O cenário é este: mais de 1.200 pessoas vão trabalhar, comer, dormir e diverter-se no Pavilhão Carlos Lopes nos próximos três dias. É assim que funciona o Pixels Camp, o maior evento de programação realizado em território português. Mas desta vez há um novo elemento a ter em conta, um elemento arrojado e com uma escala considerável. Na prática o Pavilhão Carlos Lopes vai transformar-se numa economia paralela e vai funcionar com a sua própria moeda digital.
Isto acontece pois os responsáveis pelo Pixels Camp decidiram fazer aquela que é, provavelmente, a maior execução de blockchain alguma vez feita em Portugal. A ideia é colocar todos os participantes do evento a ‘viverem’ com uma criptomoeda, criada especificamente para a ocasião, e estimular a criação de um ‘mundo à parte’ dentro do Pixels Camp.
Siga o Future Behind: Facebook | Twitter | Instagram
A criptomoeda em questão chama-se Exposure (EXP) e foi criada através do protocolo ERC20, da rede de blockchain Ethereum. A criptomoeda é essencial no conceito da hackathon, isto porque no final ganham os projetos que ao longo dos três dias do evento conseguirem angariar o maior número de Exposure. Além do desenvolvimento de um projeto tecnológico, os participantes também terão de angariar investidores para a sua ideia.
No tradicional mundo das criptomoedas é possível obtê-las através de mineração, algo que a organização não contemplou nesta sua rede de blockchain para evitar desiquilibrios na distribuição final das moedas. Os únicos computadores que estão a produzir Exposure pertencem à organização e têm como objetivo fomentar a criação de valor no mercado do Pixels Camp.
Leia também | Se vai ao Pixels Camp tente não perder estas 14 apresentações
“Tornamos o Pixels Camp num grande mercado onde vocês vão ser empreendedores à procura de dinheiro, investidores, compradores, vendedores – estamos a simular um mercado da vida real. O que significa que quando submetem um projeto, estão a pedir aos investidores para colocarem dinheiro em vocês”, explicou o diretor executivo da Bright Pixel, Celso Martinho, na abertura do evento.
“Este ano quisemos fazer algo completamente diferente, o blockchain é hipster. (…) Vai ser divertido e vai haver um grande espaço para falhas”, acrescentou.
Em resumo, mais de mil pessoas vão viver três dias à base de criptomoedas e as vertentes mais importantes do evento vão ser garantidas por uma rede de blockchain.
Como ganhar Exposure
Se não é possível minerar Exposure, então como se consegue este dinheiro digital? Os participantes têm vários desafios que, se ultrapassados, garantem um determinado número de Exposure. O objetivo é claro – estimular a interação entre todas as pessoas no evento. Por exemplo, existe mais de uma centena de desafios para completar no recinto do Pixels Camp e cada um destes desafios rende 100 Exposure. Aquele que ganhar o grande quizz show do evento também vai receber uma quantidade generosa – não especificada – de Exposure.
Depois os programadores também vão poder vender os seus serviços. Se um deles for especializado na criação de interfaces de utilizador, pode colocar os seus serviços à venda num mercado. Como na vida real este serviço tem um custo, a única diferença é que dentro do Pixels Camp esse serviço é pago em Exposure.
Além disso as pessoas podem simplesmente fazer transferências de dinheiro entre si – e é aqui que entra outra parte interessante desta nova abordagem do Pixels Camp.
Quando uma equipa submeter o seu projeto para o concurso de programação, automaticamente é criada uma carteira para esse projeto. O objetivo é depois tentar convencer o máximo número de pessoas a investir o máximo dinheiro possível nesse projeto. Existem 20 angels no Pixels Camp, pessoas a quem foram dadas grandes quantidades de Exposure justamente para investir nos diferentes projetos que estão a ser criados.
“O objetivo disto foi desenvolver um mercado em torno da moeda que criámos. (…) Estamos muito curiosos para ver o que vão fazer na rede”, disse Celso Martinho.
Se pensa que esta simulação de uma economia paralela é apenas uma brincadeira, talvez os seguintes cenários o façam reconsiderar essa opinião. Ainda antes mesmo de o Exposure ter sido oficialmente explicado aos participantes, já havia alguém a fazer-se passar pela organização, através de emails de phishing, para tentar ‘roubar’ as chaves que dão acesso às carteiras – quem conseguir a chave de outra pessoa pode transferir todo o seu dinheiro e este nunca mais será recuperado. “Cuidado com os esquemas”, alertou o CEO da Bright Pixel.
Um outro participante perguntou se podia criar um fundo de investimento, reunindo várias pessoas, para investir nos prováveis projetos vencedores e rentabilizar com os dividendos que mais tarde serão distribuídos. Outro participante perguntou se era possível criar um ransomware para obrigar as restantes pessoas a pagarem o resgate em Exposure.
Salvo exceções óbvias, na prática os participantes são estimulados a fazer tudo o que estiver tecnologicamente ao seu alcance para conseguirem cumprir os seus objetivos. Afinal de contas, estamos naquela que é a maior hackathon realizada em Portugal.