Primeiro contacto com a Nintendo Switch: O poder da liberdade

Faltam exatamente 16 dias para a chegada da Nintendo Switch ao mercado. No dia 3 de março abre-se um novo ciclo no que diz respeito às consolas domésticas: pela primeira vez uma empresa cria um conceito de consola híbrida que tanto pode ser jogada no televisor como em qualquer outro local – seja nos bancos da escola, sentado à beira da praia e durante uma viagem de comboio.

Dos vídeos oficiais da Nintendo tinha ficado a ideia de um conceito diferenciador e de um hardware que é único. Esta semana tivemos a oportunidade de testar a Nintendo Switch e alguns dos seus jogos durante três horas. Nestas nossas primeiras impressões vamos focar-nos acima de tudo na questão do hardware pois sobre os diferentes títulos apenas conseguimos obter uma ideia superficial.




Em bom rigor a Nintendo Switch é tudo aquilo que a Nintendo promete nos seus vídeos. É versátil, é colorida, é apelativa, é diferente. Numa altura em que o hardware de consumo rapidamente fica uniformizado – basta olhar para smartphones, tablets, smartwatches, colunas inteligentes e consolas -, a Switch é uma lufada de ar fresco.

A consola em si é o equipamento que se assemelha a um tablet de pequenas dimensões e com controladores nas laterais. É aqui que está todo o poder de processamento, todo o poder gráfico e todo o sistema de refrigeração, ainda que este último não funcione na totalidade das suas capacidades quando em modo portátil. Só quando a Nintendo Switch está conectada à doca é que é ativada uma segunda ventoinha, o que permite à consola atingir um nível de processamento mais elevado – razão pela qual os jogos na doca são executados em Full HD e em modo portátil apenas em HD.

Além desta função, a doca serve apenas para carregar a consola e para transferir o sinal da mesma para o televisor. Tudo isto é feito através de uma ligação USB-C. Relativamente à doca resta dizer que é agnóstica, ou seja, suporta diferentes Nintendo Switch e não apenas o modelo que vem de origem na caixa.

Tínhamos uma grande curiosidade para ver como é que a consola se portava nos processos de transição, isto é, quando é colocada na doca ou então quando é retirada. Quando coloca a Switch na doca, a imagem demora cerca de três segundos a passar da consola para o televisor. Mas quando faz o inverso, retirar a consola da doca, então a imagem passa de forma instantânea para o ecrã da consola.

Pura magia. Se este não é o sonho de qualquer jogador, então têm de nos contar que outros sonhos é que andam por aí. Estar confortavelmente sentado a jogar Splatoon 2, por exemplo, poder pegar na consola e logo no centésimo de segundo a seguir poder prosseguir o jogo em modo portátil e em qualquer lugar é um grande feito não só para a Nintendo, como para o mundo dos videojogos.

A Nintendo Switch propriamente dita é leve, fácil de segurar e ergonómica. Apesar de ter o mesmo tamanho de ecrã que o Gamepad da Wii U, a Switch acaba por ser muito mais pequena. O ecrã de 6,2 polegadas tem resolução HD, o que parece-nos pouco sabendo que o Full HD está mais do que democratizado noutros dispositivos móveis.

Apesar deste facto, a verdade é que não podemos apresentar grandes críticas ao ecrã da Switch. O tamanho é generoso o suficiente para permitir uma experiência de conteúdos rica, tem uma boa reprodução de cores e os elementos apresentam-se todos com bom recorte. Mesmo não sendo Full HD, acaba por não deixar muito a desejar. Não sabemos como é o desempenho deste ecrã quando utilizado ‘fora de portas’ pois o primeiro contacto foi feito nos escritórios da Nintendo Portugal.

