John McAfee

John McAfee à frente da cibersegurança dos EUA? Isso não vai acontecer

Se todas as suspeitas que recaem sobre John McAfee podem ser suficientes para afastá-lo de qualquer cargo oficioso – homicídio e violação, alegações feitas num documentário da Showtime -, foi o próprio quem colocou um ponto final na questão.

“Acredito que o governo dos Estados Unidos está cheio de inutilidades, práticas e procedimentos ossificados, não recompensa a inovação e a criatividade, e está na realidade completamente disfuncional. Precisa de um hacker de 35 anos audaz e sem nada a perder”, disse numa resposta à publicação Motherboard.




Não fosse a idade e quase que McAfee encaixava no seu próprio perfil. A reação foi dada depois de ter sido organizado um movimento nos EUA que pedia a nomeação de John McAfee para líder dos assuntos de segurança informática do país.

O movimento pode estar ou não ligado ao grupo de hackers Anonymous – a página oficial do movimento aponta nesse sentido, outras informações online apontam no sentido contrário – e acabou por não reunir mais do que 30 pessoas no dia da sua concretização, em frente à Trump Tower.

John McAfee criou um dos primeiros antivírus do mundo, em 1987, o VirusScan

Apesar de rejeitar uma potencial nomeação para o cargo, também é verdade que foi o próprio McAfee quem se pôs a jeito de tais pedidos.

Em primeiro lugar chegou a dar-se como candidato à presidência dos EUA, mas acabaria por não conseguir vencer as primárias do Partido Libertário, através do qual pretendia chegar ao cargo da presidência.

“Recebo vários milhares de emails a pedirem para me candidatar a Presidente. Não é algo que eu escolheria fazer por conta própria”, disse em 2015 numa entrevista à Wired.

“É óbvio que a liderança do nosso país é iletrada na tecnologia fundamental que suporta todos os aspetos da nossa vida atual, que é a ciberciência, os nossos smartphones, o nosso equipamento militar e as nossas comunicações”, acrescentou na altura.

Já durante o ano de 2016 John McAfee viria a dar um ar da sua graça relativamente a esta incapacidade dos EUA em lidar com problemas mais sensíveis. Quando o FBI e a Apple estavam em guerra aberta relativamente ao iPhone de um alegado terrorista, John McAfee foi um dos primeiros a chegar-se à frente para resolver o problema.

“Fica aqui a minha oferta ao FBI. Eu vou, sem custos, decifrar a informação do telefone do atirador de San Bernardino com a minha equipa. Vamos usar em primeiro lugar engenharia social e vai demorar três semanas. Se aceitarem a minha oferta, então não precisam de pedir à Apple para criar uma backdoor no seu produto, o que seria o início do fim dos EUA”.

Este pedido nunca terá sido aceite pois o FBI terá recorrido a uma empresa israelita para tratar do serviço.

Curiosidade ou não, o tom do milionário norte-americano relativamente à incapacidade do país em resolver determinadas questões relacionadas com a tecnologia acabaria por ser um dos factores determinantes para o desfecho da campanha.

A candidata Hillary Clinton foi várias vezes criticada por ter mantido um servidor próprio para os seus emails, o que o tornou mais vulnerável a ataques informáticos. Esses ataques aconteceram e informações privadas foram roubadas, o que acabaria por manchar a candidatura da mulher do ex-presidente Clinton.

Não é por isso difícil de perceber que haja quem queira John McAfee à frente dos assuntos de segurança informática dos EUA. Algumas das ideias que foi debitando enquanto potencial candidato, acabaram de facto por fazer a diferença nas presidenciais.

Se juntar a isso o facto de McAfee e o presidente eleito, Donald Trump, serem figuras bastante controversas e de certa forma imunes a essas controvérsias, então para alguns norte-americanos este seria o ‘casamento perfeito’. Ao ponto de se ter gritado ‘Make the internet safe again’ durante a manifestação, numa alusão ao slogan do candidato vencedor ‘Let’s make America great again’.

Aos poucos vão-se acumulando indicadores de que a segurança informática precisa de ser uma das prioridades não só dos EUA, mas de qualquer país. Um relatório da CIA insinua que ataques informáticos oriundos da Rússia terão sido efetuados para manipular a opinião pública durante as campanhas presidenciais.

Atualmente John McAfee trabalha na empresa canadiana Equibit Development Corporation

Apesar de estar fora da ‘corrida’, John McAfee decidiu indicar dois nomes que na sua opinião fariam um trabalho muito melhor na área da segurança informática: Chris Roberts e Eddie Mize.

O primeiro ficou conhecido por ser o hacker que obrigou um avião a aterrar de emergência depois de alguém – o próprio Chris Roberts – ter conseguido penetrar no sistema de entretenimento de vários aviões, tendo alegadamente assumido o controlo de um durante alguns momentos. O segundo é o líder de cibersegurança do Pinnacle Group nos EUA e de acordo com McAfee, teria capacidade para colocar qualquer pessoa na lista dos mais procurados do FBI.

Sendo homens versados nas artes da segurança informática, são homens qualificados para assumir um cargo na futura presidência dos EUA, considera o fundador das ferramentas de segurança McAfee.

“Eles têm este poder que é preciso entender, e isso é a primeira coisa que as pessoas precisam de dizer ao Trump. Não há nada que um grande hacker não consiga fazer”.