Quem diria que a decisão de remover a entrada de áudio de 3,5 milímetros do iPhone se tornaria numa trilogia? Quase um ano depois do primeiro capítulo desta saga o ciclo parece fechar-se. À medida que cada vez mais fabricantes vão deixando o headphone jack de lado em alguns dos seus equipamentos, a decisão da Apple já parece fazer parte do passado.
Mas como dissemos logo na primeira parte desta história, o problema não estava no avanço tecnológico em si, estava na forma como a Apple decidiu apresentar essa questão. A marca da maçã definiu o seu próprio ato como “corajoso” – um conceito debatível – e depois seguiram-se justificações como a questão da falta de espaço no hardware.
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À medida que os smartphones vão ficando cada vez mais potentes e mais finos, o espaço dentro do equipamento é quase inexistente. Esta falta de espaço fez com que a Samsung tivesse uma grande crise, no caso do Galaxy Note 7, mas antes fez com que o headphone jack fosse uma vítima às mãos da Apple.
Logo após a apresentação do iPhone 7 o diretor executivo da marca da maçã disse à publicação ABC News que a retirada do headphone jack permitiu encaixar uma bateria maior e duas colunas de som.
No dia em que o iPhone 7 chegou às lojas, os especialistas da iFixit fizeram o que sabem melhor – desmontaram o equipamento para perceber como estava pensado em termos de engenharia. O iFixit descobriu que onde podia estar a entrada de áudio de 3,5 milímetros estava uma peça de plástico sem utilidade aparente. A Apple apressou-se de imediato a explicar que essa peça de plástico não era inútil, funcionava como uma abertura que ajudava a alimentar o barómetro que equipa o dispositivo.
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Em bom rigor a Apple passou ao mundo a mensagem de que era preciso a entrada de 3,5 milímetros desaparecer para o iPhone 7 ser como é. Eis que chegamos ao terceiro capítulo desta odisseia.
Scotty Allen ficou conhecido no mundo inteiro por ter construído o seu próprio iPhone. O norte-americano teve como projeto pessoal durante vários meses criar um iPhone 6s, completamente funcional, comprando todos os componentes nos mercados de Shenzen, a capital de hardware da China e do mundo.
No final Scotty Allen atingiu o seu objetivo: tinha um iPhone 6s, funcional, incluindo o leitor de impressões digitais Touch ID e o ecrã sensível à pressão. Por uma questão de perfeição até comprou a caixa e os acessórios que acompanham um iPhone novo em folha.
Depois de uma aventura destas proporções, o que podia Scotty Allen fazer a seguir? A resposta é: conseguir devolver a entrada de áudio de 3,5 milímetros ao iPhone 7. Se o seu primeiro projeto já tinha sido complicado, este envolveu muitos outros patamares de complexidade.
O relato está no vídeo que Scotty Allen criou e no qual documenta todo o processo de voltar a colocar o headphone jack no iPhone. Spoiler alert: ele conseguiu, por isso é que criámos um terceiro capítulo para a “meia coragem” da Apple. O vídeo tem uma duração de 33 minutos, mas tal como no vídeo anterior, é uma produção que aconselhamos para todos os que gostam de tecnologia.
Pelo que é possível perceber no vídeo, a tarefa de colocar um headphone jack no iPhone 7 não é de facto fácil – em rigor não existe muito espaço dentro do equipamento.
Scotty Allen removeu a peça de plástico que alegadamente ajuda o barómetro a funcionar – algo que não ficou claro no final do vídeo -, teve de mover a bateria um pouco para cima e deixar o motor háptico enviesado. Provavelmente o iPhone 7 que Scotty Allen criou não passaria nos certificados de segurança das entidades reguladoras.
A solução passou por integrar um adaptador ‘Lightning-Entrada de 3,5 milímetros’ dentro do iPhone, o que exigiu a criação de circuitos elétricos próprios. No final o criador do canal Strange Parts gastou alguns milhares de dólares na aquisição de equipamento especializado, mas provou o seu ponto inicial: é possível um iPhone 7 ter um headphone jack.
A questão é que este norte-americano além de ter provado ser possível colocar um headphone jack num iPhone 7, provou que é possível fazê-lo deixando o equipamento completamente funcional e sem mexer no seu design exterior. Além da entrada de áudio, a entrada Lightning também estava a funcionar. Segundo a publicação Engadget, o único elemento que Scotty Allen não conseguiu concretizar foi permitir que o smartphone seja carregado enquanto uns auriculares estão ligados ao telemóvel através da entrada de 3,5 milímetros.
Se uma única pessoa consegue alcançar essa façanha, o que dizer da empresa mais valiosa do mundo e com uma das melhores equipas de engenharia e design? Como já referimos anteriormente, a Apple deu mais do que uma justificação para o facto de ter removido o headphone jack – mas tal como já parecia visível na altura, nem todos os argumentos foram bem escolhidos.
Quem teve afinal mais coragem: a Apple por ter removido o headphone jack ou Scotty Allen por tê-lo conseguido colocar onde parecia impossível ele estar?