Strikers Edge, um jogo fora de horas

Tiago Franco: Vencer os Prémios PlayStation foi um dos melhores momentos claramente, mas julgo que a primeira afirmação em como estávamos a fazer alguma coisa foi…

Filipe Caseirito: O prémio do Pizza Night…

Tiago Franco: Talvez até antes disso….

Filipe Caseirito: Ah pois foi!

Tiago Franco: Foi no primeiro Game Dev Camp na Microsoft Portugal. Pela primeira vez demos o jogo a jogar às pessoas e a reação foi…

Filipe Caseirito: …num ecrã de portátil, só com uma folha A4 colada com fita-cola na mesa com o nome…

Tiago Franco: O jogo na altura nem se chamava Strikers Edge, era o mais genérico Super Battle Arena [risos]. Mas ver a reação das pessoas na altura, os risos, as picardias, os desafios, a intensidade do jogo a traduzir-se com as pessoas a porem-se em bicos de pés e a mandarem saltos, a verbalizarem o que estavam a sentir, para nós foi a primeira reação de que havia ali qualquer coisa que valia a pena perseguir.

Os dois criadores do jogo Strikers Edge recordavam e falavam daquele que foi até agora o momento mais marcante do projeto. Foi ali naquele evento de desenvolvimento de videojogos que o Strikers Edge que agora conhecemos começou a tomar forma.

Durante quase dois anos foi um projeto fora de horas de Tiago e Filipe, que iam conjugando com os respetivos trabalhos a tempo inteiro. No início do ano ganharam os Prémios PlayStation, uma competição promovida em Portugal pela marca de videojogos, e aí tudo voltou a mudar.



“‘Vê lá se é mesmo isso que queres fazer, sei que andavas a fazer isto em part-time e gostas, mas vê lá bem. Nós apoiamos-te, mas vê lá bem isso’”, diziam os pais a Tiago Franco quando a decisão de abandonar o emprego como especialista no desenvolvimento de interfaces de utilização estava iminente.

“Depois houve finalmente o dia em que lá no trabalho disse ‘olha, aquela brincadeira de part-time afinal vai passar a uma coisa a sério a full-time e vou ter que sair’. Até esse dia houve muita ponderação, mas esse foi o dia”.

Diogo em primeiro plano, é programador da Fun Punch Games. Conversa com Filipe sobre alterações ao código do jogo. #Crédito: Future Behind

Agora trabalham a tempo inteiro em Strikers Edge. O lançamento do jogo está previsto para o final do ano, em dezembro. Para quem espera pelo jogo pode parecer uma eternidade, mas para quem o está a desenvolver as horas passam a voar.

Emoções à flor da pele

Apesar de o jogo ter passado de um projeto fora de horas para um projeto de horas mais normais, a verdade é que Strikers Edge continua a ter em si aquele espírito ‘pela noite dentro’, como ficou provado com a sua presença na Electronic Entertainment Expo, o maior evento de videojogos do mundo.

“Irmos à E3 e termos um evento que durou até longa noite, um evento privado que a Sony organizou e sermos o último jogo a ser desligado… quer dizer que já está toda a gente a arrumar e há malta a jogar o nosso e a dizer ‘não, não, não, não desliguem’. É claro que dá um gozo enorme”, diz Ricardo Flores, da empresa B5 Studios – que tem sido parceira no desenvolvimento e na promoção de Strikers Edge – em entrevista ao FUTURE BEHIND.

“Não tens de fazer nada, só tens de ver as pessoas a jogarem e tens de assegurar que tudo funciona…”

“E até os seguranças jogam…”, interrompeu Tiago.

“Exato. No final do jogo quando o trabalho acabou, os seguranças vieram pedir ‘mas dá para jogarmos um bocadinho, estivemos aí a noite toda a ver sem podermos fazer nada, podemos ir jogar?’”.

