Super Smash Bros. à portuguesa

Quando a Nintendo lançou o jogo Super Smash Bros. para a Nintendo 64 no ano de 1999, talvez não esperasse que em pouco mais de duas décadas o título passaria a ser uma das suas principais franquias e uma das mais adoradas no mundo dos videojogos.

A receita da Nintendo foi relativamente simples: criar um jogo de luta em que as personagens jogáveis são personagens de outras propriedades intelectuais da Nintendo. Quer isto dizer que em Super Smash Bros. rapidamente podemos ter o Super Mario, o Luigi, o Link, o Kirby, o Yoshi, o Pikachu e o Donkey Kong todos à ‘pancada’. Apesar de ser um jogo de luta, está longe de ser violento como acontece noutros títulos do género.




O estilo acabou por ser replicado por mais empresas também na expectativa de capitalizarem as suas personagens. A Sony Interactive Entertainment tentou fazê-lo com o PlayStation All Star Battle Royale. A Capcom decidiu colocar os heróis da Marvel contra as suas próprias personagens.

Já José Castanheira teve uma ideia diferente: decidiu criar um jogo inspirado em Super Smash Bros., mas que fosse ao mesmo tempo uma homenagem aos videojogos portugueses. A indústria portuguesa tem-se afirmado nos últimos anos e assistimos ao nascimento de personagens que estão a marcar aquele que, para muitos, é o momento de viragem da indústria dos videojogos made in Portugal.

“Adoro Super Smash Bros. e estava num nível mais avançado, em que já estudava estratégias e assim. Como já desenvolvia jogos, sempre tive aquela curiosidade de fazer um jogo de luta que tivesse personagens completamente diferentes umas das outras”, começou por contar o criador português ao FUTURE BEHIND.

Foi assim que nasceu o Super Arrebenta Manos, uma tradução literal do título Super Smash Bros.. José Castanheira levou a sua criação até ao 4Gamers, o evento de gaming que decorreu este fim de semana, em Lisboa. O criativo diz que costuma ser uma presença habitual em eventos de gaming em Portugal e que já está em ‘digressão’ com o Super Arrebenta Manos há quase dois anos.

O jogo é, tal como Super Smash Bros., um título de luta. Contempla 15 personagens de propriedades intelectuais portuguesas diferentes: está lá o Inspetor Zé, está lá o Assassino, está lá a Ashley e também está lá o Bob. Não os conhece a todos? Esse é justamente um dos aspetos positivos deste projeto independente: dar a conhecer, através de um jogo diferente, aqueles que são outros videojogos portugueses.

Além das personagens de outros jogos portugueses, os jogadores também podem escolher cenários que remetem para esses mesmos videojogos.

Aqui há um ponto importante a salientar: Super Arrebenta Manos não é um jogo disponível comercialmente e neste formato, pelo menos, nunca será. Este é um ponto que faz parte do acordo entre José Castanheira e os outros estúdios portugueses para que as suas personagens possam ser usadas. Resumindo, esta bela homenagem aos videojogos portugueses acaba por ser uma experiência rara pois só está disponível num número reduzido de eventos.

É no entanto uma experiência que todos aqueles que puderem, devem experimentar. Além de poderem ser apresentados a personagens de videojogos portugueses que ainda não conhecem, o jogo em si é bastante interessante, dinâmico e divertido.

Cada personagem tem o seu estilo próprio de luta e que respeita a sua ‘forma de ser’ que apresenta no seu jogo original. Por exemplo, a personagem Agnes lança as mesmas bolas que usa em Smash Time para parar os blarghini.

Questionámos José Castanheira sobre se foi difícil conseguir este consentimento por parte dos outros estúdios. “Nós temos uma comunidade em que todos se dão muito bem uns com os outros. Então bastou eles verem o produto final. (…) Bastou enviar, por exemplo, o ecrã de personagens. Alguns também já me conheciam, então facilitou. Não foi muito difícil”.

O desenvolvimento da arte e a programação do jogo foi toda feita por José Castanheira, sendo que a parte sonora foi também ela retirada dos jogos originais, o que reforça a identidade própria não só de Super Arrebenta Manos, como de todos os outros videojogos portugueses.

Faltava apenas colocar a José a pergunta da praxe, sobre como tem sido a reação dos jogadores a este Super Smash Bros. à portuguesa.

“Os lugares estão sempre cheios, o pessoal ri-se e conhecem-se uns aos outros. Pessoas novas que nunca se conheceram, estão a jogar uma contra a outra, a rir, a conversar. Gosto bastante de ver isso com um jogo que é meu, sinto-me bastante orgulhoso”, concluiu.

Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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