Primeiro contacto com os HoloLens: elevar a realidade aumentada a um novo patamar

Estávamos sensivelmente a meio da entrevista quando o diretor de inovação da IT People Innovation, Nuno Silva disse: “O Rui não vai sair daqui enquanto não experimentar os HoloLens”. Passam muitas respostas pela cabeça: ‘deixe estar, não se incomode’, ‘fica para outra altura’, ‘já sei mais ou menos como é que são’, mas acaba por sair a única que é sentida: “até agradeço que assim seja”.

Os Microsoft HoloLens foram apresentados oficialmente em janeiro de 2015. Quer isto dizer que já lá vai mais de ano e meio desde que a tecnológica revelou pela primeira vez estes óculos de realidade aumentada. Mas a verdade é que nos primeiros tempos o equipamento esteve fechado a sete chaves e inacessível a quem quer que fosse externo à Microsoft.



Uma maior abertura só chegou no início deste ano quando a tecnológica norte-americana disponibilizou o equipamento para compra por parte dos programadores interessados. Apesar do preço leónico, 3.000 dólares, várias empresas listaram-se de imediato para terem acesso não só a um dos gadgets mais exclusivos da atualidade, como a um equipamento que prometia transformar a realidade aumentada.

A Microsoft não diz que os HoloLens são óculos de realidade aumentada, chama-os de dispositivo de realidade misturada. Os conceitos são discutíveis, mas a base é a mesma: colocar elementos digitais perante os nossos olhos por forma a fazer parecer que são parte do mundo real.

“Neste momento trabalhamos com HoloLens também. Somos parceiros oficiais da Microsoft nos HoloLens. […] O que é isto vem ajudar e vem complementar aquilo que andamos a fazer? É a visão. São uns óculos que complementam a realidade. Quero colocar um elemento digital, não preciso de estar completamente distante da realidade”, detalhou Nuno Silva.

Anteriormente já o executivo da IT People tinha partilhado qual a reação dos elementos da empresa quando foram revelados os HoloLens:

“Qual foi a nossa reação [apresentação dos HoloLens]? Fantástico, queremos uns, queremos ser parceiros, queremos desenvolver. Queremos fazer com que o nosso ARchitect funcione nos HoloLens”.

A entrevista estava prestes a chegar ao fim e eis que entra na sala de reuniões o responsável da IT People pela área de Investigação e Desenvolvimento, Rui Milagaia. Trazia nas mãos nada mais, nada menos do que os HoloLens.

Hora do recreio

A IT People Innovation deu-me a oportunidade de experimentar os HoloLens e algumas das aplicações nativas que vêm com o equipamento. Mas primeiros algumas referências relativamente ao hardware.

Os HoloLens têm um impacto visual menor do que aquele que contava encontrar tendo em conta as apresentações que a Microsoft já fez do produto. Ao vivo não é tão espalhafatoso, bem pelo contrário.

O capacete de realidade aumentada é uma peça de hardware bem trabalhada, com requinte visual e com bons materiais de construção. É robusto, não é exageradamente pesado e é bastante flexível a nível de ajustes.Por outro lado corresponde a tudo o que pensava do equipamento em termos de tecnologia. Apesar do aspeto sóbrio, uma atenção maior aos pormenores – e pode vê-los aqui – revelam um equipamento apetrechado de tecnologia. Existem várias lentes e vários sensores de imagem distribuídos pela parte frontal dos Microsoft HoloLens que farão qualquer pessoa, até um desconhecido relativamente ao gadget, perceber que está perante um dispositivo diferente.

Tive sempre ajuda na colocação dos óculos – afinal estamos a falar de um equipamento de 3.000 dólares -, mas eram apenas precisos alguns segundos para deixar o dispositivo alinhado com a minha visão.

Em termos de ergonomia a Microsoft parece ter criado já aqui um sistema bastante coeso: o aro externo ajusta-se na dimensão, enquanto o aro interno ajusta-se em verticalidade. As cabeças não são todas iguais, mas os HoloLens parecem estar talhados para serem usados por qualquer pessoa.

A seguir dei os primeiros passos na aprendizagem dos comandos que controlam a interação com os óculos. É possível controlar algumas ações com um pequeno comando remoto, mas no meu caso foi tudo controlado através de gestos manuais.

Durante os cerca de 20 minutos que tive de experiência com os HoloLens o sistema de reconhecimento gestual do equipamento pareceu-me bastante preciso: não a 100%, tanto que até existe ao início uma tendência natural para aproximar as mãos do corpo e nesse caso os óculos não têm tanta capacidade de reconhecimento, mas tem precisão mais do que suficiente para garantir uma experiência de utilização já aperfeiçoada.

