Este artigo estava na gaveta há algum tempo, mas as mais recentes declarações do diretor executivo do Twitter, Jack Dorsey, fizeram-no saltar cá para fora. Numa altura em que muitos só estão à espera que a rede social anuncie o seu comprador, o CEO enviou um memorando interno no qual reforça a identidade e o propósito do Twitter.
“Investimos uma boa parte do ano em chegar à verdade. A verdade mais importante é o que nós somos e porque estamos aqui: o Twitter é o que está a acontecer e o que todos estão a falar (literalmente!). Notícias e conversa. Somos a rede de notícias das pessoas”, começou por dizer o executivo no memorando, revelado pela Bloomberg.
Mas é na declaração seguinte que tudo fica mais interessante.
“As pessoas escolhem-nos para as notícias porque somos rápidos. Somos rápidos a ter as notícias e rápidos a partilhar as notícias com todo o mundo. Agora vamo-nos esforçar para sermos os primeiros. O primeiro lugar onde as pessoas vão para saberem o que está a acontecer… e o primeiro lugar para dizerem o que está a acontecer. No momento EM DIRETO, ou um resumo rápido daquilo que já sabemos… e importa”.
Mais à frente Jack Dorsey acrescentou: “Por isso vamos mostrar-lhes aquilo do que somos feitos e entregar um Twitter melhor, mais rápido do que eles julgariam ser possível”.
Este memorando foi enviado por Jack Dorsey aos funcionários da empresa como forma de marcar o seu primeiro ano como diretor executivo da empresa.
Pelas palavras do CEO percebemos que o Twitter quer focar-se cada vez mais no segmento das notícias, um no qual já tem uma presença de inabalável importância, mas agora também está a focar-se na velocidade. O Twitter que ser o primeiro em tudo, quer ser o mais rápido.
É aqui que recuperamos o título do artigo: onde estão os artigos instantâneos do Twitter?
A concorrência
As notícias, as publicações de meios de comunicação e blogues tornaram-se num dos conteúdos essenciais de alguns dos maiores serviços de internet: Facebook e Google. No Facebook mais numa componente de rede social, no Google mais numa componente de motor de busca – justamente aquilo que as duas tecnológicas sabem fazer melhor.
Ambas as empresas já reconheceram a importância da velocidade dos conteúdos – não só na sua partilha, mas também no seu consumo. Esta é uma parte fundamental do sucesso de qualquer negócio: não basta falar sobre ele, é preciso que chegue às pessoas e desperte uma ação direta sobre as mesmas. No caso das notícias essa ação é ler a notícia.
Estudo do Pew Research [2016] concluiu que 62% dos norte-americanos acedem às notícias através das redes sociais
Nesta área o Facebook criou os Instant Articles. São artigos partilhados por diferentes publicações e que têm como factor diferenciador o facto de serem alojados e configurados pelo próprio Facebook. Como consequência direta os artigos abrem até dez vezes mais rápido quando carrega neles.
Introducing Instant Articles, a new tool for publishers to create fast, interactive articles on Facebook.
Posted by Facebook Media on Tuesday, May 12, 2015
Possivelmente já os viu. São os artigos que estão identificados com o símbolo de um relâmpago. São super-rápidos, certo? Isto é importante no conceito de imediatez, um do qual o Facebook também vive. Mas talvez mais importante, dá uma resposta rápida a uma necessidade do utilizador.
Mais tarde a Google decidiu seguir um caminho semelhante com as Accelerated Mobile Pages (AMP). Na prática são artigos de publicações que também são configurados pela tecnológica por forma a abrirem de forma muito mais rápida nos dispositivos móveis.
O mundo mobile trouxe um maior sentido de urgência e imediatez. Cada segundo perdido à espera que uma notícia abra é mais uma razão para que essa pessoa desista de abrir o artigo, vá procurar a informação a outro lado e possa até nunca mais voltar a essa publicação devido à má experiência. O Facebook já tem mais de um milhão de utilizadores em dispositivos móveis, a Google mais de metade das pesquisas. É um mercado que não podem descurar.
Por exemplo, atualmente 14% do tráfego do The Verge tem origem nos artigos AMP e a publicação refere que uma grande percentagem do tráfego social tem por base os Instant Articles
Os conteúdos são parte importante da estratégia do Facebook e da Google. Ambas as empresas reconheceram isso com a implementação de tecnologias distintas, mas que têm o mesmo fim: garantir maior velocidade no consumo de conteúdos.
Twitter em xeque
As palavras agora proferidas por Jack Dorsey apenas projetam ainda mais a necessidade de o Twitter ter uma funcionalidade semelhante. Se o Twitter quer ser o rei das notícias, se quer ser a primeira escolha das pessoas para saber e falar de notícias, então tem de tornar essa experiência o mais rápida possível.
A rede social deu alguns passos interessantes para permitir que os conteúdos respirem melhor na sua plataforma. Por um lado repensou o limite de 140 caracteres, fazendo com que as imagens, por exemplo, não contem para o ‘tamanho’ total. Também recentemente disponibilizou para todos os utilizadores a ferramenta Moments, que permite partilhar conteúdos de uma forma mais imersiva – mas que por outro lado falha por ainda não permitir a criação de Moments a partir dos dispositivos móveis.
Mas faltam-lhe os artigos instantâneos. Faltam-lhe os AMP. Falta-lhe algo semelhante.
O mais curioso é que esta ideia de o Twitter ser uma dos locais preferenciais para a partilha e consumo de notícias não é de agora. Agora é que a empresa parece disposta a focar-se mais nesse segmento.
Sabendo que há vários meses que as ‘respostas’ concorrentes já estão no mercado, seria de esperar que o Twitter tivesse criado um formato melhorado para abrir conteúdos dentro da rede social. A isto acresce o facto de o seu navegador interno não ser o mais rápido, nem o mais apelativo.
As palavras de Jack Dorsey podem trazer algum foco à empresa, mas por outro lado também vão trazer pressão. O Twitter para ser o melhor, como quer o seu CEO, precisa de facto de fazer melhor no segmento dos conteúdos. Começar pela implementação de artigos instantâneos será apenas o primeiro de vários passos que precisam de ser dados.