquinas.

Estes são alguns dos aspetos que têm ajudado a construir o sucesso de Rocket League, mas talvez mais importante, são os aspetos que continuam a manter o jogo em ‘alta rotação’, mesmo tendo já um ano e meio de mercado.

“No nosso caso, chegamos com um preço premium [20 euros], mas continuamos a suportar o jogo como se fosse um desenvolvimento constante. E isso está a resultar para nós pois os DLC que fazemos (…) estão de facto a tentar adicionar algo de substancial à jogabilidade”, disse Dave Hagewood numa entrevista à Forbes em junho do ano passado.

Há um outro aspeto que tem sido crucial nesta caminhada positiva para Rocket League. O jogo foi um exemplo singular no mercado dos videojogos no que diz respeito ao cross play, isto é, permitir que jogadores de diferentes plataformas jogassem entre si.

Esta postura agnóstica permite que alguém que tem uma PlayStation 4 ou Xbox One possa jogar Rocket League com alguém que está num PC, o que aumenta consideravelmente a base de jogadores que estão nos servidores disponíveis para um confronto online.

Em jeito de conclusão pode dizer-se que a Psyonix tem tido uma grande preocupação em trazer vivacidade ao jogo. Uma aposta que tem dado bons resultados e que lhe permite dizer ‘há vida em Rocket League!‘.

Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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