O futuro do computador passa por uma experiência sem fronteiras com o smartphone. A Apple é quem está a preparar-se melhor

Sem dúvida que o sistema operativo móvel iOS foi aquele que ontem, 13 de junho, recebeu maior atenção por parte da Apple. E percebe-se porquê: é o software que dá vida ao iPhone e ao iPad, os dois gadgets mais bem sucedidos da marca da maçã atualmente.

Mas reparou bem nas novidades que a Apple revelou para o sistema operativo para computadores Mac? Podemos muito bem estar a olhar para aquele que é o futuro do computador em termos do que vai representar como equipamento, um no qual computador e smartphone comunicam ‘sem costuras’, sem fronteiras e sem que o utilizador tenha de fazer qualquer esforço para isso.



Ao contrário do que já muito se disse, o computador não vai a lado algum. Mesmo com as vendas a caírem trimestre após trimestre, continuam a ser vendidos dezenas de milhões de computadores. Entre janeiro e março deste ano, de acordo com a Gartner, foram comercializados 64,8 milhões de computadores em todo o mundo. Nada mau para um mercado que parecia estar condenado.

Claro que o aparecimento dos smartphones e dos tablets fez com que a venda de computadores baixasse. Para muitas pessoas o smartphone é o seu primeiro computador, sobretudo nos países com economias em via de desenvolvimento. Os mesmos 65 milhões de computadores vendidos no primeiro trimestre representam um novo mínimo desde o ano 2007, só para ter uma ideia de como o mercado tem sofrido uma quebra.

Mas vale a pena recordar aqui o que nos disse o responsável da Intel Portugal, Alexandre Santos, quando conversámos sobre as mudanças e o futuro da tecnológica.

“Hoje o telemóvel é o ímpeto de compra e nós temos visto isso nos mercados maduros. Mas as pessoas vivem sem o PC? Não. Essa é que é a questão. As pessoas estão a renovar o seu PC da mesma forma que renovavam no passado? Estamos a chegar a esse ponto. Hoje o PC é uma comodidade como outras que já temos na nossa casa. Se a televisão ou a máquina de lavar roupa avariam, vamos logo a correr comprar outras”.

“O crescimento dos ‘mil milhões de utilizadores eternamente’ não vai acontecer. Estamos a falar de renovações. As pessoas vão renovar. E vão renovar por tecnologia mais sólida, mais próspera e mais duradoura”, acrescentou.

Conclusão: daqui para a frente há uma maior tendência para os consumidores apostarem em equipamentos híbridos e que serão de gama média-alta ou alta. Há novos formatos, como o Ultra HD, que para serem reproduzidos exigem máquinas mais modernas e serão avanços tecnológicos como este que também vão ajudar a puxar um pouco o mercado dos computadores.

A nível de hardware o computador está bem e recomenda-se: basta olhar para o HP Spectre 13 para perceber o que queremos dizer.

Para que o computador continue a ser um equipamento imprescindível na vida das pessoas o software vai ter mais importância do que nunca. A Apple mostrou isso ontem na Worldwide Developer Conference (WWDC).

O segredo está na continuidade

Chamado de Mac OS X durante os últimos 15 anos, o software para computadores Apple é agora designado como macOS. A tecnológica de Cupertino vai continuar a usar locais icónicos da Califórnia para distinguir as diferentes versões, sendo a de este ano chamada Sierra.

Mas esta é apenas uma mudança no nome. Das restantes novidades que o macOS recebeu há a destacar aquelas que colocam o computador pessoal em sintonia com os dispositivos móveis, neste caso os equipamentos Mac com os iPhone, iPad ou Apple Watch.

A Apple começou essa tarefa em 2014 com o OX Yosemite, na altura com funcionalidades como o Handoff, que permitiam continuar a escrever no Mac o email que tinha começado no iPhone, desde que estivessem ligados por Bluetooth. Com o macOS a aposta nesta continuidade tornou-se mais evidente.

A funcionalidade Auto Unlock faz com que o utilizador não precise de colocar a palavra-passe no portátil se estiver com o seu relógio no pulso. Já a Universal Clipboard permite copiar um texto no iPhone e deixá-lo automaticamente disponível no Mac para colar – e não funciona só com texto, funciona também com outros formatos.

O vice-presidente para a área de engenharia de software da Apple, Craig Federighi, mostrou durante a WWDC 16 que será possível com o novo macOS ter acessíveis noutros dispositivos, incluindo os smartphones, os ficheiros que estão espalhados no ambiente de trabalho do computador, aquela que é a ‘pasta’ preferida de muitos utilizadores.

Houve outras novidades, como a ferramenta que permite colocar vídeos num sistema Picture-in-Picture para que o vídeo esteja sobreposto a qualquer outra tarefa ou então a nova ferramenta de gestão de espaço que ajuda a ter mais armazenamento disponível. Mas não são estes elementos que colocam o macOS à frente da concorrência.

Além da continuidade, o macOS fica a ganhar com outros elementos que foram testados em primeiro lugar no smartphone. A Siri vai estar agora disponível nos computadores Mac. Será possível fazer pesquisas de voz – em inglês, bastante complexas até – que a assistente devolve alguns resultados. ‘Siri, quero ouvir os Rolling Stones’, e a Siri vai pôr a banda a tocar.

Não é certo quais os idiomas que a assistente vai suportar no computador, mas é uma adição bem vinda, juntando-se assim ao que a Google e a Microsoft já tinham feito com o Google Now e a Cortana, respetivamente.

Claro que os exemplos acima referidos funcionam apenas dentro do ecossistema de software e hardware Apple. Mas a história já nos provou que por vezes é preciso alguém mostrar o caminho para que outros se sintam tentados a segui-lo.

Gadgets sem fronteiras: os sistemas operativos macOS e iOS comunicam bem entre si

Olhando para o Windows já existe por exemplo uma sincronização de notificações entre o computador e os smartphones, mas a ‘continuidade’ recai muito sobre os serviços cloud. E este também será o futuro do computador, isto é, ter disponível a mesma aplicação em diferentes formatos e equipamentos. Cá está mais uma vez o software a assumir importância e neste aspeto a Microsoft leva vantagem com as suas aplicações universais.

A questão é que a Apple está a tratar a continuidade como parte integrante dos sistemas operativos e não como algo que tem de vir numa aplicação externa.

Se o computador quiser continuar a ter lugar na vida das pessoas terá de ser potente, terá de ser mais conveniente para determinadas tarefas e serviços, e terá acima de tudo de saber viver com o smartphone. As pessoas são agora utilizadores multi-gadget e muitas vezes até têm ou dois smartphone ou um smartphone e um tablet por perto.

Já lá diz o ditado: se não os podes vencer junta-te a eles. O macOS da Apple tem sabido juntar-se da melhor forma ao iOS, potenciando tanto os computadores Mac como os próprios iPhone em termos de serviços e compatibilidade.

É impossível dizer com 100% certeza que isto será suficiente para evitar uma queda constante na venda dos computadores, mas se esta se tornar uma prática mais comum, a tal utilização sem fronteiras entre equipamentos, pelo menos vai reservar ao computador um lugar lá em casa durante os próximos anos.



Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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