Cyber Dust, poeira cibernética? Como é? Isto é alguma experiência tecnológica futurista?
Quem sabe. O que podemos dizer é que está a ser feita por Ryan Ozonian e conta com o apoio de nada mais, nada menos, Mark Cuban, um dos conhecidos ‘tubarões’ do programa televisivo norte-americano Shark Tank.
O Cyber Dust é um serviço de mensagens que tem grande parte do seu foco na privacidade dos utilizadores. Sim, sim. Sabemos que é o que todos dizem. Mas depois de percebermos um pouco melhor como funciona, ficamos mais convencidos.
Na prática é uma aplicação de messaging que faz com que as mensagens dos utilizadores desapareçam pouco tempo depois de serem enviadas. Ao estilo do Snapchat. A diferença está no sistema tecnológico usado e que faz com que as mensagens dos utilizadores fiquem na memória temporária dos smartphones e dos servidores, isto é, ficam em RAM. Ou seja, depois de lidas e apagadas não há volta a dar, sendo praticamente impossível a quem quer que seja aceder a alguma das mensagens posteriormente.
“A privacidade está a tornar-se uma questão muito importante nos nossos dias. Em primeiro a quantidade de dados que envias e que é armazenada numa base diária é de loucos. Tudo o que comunicas, tudo o que escreves, toda a informação é armazenada num servidor ou num dispositivo”, explicou Ryan Ozonian em entrevista ao FUTURE BEHIND, durante a Go Youth Conference 2016.
“É incrível o que o governo e outras entidades podem encontrar sobre ti. As pessoas não se apercebem pois está tudo a acontecer por trás da cortina, mas as empresas e o governo, se assim quiser, estão a recolher toneladas de dados sobre ti cada vez que usas o smartphone”, acrescentou.
E como o delator norte-americano Edward Snowden já mostrou, esta é de facto a realidade e não estamos aqui no domínio das teorias da conspiração.
Outras aplicações de comunicação como o WhatsApp também asseguram níveis de privacidade elevados. Neste caso não através do desaparecimento das mensagens, mas através da encriptação dos conteúdos. Ainda assim este é um sistema que pode ser contornado, explica Ryan Ozonian.
“Se escreveres algo na memória permanente e apagares da memória permanente, mesmo que a encriptes fortemente, ainda é ‘encontrável‘. Podes encontrar tudo o que toca um disco rígido. E tudo o que encriptas, tu podes desencriptar, independentemente de quão forte é a encriptação. Mesmo que escrevas códigos para mascarar os dados, consegue ser encontrado. É como se desfizesses uma folha de papel em mil pedaços – ainda podem ser colocados de novo no sítio. Mas apagar algo da RAM é como queimar um pedaço de papel. Não o consegues recuperar. Já foi. Essa é a grande diferença”.
Tivemos de perguntar: isso quer dizer que a Cyber Dust é à prova da Agência Federal de Investigação (FBI na sigla em inglês)? “Depois de uma coisa desaparecer da memória – a não ser que alguém tenha uma solução milagrosa -, sim. Depois de desaparecer, desaparece. Do FBI, da NSA… ninguém a consegue encontrar”, assegurou.
Por falar em FBI, Ryan Ozonian comentou também o caso de privacidade que colocou a força de segurança contra a Apple. “Concordo com a Apple. Uma vez que escrevas o código para desencriptar ou descodificar um modelo de segurança no qual gastaste anos a construir, se uma pessoa tiver acesso deixa dezenas de milhares de pessoas em risco. É por isso que a Apple diz ‘vão-se lixar, não vamos dizer como desbloqueá-lo’”.
“Não podes andar para trás na inovação. É como a situação aqui em Portugal de os taxistas ficarem zangados com a Uber. Está feito. Acabou. Aceitem-no. Vamos falar sobre o assunto e encontrar soluções positivas para estas inovações e para as pessoas que são afetadas por elas”, disse ainda, fazendo alusão ao protesto dos taxistas que aconteceu justamente no dia em que chegou a Portugal.
Apesar das vantagens que proporciona a Cyber Dust ainda não é uma aplicação de escala mundial. Atualmente soma dois milhões de utilizadores e é responsável pelo envio de cinco milhões de mensagens diariamente entre os seus utilizadores. Mas vai haver uma transformação para que possa haver uma maior expansão.
De toda a mudança só vai ficar Dust
Esta é uma das novidades: à partida o serviço vai deixar cair a designação cyber e passará a ser apenas Dust. A transformação vai chegar também ao modo de funcionamento e ao aspeto geral da aplicação móvel que está disponível para iOS, Android e Windows Phone.
“Para chegarmos ao próximo nível vamos fazer um redesenho completo, vamos manter as mensagens disponíveis um pouco mais de tempo porque algumas pessoas estão a ter dificuldade em manter conversações. E como as mensagens vão ficar disponíveis um pouco mais de tempo, vamos permitir que a pessoa que envia a mensagem possa apagar mensagens do dispositivo da pessoa que as recebe, mesmo depois de terem sido enviadas. Assim mantêm-se em controlo”, adiantou o jovem empreendedor e que já figurou na lista da Forbes dos mais influentes com menos de 30 anos.
No campo da privacidade haverá ainda suporte para um modo de comunicação em rede mesh [bastam as tecnologias de rede como o Wi-Fi ou o Bluetooth para que os utilizadores possam comunicar entre si], o que permite que as mensagens sejam trocadas sem que toquem num único servidor, ficando assim salvaguardada a grande preocupação do diretor executivo da Cyber Dust.
Modo de vida: nadar com um tubarão
Mark Cuban é um dos maiores empreendedores norte-americanos e apesar de ter um vasto portfólio de empresas sob a sua batuta, tem tendência para gostar da área tecnológica.
Ryan Ozonian começou a trabalhar com Mark Cuban depois de lhe ter enviado um email apenas com uma fotografia da sua cara. Recebeu resposta a dizer que era um homem bonito e a partir daí desenrolou-se toda uma ligação em torno de um serviço tecnológico e que tem em conta a questão da privacidade.
Como é afinal trabalhar com um dos tubarões do tão conhecido programa Shark Tank?
“Se gostas de dormir não é engraçado. Mas é bom. Ele tem uma grande visão, consegues ver como as coisas vão acontecer. É bom a prever qual é a próxima tendência. Ele é muito envolvido numa base diária. Não atira apenas dinheiro para os projetos e fica à espera que os seus fundadores descubram como fazer aquilo funcionar. Não apenas com o Cyber Dust, mas com todos os seus investimentos”, disse o CEO do serviço.
Ryan Ozonian considera que ele e Mark completamentam-se “muito bem” e explica que o milionário e também dono de uma equipa de basquetebol, os Mavericks, é o primeiro a arregaçar as mangas.
“É bom ver alguém com tal notoriedade, dinheiro e poder a ser capaz de nos apoiar como se fosse um outro cofundador. Quando ele diz que tens de moer, ele também mói. Trabalha até às tantas da manhã, está sempre em cima dos projetos, sempre a trabalhar. É divertido”, concluiu.