Mobdro

Portugueses passaram o ano a pesquisar pelo Mobdro, uma aplicação de streams piratas

A Google revelou as principais tendências de pesquisa de 2017 e desta vez não houve uma lista dedicada aos gadgets mais procurados pelos utilizadores no motor de busca, ao contrário do que aconteceu nos últimos anos. Mas isso não significa que não existem elementos de interesse tecnológico no Google Zeitgeist 2017 – o segundo termo mais pesquisado pelos portugueses foi ‘Mobdro‘, uma das mais populares aplicações de streams piratas.

“Descobre transmissões de vídeo de todo o mundo de forma simples, sobre todos os temas e em qualquer idioma”, é assim que se define o Mobdro na sua página oficial. “O Mobdro é uma ferramenta que procura constantemente por transmissões de vídeo gratuitas na web e torna-as acessíveis a partir do teu dispositivo móvel”.

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O que assim pode parecer uma aplicação sem qualquer problema é na realidade uma das maiores fontes de pirataria da atualidade. À medida que o download de conteúdos pirateados vai perdendo terreno para as transmissões piratas em direto ou on demand, o interesse dos utilizadores passa para ferramentas que simplificam o acesso a conteúdos piratas, caso do Mobdro.

Importa salientar que tal como outras plataformas associadas à pirataria de conteúdos – como o The Pirate Bay, por exemplo -, o Mobdro é uma plataforma que também disponibiliza conteúdos legais, sendo que a pirataria é apenas uma parte desta plataforma, o que acaba por colocar a responsabilidade na escolha de conteúdos do lado do utilizador.

Como é visível pelo gráfico do Google Trends, janeiro foi o mês que registou o maior número de pesquisas relacionadas com o Mobdro em Portugal, pesquisas essas que se mantiveram relativamente constantes ao longo do ano. A frequência de pesquisas foi de tal forma elevada que foi suficiente para o termo ‘Mobdro‘ ficar na segunda posição das pesquisas que registaram maior crescimento face a 2016, ficando apenas atrás ‘Salvador Sobral‘, o cantor português que venceu a edição de 2017 do Festival da Canção.

Importa aqui esclarecer que o facto de os portugueses terem pesquisado pela aplicação não significa que a tenham descarregado para os seus dispositivos. O que isto mostra, no limite, é que existe uma grande curiosidade sobre uma plataforma que se popularizou pelo seu lado ilegal.

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Por disponibilizar conteúdos piratas é que a aplicação Mobdro, apenas disponível para o sistema operativo Android, não está disponível na loja de aplicações da Google, estando acessível somente através de uma instalação paralela.

Sobre a questão dos conteúdos ilegais, os elementos responsáveis pela aplicação parecem recusar quaisquer responsabilidades. “O Mobdro é uma ferramenta de indexação, o que quer dizer que procura pelas transmissões que estão disponíveis. O Mobdro não tem qualquer controlo sobre as transmissões. Se as transmissões que procuras faziam parte de uma lista e agora desapareceram, isso significa que esteviram online, mas agora estão offline”, pode ler-se no site da aplicação.

Uma consequência da luta contra a pirataria?

A luta contra a pirataria de conteúdos conheceu um novo capítulo em Portugal quando em 2015 foi celebrado o Memorando de Entendimento Antipirataria. Este memorando foi assinado por várias entidades como a secretaria de Estado da Cultura de então, a Inspeção-Geral das Atividades Culturais (IGAC), a Associação dos Operadores de Telecomunicações (APRITEL) e o Movimento Cívico Antipirataria (MAPINET), entre outras.

Este memorando veio definir um novo sistema para o bloqueio de sites que disponibilizavam pelos menos 500 conteúdos de forma ilegal. Ao abrigo deste acordo é possível pedir o bloqueio de um domínio sem uma autorização prévia da justiça, desde que seja feita prova da disponibilização de conteúdos piratas. O facto de não ter de passar por uma supervisão relacionada com a justiça sempre foi uma das maiores críticas apontadas a este projeto.

Mesmo num ambiente de críticas, o memorando foi sendo cumprido ao longo dos últimos anos. No final de julho de 2017 era comunicado que graças ao memorando de entendimento, foi registada uma quebra de 69,7% na taxa de utilização de sites de pirataria em Portugal, “representando a maior descida percentual a nível mundial conseguida por um programa oficial de bloqueio a sites que disponibilizam ilegalmente conteúdos audiovisuais”, lia-se no comunicado.

“A utilização dos 250 principais sites não autorizados diminuiu 9,3% em Portugal, embora tenha aumentado cerca de 30,8% para o controlo global, enquanto o bloqueio de 65 desses sites a partir de território português levou a uma diminuição de 56,6% nos acessos, contra o aumento de 3,9% em termos globais”, referia a nota de imprensa.

O estudo foi realizado pela INCOPRO a pedido da Motion Picture Association (MPA) e contou com a participação da Associação Portuguesa de Defesa de Obras Audiovisuais (FEVIP).

O estudo reconhece que o bloqueio de domínios por parte dos operadores de telecomunicações fez com que vários gestores de sites com conteúdos piratas tivessem procurado domínios alternativos, mas que estas novas páginas “não conseguem sequer atingir os níveis de utilização pré-bloqueio, o que reforça a eficácia alcançada pelos programas de bloqueio de sites, como o utilizado em Portugal”.

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O que o estudo não refere de forma explícita é que durante estes dois últimos anos Portugal assistiu a uma maior disponibilização de conteúdos em formatos legais através de serviços como o Netflix, Amazon Prime Video e NOS Play, o que também pode ajudar a explicar parte da redução registada nos acessos a sites piratas.

Isso e o surgimento de outras alternativas mais modernas de pirataria, como o PopCorn Time, que facilitaram de sobremaneira o acesso a conteúdos ilegais: os utilizadores apenas precisavam de instalar uma aplicação gratuita no smartphone para terem acesso a filmes, séries e documentários de forma ilegal. O PopCorn Time chegou mesmo a ser apelidado de ‘Netflix da pirataria’ pela forma como simplificava o acesso a conteúdos ilegais.

O Mobdro acaba por funcionar no mesmo sentido, mas em vez de estar focado na disponibilização de conteúdos de streaming on demand, aposta antes na disponibilização de transmissões em direto.

Ainda que a luta contra a pirataria tenha mudado de forma significativa em Portugal a partir de 2015, o facto de o Mobdro estar entre os termos mais pesquisados do ano é um lembrete de que a pirataria de conteúdos é uma realidade constante e uma guerra que vai ser difícil de vencer por parte das entidades que defendem os direitos de autor.