A Microsoft até pode construir grandes computadores, mas onde é que eles estão mesmo?

Quando a Microsoft apresentou o Surface Studio em outubro do ano passado, o mundo tecnológico ficou de boca aberta. A tecnológica de Redmond voltou a apresentar um computador com características únicas e com um design moderníssimo. A Microsoft, a empresa à qual muitos chamaram de ‘aborrecida’, voltava a fazê-lo. O quê? A entusiasmar.

Nos dias seguintes à apresentação do Surface Studio as principais discussões nos sites da especialidade nem se centravam no computador em si, centravam-se antes numa comparação da Microsoft com a Apple.




Os equipamentos que mais têm surpreendido nos últimos tempos vêm da Microsoft – Surface Pro, HoloLens, Surface Book, Surface Studio -, enquanto a Apple tem sentido justamente o contrário. As críticas têm agora estado direcionadas para a marca da maçã, com o Macbook Pro a ser o mais recente exemplo desta ‘tendência’.

Mas há uma questão importante relativamente aos novos computadores que a Microsoft tem apresentado. Podem ser visualmente espetaculares e tecnologicamente fortes, mas e a sua disponibilidade? Deixa muito a desejar.

No final de janeiro a Microsoft publicou uma série de vídeos no YouTube onde fala sobre o nascimento do Surface Studio. Ver aquelas imagens só nos faz lembrar de como é interessante o conceito do computador e de como seria interessante vê-lo e experimentá-lo numa loja. Esse privilégio está por agora reservado só para a América do Norte.

Surface Studio. #Crédito: Microsoft

 

No caso do Surface Studio a Microsoft avisou logo à partida que o computador all-in-one ia estar disponível em quantidade limitada. Mas isso não apaga o facto de ser um computador com grandes ambições e com uma disponibilidade demasiado reduzida. A Microsoft disse que este seria o computador que ajudaria a transformar por completo a forma como as pessoas concretizam as suas ideias e a forma como no processo criativo. Não seria de esperar que um computador que tem esta permissa tivesse uma disponibilização mais alargada?

Foi prometido que no início de 2017 seria anunciada uma maior disponibilização do Surface Studio, mas o mês de fevereiro aproxima-se do fim e ainda não há qualquer anúncio neste sentido. Relativamente ao mercado português, a Microsoft Portugal apenas diz numa resposta ao FUTURE BEHIND que ainda não tem visibilidade sobre quando este produto estará disponível.

Mas este é o computador mais recente anunciado pela Microsoft. Há um outro, o Surface Book, que também acabou por gerar um grande interesse e curiosidade junto da comunidade tecnológica quando foi desvendado. A primeira versão foi apresentada em outubro de 2015, tendo sido revelado um sucessor em outubro de 2016.

Nenhuma destas edições também está disponível diretamente em Portugal. Aliás, o Surface Book é mais um exemplo de um dispositivo da Microsoft cuja disponibilidade é limitada – ainda que muito melhor do que o Surface Studio. Na Europa o computador está à venda nos seguintes países: França, Reino Unido, Alemanha, Suíça, e Áustria, diretamente através da Microsoft.

Se recorrer a mercados mais generalistas, como a Amazon, também é possível encontrar este computador à venda. Na Amazon Espanha, por exemplo, o Surface Book custa 1.750 euros na sua configuração mais baixa, podendo custar mais de 4.000 euros noutras configurações.

Surface Book edição de 2016. #Crédito: Microsoft

Com a evolução do comércio eletrónico, adquirir produtos a nível internacional tornou-se numa experiência relativamente fácil. Mas há pessoas que simplesmente ainda não se renderam a este facto e que por esse motivo nem sequer vão olhar para o Surface Book como uma hipótese de compra. O que é uma oportunidade perdida para a Microsoft – e uma oportunidade ganha para os seus rivais.

Depois há ainda o argumento do preço: devido ao valor elevado do computador, os consumidores podem simplesmente sentir-se pouco confortáveis em fazer uma compra deste volume através da internet.

Acrescente-se a isto o facto de o computador portátil vir com o teclado do país onde o compra – e que não é igual ao teclado português – para encontrar aqui mais um ‘entrave’ à questão da compra internacional.

A situação dos Surface Book e Studio além de ser pouco comum para uma empresa que tem ambições mundiais em quase tudo o que faz, é uma situação difícil de perceber sobretudo quando a Microsoft já tem um exemplo de sucesso neste segmento: o Surface Pro.

O super-tablet da tecnológica norte-americana tornou-se num dispositivo muito bem recebido e teve de facto um impacto importante no desenvolvimento de um novo conceito de máquinas. Alguns anos após o lançamento do tablet Surface, quase todos os outros grandes fabricantes de computadores criaram um dispositivo inspirado na máquina da Microsoft. Se a Microsoft tivesse limitado a disponibilidade do Surface, será que o destino do equipamento seria o mesmo? Dificilmente.

Em dezembro de 2016 a empresa de análise AdDuplex revelou um relatório onde mostra a representatividade dos diferentes equipamentos Surface dentro do ecossistema Windows. O Surface Studio e o Surface Book ocupam as últimas posições nesta lista.

Dentro do número de dispositivos Surface que estão em uso, esta é a quota de mercado de cada um deles. #Crédito: AdDuplex / Dez. 2016

Há dispositivos que pelo seu grau de inovação conseguem ganhar ‘pernas próprias’ e chegam a todo o lado mesmo quando a sua disponibilização é limitada – aconteceu com os HoloLens por exemplos. Mas os HoloLens são de facto únicos e têm muito pouca concorrência.

Há outros dispositivos que mesmo sendo promissores, não estão sozinhos no mercado. É o que acontece com os Surface Book e o Surface Studio: há muitos computadores portáteis 2-em-1 de grande qualidade e também há computadores all-in-one de grande gabarito. É só ir a uma loja e comprá-los.

Apesar de ser um mercado completamente diferente, a questão da disponibilidade também teve um papel importante no momento de lançamento da Xbox One. Enquanto a nova consola da Microsoft foi lançada em 21 países no primeiro dia – e que não incluia Portugal -, a rival PlayStation 4 foi lançada em 32 países.

Rapidamente a consola da Sony Interactive Entertainment ganhou vantagem à Xbox One no que diz respeito ao número de vendas. Com o passar do tempo houve outros elementos que contribuíram para este cenário, mas no início as consolas estavam quase em pé de igualdade. Isto para dizer que quando há concorrência, garantir a maior das disponibilidades é algo que pode ser crítico para o sucesso ou insucesso de um equipamento. A Microsoft sabe-o muito bem.

Se a Microsoft quer que os seus mais recentes equipamentos tenham a mesma aceitação do tablet Surface, então precisa de repetir a mesma estratégia, incluindo no que diz respeito à disponibilização.

Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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