Alexandra Elbakyan é uma jovem de 27 anos que está a deixar as editoras de publicações académicas com os nervos em franja. Há quem lhe chame Robin dos Bosques dos tempos modernos, há quem fale no novo Napster, mas também há quem lhe trace um perfil semelhante ao de Aaron Swartz, o rapaz prodígio de quem a Internet ainda lamenta a morte.
O que faz a rapariga cazaque para gerar tanta controvérsia? Em resumo disponibiliza publicações académicas roubadas e que pertencem ao domínio de editoras especializadas, publicando-as no Sci-Hub, uma plataforma que pode ser vista como o The Pirate Bay para teses, papers e outras dissertações de investigação.
Atualmente já são 47 milhões os artigos que constam na sua base de dados e que permitem a alunos e professores de todo o mundo ter acesso aos resultados de investigações já realizadas. A subscrição de um serviço semelhante, mas legal, pode atingir os cinco mil dólares anuais.
“Existem muitas formas de argumentar que a infração sobre os direitos de autor não é roubo, mas neste caso é justificado. Todos os conteúdos deviam ser copiados sem restrições. Mas para a educação e para a investigação, os direitos de autor são especialmente danosos”, disse em entrevista ao The Washigton Post.
Quando confrontada com a comparação a Robin Hood – a personagem que roubava os ricos para dar aos pobres -, Alexandra Elbakyan mostra algumas reservas. “Às vezes penso que não é uma boa comparação, já que o que ele fazia era ilegal. E partilhar livros e artigos de investigação não devia ser ilegal”.
Uma outra comparação parece inevitável: Aaron Swartz. O programador e empreendedor roubou artigos e publicações da JSTOR, uma livraria digital que armazena trabalhos académicos. Swartz que ajudou a criar o sistema de feed RSS, contribuiu para a criação do Reddit e foi uma das figuras de proa contra o SOPA, suicidou-se a dias do início do seu julgamento por este alegado crime.
A ligação com Alexandra Elbakyan faz-se apenas por causa da cruzada contra a capitalização da informação que muitos querem ver partilhada de forma livre. A diretora executiva da SPARC, uma organização que defende a partilha de trabalhos académicos, Heather Joseph, considera que os muros de dinheiro que existem em torno de vários trabalhos académicos são um problema há décadas, como relata o The Washigton Post.
Uma opinião completamente diferente tem por exemplo Lui Simpson, da Associação de Editores Americanos. “Isto é sem sombra de dúvidas pirataria. Ninguém tem justificação ao fazer isto”, referindo-se ao roubo de trabalhos da também investigadora cazaque.
A rapariga de 27 anos aprendeu a piratear conteúdos devido às condições onde cresceu: ao ter vivido em Almaty, no Cazaquistão, o acesso à Internet era limitado e o acesso a conteúdos ainda mais restrito. “Todos os conteúdos deviam ser copiados sem restrição”, relembra a jovem.
Alexandra Elbakyan admite que algumas palavras-passe possam ter sido roubadas usando esquemas de phishing e engenharia social tal como os crackers ‘tradicionais’ fazem, mas que outras senhas de acesso às editoras são fornecidas por pessoas que simpatizam com a sua causa. Mas defende-se dizendo que nunca enviou mensagens de phishing e que também nunca se importou com as fontes que faziam chegar-lhe algumas passwords.
A publicação Ars Technica revela que a ‘menina Robin Swartz Hood’ vai ter tempos difíceis à sua frente já que editoras como a Elsevier – uma das maiores do mundo na área da ciência, saúde e estudos médicos – promete continuar a fazer pedidos de bloqueio de domínios e servidores contra o projeto Sci-Hub.
O serviço até pode ser bloqueado, mas a sua mentora promete continuar a distribuir conhecimento para todo o mundo.