Por fim, a última peça do puzzle. Os consumidores de videojogos podem agora respirar fundo e começar a pensar de forma mais apropriada sobre o que realmente querem do seu próximo sistema de jogo. Isto porque a Nintendo revelou ontem, 20 de outubro, a sua nova consola: Nintendo Switch.
A Nintendo Switch é um sistema de jogo híbrido. Acima de tudo é uma consola portátil, mas os jogadores também vão poder ligá-la aos televisores lá de casa para tirarem partido da experiência de jogar num ecrã de grandes proporções.
Ainda não são conhecidas especificações técnicas, mas já existem vários elementos que ficaram explícitos – através do trailer de apresentação e através de informações oficiais da empresa e de parceiros.
Por esta altura a consola e as suas habilidades já estão espalhados um pouco por toda a internet, pelo que preferimos fazer algumas considerações tendo em conta a proposta de jogabilidade que a Nintendo apresentou com a Switch.
Uma ideia é certa. Switch não é só o nome da consola. A Nintendo prepara-se toda ela para uma ‘Mudança’ de grande escala.
1. Redefinir a jogabilidade mobile
Sabe qual é a consola mais popular do mundo? O dispositivo móvel. Os smartphones e tablets podem não representar em pleno o conceito tradicional de consola, mas não podemos ignorar o facto de serem sistemas de jogo.
Ao longo dos últimos anos os videojogos para smartphones e tablets ganharam uma expressão gigante. De tal forma que as grandes empresas começaram a sentir-se pressionadas para dar uma resposta apropriada ao formato.
A Nintendo Switch fica disponível em março de 2017
Já aqui dissemos e voltamos a referir: é curioso como a Nintendo há cerca de dois anos negava-se a produzir videojogos para dispositivos móveis e agora tem um jogo a caminho do iPhone que já tem 20 milhões de utilizadores em lista de espera.
Com a Nintendo Switch a empresa não vai tentar combater diretamente os dispositivos móveis. A empresa está a tentar redefinir o futuro da jogabilidade móvel. Mais uma vez a Nintendo tenta mudar a forma como jogámos e isso é sempre uma atitude de louvar. A Nintendo pode muito bem estar a criar com a Switch o novo standard sobre o que esperar dos jogos móveis.
O que a Nintendo promete com a Switch é jogabilidade hardcore e casual num sistema de jogo que é extremamente portátil e modular. Pode jogar em casa no televisor de 55 polegadas. Pode jogar no quarto com a consola na mão. Pode jogar no avião com a consola apoiada sobre si mesma.
Claro que esta portabilidade vai trazer os seus limites – não espere ver um videojogo 4K na Nintendo Switch. Mas esse também não é o objetivo.
Esta é inclusive a deixa perfeita para o nosso segundo ponto de consideração.
2. Nintendo num campeonato próprio
Mesmo contra a sua vontade, a Nintendo sempre foi colada às outras consolas de videojogos. No caso da Wii correu bem pois as vendas foram colossais e um dos maiores sucessos de sempre. No caso da Wii U foi justamente o contrário – as sucessivas comparações com a PlayStation 4 e a Xbox One deixaram a consola num estado muito debilitado na opinião pública.
Um dia ainda falaremos sobre como a Wii U foi injustiçada e sobre a importância que teve no segmento dos videojogos. Mas por agora é tempo de concentração total na Nintendo Switch.
“Espero que este primeiro olhar sobre a Nintendo Switch permita aos fãs imaginarem o potencial da liberdade para jogarem onde, quando e como quiserem”, Satoru Shibata, presidente da Nintendo Europa, em comunicado.
Com a sua nova consola a Nintendo diz de uma vez por todas, a alto e bom som, que não está na mesma corrida da Microsoft e da Sony Interactive Entertainment. Enquanto as empresas responsáveis pela Xbox e pela PlayStation estão numa verdadeira prova de carros, para ver quem tem o veículo mais rápido e aquele com maior potência, a Nintendo está noutro mundo completamente à parte.
Ninguém vai dizer que a Nintendo Switch é ‘underpowered’ pois todos já sabem que ela não vai ter os 6 teraflops de potência gráfica de um Project Scorpio.
Aposta na realidade virtual? A Nintendo não está para aí virada, vai deixar isso para quem já está a desbravar terreno no segmento.
A Nintendo definiu claramente o seu objetivo e isso coloca-a à parte. A forma como se está a posicionar na jogabilidade móvel pode inclusive fazer com que agora a Nintendo não seja vista como uma rival direta à PlayStation e Xbox, mas antes como um complemento.
