Primeiro contacto com o BlackBerry KEYone: Ainda há espaço para smartphones assim

Não podemos considerar o BlackBerry KEYone como uma surpresa – o equipamento em si já tinha sido mostrado durante o Consumer Electronic Show, em janeiro. Mas ver o novo BlackBerry e mexer de facto nele são duas realidades completamente diferentes. O fabricante do dispositivo até pode ser outro – a TLC Communication -, mas a química da BlackBerry está toda lá.

O Keyone é um dispositivo diferente, não apenas pela inclusão de um teclado físico, mas pelo facto de ser mais comprido do que a maioria dos smartphones. Esta escolha de form factor e o facto de o telemóvel estar dividido em duas metades conferem-lhe uma personalidade muito própria.




Em termos visuais e de construção o BlackBerry KEYone é um vencedor. O dispositivo é bastante sólido, tem bons acabamentos e também tem uma boa ergonomia. A parte traseira, apesar de ser em plástico, foi trabalhada por forma a trazer uma maior aderência, assim como um maior impacto visual ao equipamento.

Não gostamos especialmente do disco metálico que foi implementado para colocar em evidência o sensor fotográfico – uma escolha mais sóbria faria mais sentido num dispositivo como este. Além do mais, o equipamento está mais inclinado para uma linguagem retangular, pelo que este círculo destoa um pouco.

Mas se a TLC Communication disser que este círculo é necessário para garantir a qualidade fotográfica que o smartphone apresenta, então ficamos com as pazes feitas. A ficha técnica diz que o BlackBerry KEYone tem o mesmo sensor fotográfico do Google Pixel – não testamos ainda a câmara do smartphone da Google, mas a do BlackBerry deixa indicações muito positivas.

A iluminação no stand da BlackBerry não era particularmente feliz, mas até calhou bem pois permitiu perceber que mesmo em condições deficitárias de iluminação, o KEYone porta-se bastante bem. As imagens têm bastante claridade, muita nitidez, o sistema de focagem é rápido e o disparo também é bastante veloz. Faltou algum contraste às fotografias, mas só um teste mais aprofundado permitiria perceber melhor se era das condições disponíveis ou se é mesmo do equipamento.

O desempenho geral do smartphone é muito bom. A resposta do software é veloz, apesar das personalizações que foram feitas para acomodar o BlackBerry Hub, a tecnologia Dtek e outras costumizações – por exemplo, o separador com as aplicações que estão em segundo plano é muito diferente daquela que existe nos restantes smartphones Android.

Parece-nos que neste ponto já se nota bem o dedo da TLC Communication – a empresa tem muito mais experiência na otimização de software, sobretudo em equipamentos de gama média, pelo que consegue extrair um grande potencial apesar do processador ser ‘apenas’ um Snapdragon 625 – muito longe do todo-poderoso Snapdragon 835 que já existe, por exemplo, no Sony Xperia XZ Premium.

Ainda assim, apesar do chip não ser de última geração, não vimos qualquer falta de performance na nossa curta experiência com o BlackBerry KEYone.

Mas se abriu este artigo então deve estar sobretudo interessado em saber o que achamos do teclado físico do equipamento. Em primeiro lugar admitimos que é difícil voltar a escrever num teclado físico depois de muitos anos apenas dedicados aos teclados virtuais.

Mas ao fim de alguns minutos o ‘jeito’ já estava apanhado. Apesar da dimensão reduzida das teclas, elas são bastante precisas e acabamos por conseguir ter uma experiência de escrita que é quase tão rápida como aquela que temos nos teclados virtuais. O som, aquele som característico das teclas BlackBerry e a sua a resposta física, são sempre pontos extra na experiência de utilização.

A questão é que nem é tanto na parte da escrita que estão as principais funcionalidades deste teclado. Gostamos imenso do facto de reconhecer movimentos, o que nos permite controlar a navegação numa página web ou numa galeria diretamente a partir do teclado – basta mover os dedos sobre as teclas como se em conjunto fossem um trackpad.

A experiência não é totalmente precisa, pois provavelmente o software ainda precisa de alguma afinação. Mas vai fazer com que carregue muito menos vezes no ecrã do que aquelas que carrega atualmente.

Há no entanto um problema: os botões virtuais do Android estão colocados logo acima do teclado físico e quando estamos a navegar em páginas web muitas vezes os dedos fogem para estes botões virtuais – o que nos faz saltar fora da página, por exemplo. Esta é uma questão que a TLC Communication ainda tem tempo de corrigir e que precisa de facto de uma correção.

Apesar de termos experimentado apenas a versão inglesa, o teclado preditivo e os seus gestos associados também funcionaram bastante bem.

Olhando no geral para a proposta de valor que o BlackBerry KEYone apresenta, o equipamento deixa umas primeiras impressões muito positivas. Não é preciso ser um executivo ou um fã de longa data da BlackBerry para ter interesse neste equipamento – é bonito, é prático, é rápido e tem uma grande câmara fotográfica.

Agora o preço que a TLC Communication escolheu para o KEYone, a rondar os 600 euros, é que nos parece desajustado. O smartphone não é tão premium como um LG G6, por exemplo, nem tem as especificações máximas que existem no mercado para que seja pedido um preço desta categoria. Neste nível de preço o smartphone tem uma concorrência feroz e as suas hipóteses são mais reduzidas por causa disso.

Quisesse a TLC Communication provocar impacto e a escolha de um preço ligeiramente mais baixo teria sido a decisão acertada. Mas na perspetiva em que o KEYone é a continuação de uma marca com grande tradição, então este novo BlackBerry está muito bem conseguido.

Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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