“Temos um jogo que as pessoas gostam de jogar, divertem-se a jogar e não há nada melhor do que não teres de explicar muito sobre o teu próprio jogo. É ‘toma, joga’. O jogo fala por si. Esta maneira de interagir mostra que o jogo tem tudo para as pessoas se divertirem. É uma galhofa total. A maior parte das vezes as pessoas dão berros, saltam, gritam. Nós só estamos ali a ver. E de repente já não estamos lá, já não tens de dizer em que botões é que se carrega.”, rematou Ricardo Flores a propósito da aceitação que o título tem tido.

A Fun Punch Games já tem um publisher, mas ainda não revela o seu nome

“Dois amigos entraram num torneio, numa picardia total e depois no fim eles cruzaram-se e tiveram de jogar um contra o outro; há um que ganha, abraça o colega e o outro fica a apoiá-lo até ao fim do torneio. Quando o jogo gera este tipo de interações, para mim são as melhores alturas”, recorda Tiago Franco a propósito de um episódio que aconteceu num dos eventos onde Strikers Edge já esteve em demonstração.

Todos estes momentos têm sido especiais para os sete elementos que atualmente estão a desenvolver o jogo – na imagem abaixo só estão quatro. Mas a hora da verdade vai chegar quando o jogo estiver finalmente pronto para ser lançado na PlayStation 4 e também na loja de videojogos para computador Steam.

Da esquerda para a direita: Tiago, Diogo, Ricardo e Filipe #Crédito: Future Behind

Strikers Edge é um jogo claramente vocacionado para um modo com vários jogadores em simultâneo pois parte da sua essência está no combate caótico que rapidamente se gera, mesmo que o jogador seja inexperiente. A Fun Punch começou por aí mesmo, trabalhar a componente online que o título terá quando chegar ao mercado.

Ainda faltam concretizar várias etapas como integrar o modo de ‘festa’ da PlayStation 4 e até o cross-play entre a versão PS 4 e PC, mas a evolução está a correr dentro dos planos. Os seus criadores dizem que o projeto está 65% concluído, a tender para os 70%.

“O desenvolvimento está a correr bem. Ao fim de dois anos estamos prestes a ter uma segunda arena (risos). Quem tem seguido o jogo tem visto sempre o mesmo verde, para nós é uma grande vitória finalmente mostrar, quase mostrar, uma segunda arena”, atirou Filipe Caseirito. Aqui fica um sneak peek dessa arena:

Depois da relva, um ambiente mais gelado. #Crédito: Fun Punch Games

Ao todo os jogadores vão poder contar com seis arenas de jogo e um total de oito jogadores. A equipa também vai trabalhar em pacotes de expansão que permitirão manter ativo o interesse no jogo muito depois do seu lançamento. Mas já que falamos nos planos de desenvolvimento, há a considerar o facto de uma nova PlayStation estar iminente.

A propósito da chegada da PlayStation 4 ‘Neo’ e de como a equipa terá de adaptar-se ao sistema de jogo, Ricardo Flores respondeu com boa disposição: “Não estamos a prever nesta fase fazer update para 4K, podes estar descansado”.

Isto porque Strikers Edge é um jogo que dada a sua arte pixelizada e inspirada no retrogaming não coloca grande pressão no hardware, ou seja, uma PlayStation mais poderosa não terá grande impacto no desenvolvimento do projeto pois o consumo de recursos continuará a ser reduzido.

Se a esta hora está a perguntar como é que um jogo vencedor dos Prémios PlayStation chega também ao Steam, bem, isso está relacionado com as oportunidades de mercado.

“Como o jogo é para ser multiplayer, a massa de jogadores que se consegue em ambas plataformas é muito maior, mesmo quem adquire na PlayStation acaba por beneficiar de mais jogadores a jogarem. Acho que até a própria PlayStation percebe isso, até pelo caso do Rocket League que foi o primeiro grande ícone de cross-play, e que pelos vistos correu super bem, quer do lado dos programadores, quer mesmo do sucesso que teve na PlayStation”, salienta Filipe Caseirito.