Navegar pelos conteúdos é tão simples como olhar à sua volta. Neste caso estava numa das salas de reuniões da IT People que já tinha sido mapeada pelos óculos, havendo de tudo um pouco espalhado: planetas, astronautas, um cão, um nome e várias janelas web abertas.



Os HoloLens têm esta capacidade: de semi-imersão e de ao mesmo tempo deixar-nos perante o mundo físico ao qual estamos habituados.

Experimentei uma viagem por Roma através da aplicação HoloTour, experimentei o Galaxy Explorer que permite ficar a conhecer melhor o Sistema Solar e experimentei também o jogo RoboRaid. Apesar de todas encaixarem nos conceitos de realidade aumentada, todas elas são diferentes na forma como apresentam os conteúdos.

A demonstração mais dinâmica de todas foi sem dúvida a do jogo RoboRaid. Além de me colocar a mexer, pois existem ‘literalmente’ monstros a sair de todas as paredes à nossa volta, foi também a que apresentou um maior grau de realismo e que mostra o verdadeiro potencial da realidade aumentada.

Os efeitos das paredes a quebrarem-se já estão muito bem conseguidos e o utilizador pode até chegar junto desses ‘buracos digitais’ e espreitar para ver o que existe lá dentro – quando na realidade não estamos mais do que a aproximar-nos e a olhar para uma parede branca.

Deixámos aqui um vídeo partilhado pela Microsoft relativamente a esta experiência pois além de ajudar a perceber como funciona o jogo, ajuda também a entender um outro aspeto:

Quando vi as apresentações dos HoloLens, como esta aqui, sempre achei que o grafismo mostrado parecia demasiado exagerado, demasiado perfeito. Na realidade havia de ser algo completamente diferente, de mais baixo nível pensei eu. Por um lado é verdade, ou seja, ainda não é uma experiência visualmente rica e bem polida como a que se vê no vídeo, mas por outro lado acabou por surpreender pela positiva.

Em termos de qualidade dos conteúdos os HoloLens já estão num estado avançado de desenvolvimento. Existem algumas falhas por corrigir – há experiências onde os conteúdos estão limitados a uma janela à frente dos nossos olhos e isso ‘corta’ o espírito de imersão, ainda que no geral a experiência já seja bastante enriquecedora.

O que mais surpreendeu foi o detalhe das criações digitais, o seu dinamismo pois raramente estão estáticas e também a sua capacidade de fixação. Explicando: na experiência Galaxy Explorer podemos andar em torno do Sistema Solar que todos os seus elementos mantêm o mesmo posicionamento. Aproximo-me, afasto-me e parece de facto que está ali algo ‘físico’.

Outro elemento que foi surpreendente pela positiva é a forma como conseguimos manipular os elementos digitais. Logo no início da experiência Rui Milagaia disse-me que havia um cão à minha direita. Bastou rodar a cabeça e lá estava ele.

Com apenas alguns movimentos – selecionar o objeto, selecionar as arestas para aumentar o tamanho – o animal passou de um tamanho normal, para um canzarrão. E não foi por isso que perdeu qualidade, ou seja, os hologramas da Microsoft acabam por funcionar como objetos vectoriais. Pode esticá-los que vão sempre manter uma proporção correta entre tamanho-definição.

Destaque ainda para o facto de os HoloLens terem duas colunas embutidas e que reproduzem um bom som, posicionando-se mesmo por cima das orelhas e entregando com um volume generoso a parte sonora da experiência.

Ao fim de 20 minutos a olhar para diferentes elementos e de andar de um lado para o outro acabei por sentir algum cansaço nos olhos e também no pescoço, mas nada de muito significativo. A ergonomia dos HoloLens já está bem trabalhada e se estiver mesmo dedicado aos conteúdos de realidade aumentada então vai esquecer-se do ‘capacete’ que tem na cabeça.Para um primeiro contacto com os HoloLens a impressão que fica é francamente positiva. Mas também já tinha gostado do que tinha experimentado com os Google Glass e viu-se o que aconteceu ao projeto, simplesmente desapareceu.

Ainda é cedo para dizer que os HoloLens ou algo semelhante será o próximo grande gadget. Será preciso muitos anos até termos equipamentos de realidade aumentada mais mainstream. Mas pelo menos já temos provas de que as empresas estão a trabalhar em hardware de qualidade e que já conseguem entregar bem a promessa de fusão de conteúdos digitais e mundo físico.

No final tudo dependerá dos conteúdos que existirem. A Microsoft ainda não posicionou claramente os HoloLens – se vão ser focados no empresarial ou na área do entretenimento. Enquanto não se decide vão sendo criadas experiências das duas áreas e isso é importante para ajudar a despertar atenções para esta tecnologia.

Mas sem dúvida que a Microsoft tem entre mãos um equipamento único, não só nas características como nas experiências que proporciona.

Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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