A Nintendo Switch vai usar cartões proprietários como formato físico para os jogos
Isto porque antigamente para desfrutar do bom catálogo de jogos que a Nintendo teve nos seus sistemas de jogo era sempre preciso comprar duas consolas. A partir de 2017 há apenas um único sistema de jogo da Nintendo e isso torna o investimento mais racional e mais suportável em termos de investimento para jogadores de outras plataformas.
Quem é que não quer jogar The Legend of Zelda: Breath of the Wild em qualquer lugar, literalmente?
3. Cada questão por responder é muito importante
A internet está a viver a sua fase natural de euforia depois de um grande anúncio tecnológico. O facto de ninguém ter visto de facto a Nintendo Switch e as suas habilidades antes do trailer ajudam a explicar parte deste furor sobre a consola. E depois, claro, é uma nova consola da Nintendo.
A Nintendo Switch parece ser um sistema de jogo bastante promissor, mas há questões que ainda precisam de resposta. Cada uma destas respostas pode tornar mais ou menos apelativa a consola, dependendo do consumidor ‘em questão’.
Qual o tamanho do ecrã da consola? Qual o painel escolhido e qual a sua resolução? Quais as especificações técnicas da consola? Qual a sua autonomia? Vai ser retrocompatível? Qual o catálogo de jogos no lançamento? Qual o seu preço? Qual o preço do comando Pro? Qual a resolução dos jogos? Qual será a acessibilidade dos programadores independentes a esta plataforma? Haverá atualizações de hardware no futuro? O tablet terá mais funcionalidades além de videojogos?
Por um lado a Nintendo fez bem em escapar a algumas destas questões já de início justamente para poder concretizar melhor o seu distanciamento aos restantes sistemas de jogo. Mas são questões cujas respostas continuam a ser importantes.
Já sabemos, por exemplo, que a Nintendo Switch é tão ou mais potente do que uma Wii U. Sabemos que usa um processador da Nvidia customizado e cuja arquitetura gráfica é semelhante às placas gráficas de topo da empresa. Já sabemos que existe um grande conjunto de estúdios que vão apoiar a consola – se cada um desses nomes der, pelo menos, um jogo à Switch, então tudo parece ainda mais promissor.
Com tantas questões por responder a Nintendo pode também saber gerir esta situação a seu favor. Vai dando novidades a conta gotas, o que vai gerar ondas diferentes de ‘barulho social’ para a consola. Quando chegar a março do próximo ano pode ser uma das consolas mais faladas de sempre.
4. Ainda não li um único título a dizer que a Nintendo vai desaparecer do mercado
Há anos que vejo artigos destes a serem publicados: ‘Se a Nintendo não endireitar, então está condenada’. Agora que estes artigos podiam ser ainda mais acutilantes, deitando já por terra a determinação de alguns potenciais compradores, ninguém as faz. E isto significa muito.
Significa que graças às primeiras impressões da consola a empresa conseguiu afastar a desconfiança que lhe estava associada. Com a Switch a Nintendo diz claramente que está para continuar no segmento dos videojogos. A Nintendo diz claramente que não lhe interessam as corridas pelas especificações. A Nintendo diz claramente que se importa com o fenómeno da mobilidade. E a Nintendo também diz que soube aprender com os erros.
Existem elementos que à primeira vista podem gerar alguma apreensão relativamente à consola: a ergonomia dos comandos é um dos pontos que mais tem sido discutido, mas até que alguém lhes coloque as mãos em cima são opiniões infundadas; e parece haver um grande foco na experiência multijogador local, quando a empresa não pode mesmo descurar de todo a experiência online que esta consola vai proporcionar.
Há certamente um cenário no qual todos estão a pensar. Ninguém duvida da capacidade de produzir jogos de alta qualidade da Nintendo. A questão é que nos últimos anos esses títulos andaram divididos entre plataformas. Consegue imaginar todo o ‘génio’ da Nintendo a trabalhar em direção ao mesmo sistema de jogo?
Se é verdade que os jogos são o núcleo central de qualquer plataforma de gaming, então a Nintendo Switch pode tornar-se numa verdadeira bomba logo à partida. Recuperando a Nintendo os melhores títulos da Wii U e 3DS para a Switch e lançando uma mão cheia exclusivos e jogos third party, então a Switch pode ter um começo auspicioso.
Estas são as nossas considerações sobre a Nintendo Switch. Qual a sua?