Em modo portátil experimentámos Mario Kart 8 Deluxe, Splatoon 2 e também um pouco de The Legend of Zelda: Breath of the Wild. Claro que a Nintendo tem estes jogos otimizados para o seu hardware, mas são jogos que têm bom aspeto. São jogos que graficamente estão muito acima daquilo que é feito nos melhores smartphones e tablets da atualidade. A Nintendo Switch não vai ter capacidade para apresentar a mesma riqueza visual de outras consolas rivais, mas esse não é o objetivo da Nintendo: o foco está todo na experiência do jogador e o conceito da Switch transparece isto de forma clara.

Em termos de conceito visual a Switch é uma consola portátil ao estilo da PlayStation Vita da Sony, ainda que a construção da Switch seja pouco premium quando comparada com a Vita. Mas a Switch destaca-se e muito pela sua quantidade de ‘truques’ e funcionalidades.

Em cada lateral da consola existe um comando removível Joy-Con. Diríamos que além da versatilidade do modelo híbrido da consola, este é o grande elemento diferenciador da Switch. Para começar é uma consola que traz de origem, sempre, dois comandos. Quantas consolas é que fizeram isto?

Isto resolve um grande problema que afeta os jogadores sobretudo na fase inicial de um novo sistema de jogo que é não ter dois comandos disponíveis. Com a Switch a partir do momento em que a tira da caixa vai poder partilhar as experiências de jogo com alguém da família ou com um amigo. Um grande ponto a favor do sistema de jogo da Nintendo.

Os Joy-Con em si aparentam ser tecnologicamente pouco ambiciosos: são simples, muito leves e com uma construção toda em plástico. Mas não se deixe enganar pelo look and feel dos comandos. Estão apetrechados de tecnologia de ponta.

Na parte traseira existe um pequeno botão preto que é o botão que permite que os comandos sejam removidos da consola. Tirar os comandos é relativamente simples e não exige muito esforço, ainda que esta não seja uma experiência totalmente sem atrito. Para tirar os Joy-Con pressiona o botão, faz um pouco de força e puxa os Joy-Con.

Já colocar os Joy-Con na consola resulta numa melhor experiência, com os comandos a encaixarem perfeitamente nas laterais do ecrã e a deslizarem sem qualquer dificuldade. Quando ouvir o ‘clique’ sabe que está corretamente posicionamento. Este clique é também um dos pormenores positivos da consola: é um feedback que resulta muito bem e que dá aquela sensação de ‘máquina operacional, avançar para três horas de jogo’.

O mesmo botão preto que serve para soltar os Joy-Con é o mesmo usado para soltar o módulo que acrescenta a correia para colocar à volta do pulso. Este módulo, além da correia, acrescenta proeminência aos botões traseiros que estão incluídos em cada Joy-Con.

Sem este módulo, os botões traseiros dos Joy-Con são pequenos e isso nem sempre vai resultar em jogabilidade precisa.

O tamanho reduzido geral dos Joy-Con é também um elemento que acaba por merecer um reparo. Os comandos são confortáveis e são ergonómicos, mas pessoas que têm as mãos grandes ou os dedos muito grossos podem ter dificuldade ou em segurar o comando ou em conseguir controlar com agilidade os seus botões pequenos.

Quando estão separados, o único botão direcional do Joy-Con é um stick, o que também pode não agradar aos mais ‘tradicionalistas’ que gostam de ter um D-Pad sempre disponível. Mas quando estão os dois comandos ‘colados à consola’, o Joy-Con da esquerda já funciona também como D-Pad.

Ainda assim, esta foi uma solução muito engenhosa por parte da Nintendo pois consegue fazer muito em pouco espaço. A versatilidade dos Joy-Con quase que ajuda a esquecer estes pequenos pormenores que podem ser negativos em situações mais específicas.

Dentro dos Joy-Con a Nintendo colocou ainda um sistema de vibração em HD. Podemos tentar descrever aquilo que sentimos, mas dificilmente as palavras conseguirão exemplificar de facto o verdadeiro potencial da tecnologia.