Lutas bárbaras com mind games

Quando criaram o protótipo do jogo num game jam o objetivo era mesmo esse: trazer à vida uma produção divertida e na qual as pessoas pudessem atirar objetos umas às outras. No seu sentido mais puro Strikers Edge é uma adaptação do eterno Jogo do Mata, aquele ensinado nas escolas e que consiste em atirar a bola contra a equipa adversária até fazer com que perca todos os seus elementos.

Depois, claro, entra a parte da inspiração de quem já convive há vários anos com o segmento dos videojogos. “As nossas inspirações vão desde o Windjammers, o clássico das arcadas, passando por TowerFall, passando por montes de jogos com modo de jogo local. Outro jogo de inspiração foi Lethal League. Até houve montes de jogos que nós descobrimos depois de começarmos o nosso e depois acabámos por ir beber alguma informação“, explica Tiago Franco.

Já vimos e já conhecemos o background de Strikers Edge, faltava jogá-lo. Durante a nossa visita ao ‘quartel-general’ dos Fun Punch Games, em Lisboa, experimentámos o jogo.

Primeiro num duelo mano-a-mano com Filipe Caseirito – que nem nos correu mal para principiantes! – e depois num modo multijogador com Tiago e Ricardo à mistura. Foi com quatro pessoas na arena de jogo que vimos o potencial que um título destes poderá ter, por exemplo, se chegar a ser incluído nas ofertas do PlayStation Plus.

As mecânicas de jogo são bastante simples de assimilar e em bom rigor o jogador vai apenas precisar de controlar os botões direcionais e os gatilhos L e R do comando da PlayStation. Podemos avançar ou recuar no terreno, arremessar a arma – que difere de personagem para personagem – ou defender os ataques inimigos com um escudo. Podemos preparar um ataque especial que tem um dano maior no inimigo e também podemos andar às cambalhotas pelo chão para evitar levar com uma seta na cabeça.

Quando chegar ao mercado Strikers Edge deverá custar entre 15 a 20 euros

O jogo transforma-se rapidamente numa dança e numa sucessão de falhanços pois como é óbvio ninguém vai ficar parado à espera do ataque do inimigo. É aqui que nos apercebemos que Strikers Edge funciona um pouco como os jogos da saga Virtua Tennis – é preciso tentar calcular qual será o comportamento do inimigo se queremos acertar-lhe, caso contrário será um belo jogo do gato e do rato.

A diversão está lá, a emoção também, os efeitos sonoros ajudam a criar o resto da atmosfera. É um jogo de ‘boas rivalidades’ e que envolve muita mais estratégia do que aquela que seria de esperar à primeira vista. Filipe Caseirito explicou que essa será uma das vertentes que os jogadores vão gostar de descobrir pois os jogadores vão poder adotar estratégias diferentes e começar a aprender combinações de movimentações que vão fazer os adversários cair em armadilhas.

O jogo não está pronto e precisa de limar arestas – durante o modo multijogador local era difícil distinguir as setas entre elementos da mesma equipa, por exemplo -, mas já está mais do que preparado para uma nova etapa.

‘Sai mais uma personagem para Strikers Edge por favor!’ #Crédito: Future Behind

“Agora chegou o momento de abrir as portas. Não valia a pena fazê-lo antes porque íamos estar demasiado tempo calados. A partir deste momento, a partir de meados de agosto, temos que ter um fluxo cada vez mais constante de informação para quem está interessado no jogo e fazer com que as pessoas se interessem por Strikers Edge”, explicou Ricardo Flores.

Tiago Franco considera que “um jogo é feito para ser divertido ou com determinadas componentes competitivas”. Strikers Edge parece ter as duas, o que pode ser um indicador de sucesso. Para isso terá de resistir ao sempre difícil mês de dezembro pois apesar de ser uma altura boa para os videojogos, a prioridade de investimento dos consumidores está num segmento de jogos que não os independentes.

Se dezembro correr bem e passarmos o teste de dezembro é uma batalha ganha, sem dúvida. Mas estamos preparados para fazer mais uns meses de guerra”, concluiu Ricardo Flores.

Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
Artigo sugerido