O que tem de especial este equipamento de 169 euros que esgotou as suas mil unidades em apenas um dia? Não são as especificações técnicas certamente pois o smartphone é de gama média-baixa. Também não é pela construção premium pois o dispositivo é feito em plástico para ser mais acessível.
O que atrai as pessoas é o sistema operativo Sailfish OS. E precisamos de mais smartphones como o Jolla C, mesmo que não sejam tecnicamente e visualmente espetaculares: precisamos de mais alternativas em termos de software no segmento dos dispositivos móveis.
Quando olhamos para os mais recentes números do mercado de smartphones percebemos isso com grande facilidade:
Nesta infografia reparamos mesmo que a quota de mercado dos ‘Outros Sistemas Operativos’ está a baixar. Até o Windows da toda-poderosa Microsoft está abaixo de 1% de quota de mercado. Não podemos tirar mérito à qualidade da Google e da Apple no desenvolvimento daqueles que são os melhores sistemas operativos móveis em termos de funcionalidades e ecossistema de aplicações. Não são perfeitos, é certo, e podiam até aprender com o Windows Phone ou o BlackBerry OS.
A questão é que havendo cada vez menos concorrência, há cada vez menos com quem aprender. Por isso é que o Sailfish OS é importante, sobretudo depois de a Mozilla ter desistido do Firefox OS pelo menos nos dispositivos móveis.
E quem diz o Sailfish OS diz o Ubuntu Mobile. A espanhola BQ tem apostado em equipamentos com o sistema operativo open source. Se estão ou não a ter sucesso é uma perspetiva. Para os consumidores deve importar aquela em que existem várias possibilidades de escolha.
As vendas relâmpago do Jolla C mostram que há pessoas interessadas em alternativas. São só mil pessoas? Possivelmente só não vendem mais pois não têm arcaboiço para uma maior produção e porque não têm investidores que empurrem o Sailfish OS como uma alternativa viável no segmento dos dispositivos móveis.
O Sailfish OS como sistema operativo apresenta um interface de utilizador diferente daquele que vemos no Android, iOS ou Windows. O Sailfish OS como sistema operativo apresenta uma experiência de utilização baseada em gestos, não necessitando do auxílio de botões físicos para fazer o que quer que seja – um pouco como o ‘saudoso’ BlackBerry Playbook.
A parte mais interessante do Sailfish OS é que o sistema operativo além de ter aplicações próprias e nativas, tem também suporte para milhares de aplicações do sistema operativo Android. Consegue de certa forma juntar o melhor dos dois mundos: é um sistema alternativo, mas garante ao mesmo tempo o ‘conforto’ do sistema operativo mais usado em todo o mundo. Mais propostas semelhantes seriam bem vindas. Tivesse a BlackBerry conseguido integrar de melhor forma as apps Android no BlackBerry 10 e talvez o malogrado software ainda fosse a única aposta da tecnológica canadiana.
Mas por muito bom que seja ter um leque variado de opções, nos sistemas operativos móveis vai acabar por acontecer o mesmo que acontece atualmente nos sistemas operativos para computador: o Windows é rei e senhor [Android], lá longe o Mac OS X é a segunda alternativa mais popular [iOS] e depois no fim surge o Ubuntu como alternativa que a minoria usa, mas que é defendida de forma acérrima pelos seus utilizadores [Windows].
Muitos utilizadores atraem programadores. Muitas aplicações atraem mais utilizadores. É um ciclo lógico e que após determinado momento é difícil de quebrar. Talvez nos smartphones já tenhamos passado o ponto de não retorno.