Numa das experiências era preciso descobrir quantas esferas de metal existia dentro de uma caixa. Claro que não havia caixa nenhuma, muito menos esferas: o Joy-Con é que simulava estas sensações. Vire o comando de um lado para o outro e vai sentir, de facto, as esferas a tombar de um lado para o outro dentro dos Joy-Con. É um novo nível de realismo háptico e que nunca foi visto ou sentido noutro dispositivo da sua categoria ou com este tamanho.

A Nintendo explora as potencialidades da vibração de alta definição através do seu jogo 1-2 Switch. Mas o verdadeiro potencial desta ferramenta terá de ser desbloqueada pelos estúdios que desenvolvem videojogos para a Switch. A tecnologia é impressionante, portanto se não a aproveitarem será um desperdício.

A precisão da deteção dos movimentos feita pelos Joy-Con também é muito boa. Numa outra experiência do jogo 1-2 Switch era necessário rodar o disco numérico de um cofre que dá acesso à sua combinação de abertura. Aqui deu para perceber que os comandos são bastante precisos pois esta é uma experiência que vive de precisão. Mesmo que encontre o número certo, mas se mexer um pouco os Joy-Con, o jogo não vai considerar a ‘resposta’ como correta.

Noutro jogo, em ARMS, foi possível atestar que os Joy-Con também detetam bem a velocidade dos movimentos. Se fizer uma sucessão de golpes rápidos, as personagens vão replicar esses movimentos pois os Joy-Con registam tudo o que é feito. Cruze os braços para fazer uma defesa e logo a seguir a personagem vai fazer o mesmo.

Esta liberdade que os Joy-Con permitem é claramente uma evolução relativamente ao que existia na Nintendo Wii – maior precisão e comandos muito mais pequenos. Esta liberdade é algo que atualmente só os sistemas de realidade virtual permitem – com a vantagem de na Switch não precisar de um capacete para ter acesso aos jogos.

Além dos Joy-Con na consola e em modo ‘desconectado’, experimentámos ainda os comandos no seu suporte – quando combinados resultam num comando de estilo mais tradicional. Neste aspeto não é um comando tão ergonómico como o Xbox One Controller ou o Dual Shock 4, mas cumpre bem a sua missão, sobretudo para descanso das mãos. Caso prefira há ainda um comando mais tradicional e que é dedicado para os jogadores que procuram um controlador mais profissional.

Ficamos positivamente surpreendidos pelo modo multijogador local que suporta até oito consolas em simultâneo. Numa experiência conjunta com outros elementos de publicações tecnológicas tivemos acesso a Splatoon 2. Nas partidas realizadas não houve qualquer quebra de performance ou lag.

A Nintendo ainda não detalhou que tecnologia Wi-Fi utiliza para garantir estes níveis de desempenho, mas certamente não faltarão interessados em replicar este sistema de jogo robusto a outras plataformas.

Houve outros aspetos da Nintendo Switch que não foram possíveis testar – como o interface do sistema operativo que equipa a consola, o modo de jogo que divide o ecrã em dois e o tempo de autonomia da consola. Estes serão elementos que terão de ser avaliados numa análise mais extensa à consola.

Deste primeiro contacto com a consola ficam duas ideias: a Nintendo Switch é de facto diferente daquilo que existe atualmente no mercado, em conceito e em hardware; o facto de a consola permitir um modo de jogo tradicional e um modo de jogo ao estilo da Wii é um grande convite para os estúdios desenvolverem experiências de jogo diferentes.

A Nintendo Switch é uma consola doméstica que pode ser jogada como portátil, algo que é único atualmente no mercado dos videojogos. Mas depois de experimentarmos a consola ficamos justamente com a sensação contrária: a Nintendo Switch parece ser em primeira linha uma consola portátil que pode ser ligada a um televisor quando o utilizador quer uma experiência de jogo visualmente mais rica e imersiva.

Não temos ainda elementos suficientes para podermos dizer com confiança se este é ou não um bom investimento, mediante os 330 euros que são pedidos. Mas que a Nintendo Switch promete, lá isso promete.

Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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