Welcome to fabulous Las Vegas ou, melhor dizendo, à fabulosa Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês). Foi com a imagem do conhecido letreiro que dá as boas vindas a quem entra na cidade norte-americana que arrancou, ontem, o evento IoT Summit, na sede da Microsoft Portugal. O motivo? Primeiro pelas “luzes e o que acontece por lá [Las Vegas] a toda a hora, que é, na prática, o corrupio que temos do ponto de vista de IoT neste momento”, mas também porque “qualquer produto dentro da área pode ganhar relevância”, explica Pedro Rosa. O parceiro de gestão do Main Hub é peremptório: “se há uma altura em que é importante começar bem é agora”, até porque, neste momento, “temos a capacidade de fazer coisas interessantes e muito rapidamente”.
O baixo custo do hardware, comunicações mais baratas, um desenvolvimento facilitado por ferramentas de prototipagem que têm vindo a surgir, como a conhecida plataforma de hardware e microcontroladores Arduino, e uma maior consciência das pessoas sobre o partido que podem tirar das soluções IoT são tendências atuais que fizeram com que a IoT presenciasse um “ponto de mudança”.
Se há uns anos um sensor de temperatura “podia custar entre seis a 20 dólares, hoje em dia custa [o equivalente a] 50 cêntimos”, o que faz com que seja “muito fácil montar um dispositivo a um preço suficientemente apetecível para que toda a gente o utilize e que possa ser vendido a um mercado muito grande”, adianta o parceiro de gestão do Main Hub. Desenvolver um protótipo, por exemplo, algo que dantes só estava normalmente ao alcance de quem fosse ligado à eletrónica, pode agora ser feito por um programador.
“Estamos exatamente no mesmo momento de quando começaram a surgir aplicações para os telefones e toda a gente dizia: ‘isto agora é fácil, temos o marketplace não precisamos de andar a vender aplicação a aplicação’. O que vai acontecer na IoT é exatamente isto, apenas com uma diferença: as coisas são as aplicações” Pedro Rosa, Main Hub
Estas brechas foram aproveitadas por várias startups portuguesas que se lançaram como gente grande no mundo da IoT. A Bitalino, uma plataforma que permite o desenvolvimento de protótipos de aplicações utilizando sensores biométricos, é um dos exemplos mais flagrantes. No vídeo abaixo pode ver-se um dos projetos que teve por base a plataforma, no qual algumas pessoas foram submetidas a um detetor de mentiras, baseado, claro está, em dados biométricos, enquanto faziam um test drive. Terão ousado mentir?
http://https://www.youtube.com/watch?v=BFtNSiSuYhg
Além da Bitalino, destaca-se também a Kinematix, que foi apresentar-se em Boston e cuja finalidade é o fornecimento de um conjunto de informações que permitem melhorar o desempenho desportivo do utilizador – ao nível da corrida, por exemplo. A Iddo, por seu turno, desenvolveu um sensor para fazer conquistas numa bicicleta, numa espécie de Xbox, em que podemos passar por um local e fazer algo e o nosso amigo, no dia seguinte, replicar o mesmo e ganhar pontos.
Mas não ficamos por aqui, também a CookMellow tem ajudado os amantes da cozinha: uma máquina que permite cozinhar em temperaturas muito baixas e durante várias horas, consoante as preferências apresentadas pelo utilizador. A solução é, de resto, utilizada por chefs em restaurantes e está já a ser diretamente vendida nos Estados Unidos. Contudo se a sua dor de cabeça não estiver na cozinha, mas no facto de perder objetos – ou, até, o animal de estimação -, então a Lapa é a solução mais indicada para os encontrar.
Ao todo, o Main Hub identificou 80 startups a operar na área da IoT em Portugal, mas existirão, eventualmente, mais, em garagens ou aceleradoras e que ainda não foram comunicadas.
Matar a sede de financiamento
Seja como for, para chegar até aqui o financiamento é, muitas vezes, uma peça chave. Entre os maiores players a nível mundial do ponto de vista de investimento em IoT podemos encontrar multinacionais que dominam o mercado: Intel Capital, True Ventures, Qualcomm Ventures, Cisco Investments, Kleiner Perkins Caufield & Byers ou Felicis Ventures são alguns dos investidores mais ativos. Mais pormenores sobre esta dinâmica de investimentos podem ser, aliás, consultados na base de dados de capital de risco da CB Insights.
Além da possibilidade de ir buscar financiamento a investidores que queiram entrar no capital de determinada empresa, existem outras formas de obter financiamento, nomeadamente através da banca comercial ou de programas como o Horizonte 2020 – com fundos exclusivamente provenientes da União Europeia – ou o Portugal 2020 – que conjuga fundos europeus e do Orçamento do Estado. Este último foi, aliás, dissecado numa das 16 sessões do IoT Summit.
Depois de fazer o registo no Balcão 2020 e a certificação PME, o acesso por parte das startups ao financiamento do Portugal 2020 está dependente de concursos. Como explicou Paulo Carpinteiro, da Licks e Associados, no IoT Summit, existem três sistemas de incentivos: Investigação e Desenvolvimento Tecnológico – a fundo perdido e numa base first arrive, first serve, ou seja, quando o montante estipulado se esgota, por muito boa pontuação que o projeto tenha fica de fora; Empreendedorismo Qualificado e Criativo – reembolsável e no qual o Estado pode perdoar metade do empréstimo se a startup superar em 25% os objetivos a que se propôs inicialmente; e Qualificação e Internacionalização – também a fundo perdido. Mas, atenção, um dos critérios de avaliação dos projetos é a compatibilidade com a Estratégia Nacional de Especialização Inteligente que, por sua vez, varia de região para região do país.
Simplificando, Paulo Carpinteiro, apontou três aspetos de forma a orientar as startups para que estas sejam bem-sucedidas nos concursos:
1 Primeiro, é preciso estar muito seguro do projeto que se tem
2 Em seguida, olhar para a regulamentação e perceber se este se “encaixa” na mesma
3 E, por último, não ter medo de ir às instituições – IAPMEI, Agência de Inovação – e tirar todas as dúvidas.
IoT: um “negócio enorme”
Esta pode ser, assim, uma das formas de estimular o crescimento de uma startup e de aproveitar o potencial de negócio da IoT, que apesar de apresentar uma diversidade ao nível de definições, revela números que geram consenso. Em 2014 o crescimento de dispositivos ligados à Internet rondou os dois mil milhões, num ano, sendo que, até 2020, este número vai aumentar para oito mil milhões anualmente – num grupo do qual farão parte telemóveis, televisões, carros e uma panóplia de “coisas” que os fabricantes irão acabar por ligar. Este ano, a Gartner prevê que a fasquia suba para os 6,4 mil milhões de dispositivos conectados.
Tais resultados são reveladores de que “existe efetivamente um grande mercado e uma grande apetência para este tipo de negócio”, segundo Pedro Rosa, que acrescenta que “estamos a falar de um negócio enorme em termos de valor financeiro que vai atingir, mais ou menos, o equivalente ao Produto Interno Bruto da União Europeia” – cerca de 12,6 biliões de euros.
Com a previsão da GSMA de que, daqui a quatro anos, 27 mil milhões de dispositivos vão estar ligados em todo o planeta, o que hoje é um nicho amanhã pode passar a ser um mercado, pelo que identificar estes nichos, neste momento, poderá ser um fator diferenciador em termos de crescimento no futuro. “Pensem sobre isso”, aconselhou o responsável do Main Hub.