No dia 9 de fevereiro a coluna inteligente Apple HomePod começou a chegar às lojas e às mãos dos consumidores que tinham feito a reserva do equipamento. Por agora nada de HomePod em Portugal – o dispositivo só está disponível nos EUA, Reino Unido e Austrália, estando prevista a sua chegada aos mercados francês e alemão na primavera.
O facto de o HomePod não ser um produto vendido diretamente em Portugal não nos impede de recolher feedback, sobretudo das análises dos sites da especialidade, para perceber alguns aspetos importantes sobre a coluna inteligente da Apple.
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A primeira grande conclusão é que o HomePod parece ser, de todas as colunas inteligentes, aquela que tem a melhor qualidade sonora. Não é algo que espanta, como já aqui explicámos, pois a Apple seguiu um caminho completamente diferente das rivais Google e Amazon.
O que é que define, em primeiro lugar, uma coluna de som? Justamente a qualidade do seu som, pelo que neste ponto a Apple começou a ganhar pontos à concorrência mais direta. Ainda assim, o cenário complica-se um pouco para a marca da maçã no que toca à parte ‘inteligente’ da coluna.
A Apple integrou a assistente digital Siri no HomePod para permitir que os utilizadores possam ter algumas tarefas realizadas por comandos de voz e sem ser necessário mexer no smartphone. Acontece que a própria Siri e a sua integração no HomePod estão uns furos abaixo daquilo que os assistentes Alexa e Google Assistant conseguem fazer nos seus respetivos equipamentos.
Ou seja, aqueles que querem uma coluna inteligente pelo lado ‘inteligente’ provavelmente vão optar por uma Amazon Echo ou por uma Google Home – ou então vão ter de pensar um pouco mais e esperar alguns meses para ver como é que a Apple vai evoluir o HomePod em termos de ecossistema.
Em linhas gerais, estes são os dois grandes aspetos a ter em consideração relativamente ao HomePod neste momento. Mas nas análises escritas e nos vídeos que foram publicados sobre o novo gadget da tecnológica de Cupertino, houve um terceiro grande tema que se destacou e, de todos, talvez este seja até o mais relevante.
O HomePod é aquilo que os falantes de língua inglesa apelidam de walled garden, isto é, um jardim que é muito bonito, mas que está vedado a muitos dos que querem visitá-lo. Colocando por outras palavras, uma das maiores vantagens e um dos maiores defeitos do HomePod é estar completamente encerrado no ecossistema da Apple.
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A marca da maçã é conhecida por querer controlar o maior número possível de elementos de um determinado ecossistema, algo que é visível na fusão quase perfeita entre hardware e software que caracteriza a marca. Não é à toa que o iPhone, o iPad e os Mac são equipamentos com um desempenho quase irrepreensível, mesmo com especificações inferiores comparativamente com outros produtos das mesmas gamas.
Mas vamos a alguns exemplos para que possa perceber melhor por que razão o HomePod é, provavelmente, o produto mais Apple de sempre.
Um dos primeiros elementos que salta imediatamente ‘ao ouvido’ é o facto de o HomePod apenas ser totalmente compatível com o serviço de streaming Apple Music. Se de um ponto de vista do ecossistema isto faz sentido – a Apple usa novos produtos para reforçar a relação dos utilizadores com outros dos seus produtos -, por outro lado não faz qualquer sentido.
Estamos em 2018 e não é suposto um utilizador ficar vinculado a um único serviço de música por culpa do hardware. Ao fazer isto a Apple está a negar os mais de cem milhões de utilizadores do Spotify, por exemplo, e os milhões de pessoas que usam serviços como o Deezer, Pandora, Google Play Music ou Amazon Music.
‘Mas isso não é totalmente verdade’, dirão alguns. Em certa medida têm razão, pois é possível ouvir música do Spotify no HomePod através do AirPlay. O problema está no facto de não ser possível usar todos os comandos de voz para controlar as músicas transmitidas através do AirPlay e se é para não controlar através da voz, então talvez não seja necessário desembolsar 350 euros por uma coluna de som.
De facto esta decisão de ‘diminuir’ as capacidades dos serviços rivais no HomePod é muito questionável, mas por outro lado, já viu o quão rápido é o emparelhamento entre o HomePod e o iPhone, por exemplo? Parece magia, magia que só acontece num ecossistema que está desenhado e controlado de fio a pavio por uma única empresa.
Por outro lado, o emparelhamento perfeito com o HomePod só existe com o iPhone ou com o iPad. Se quiser usar o HomePod como uma coluna Bluetooth para o seu computador – mesmo que seja Mac -, para o seu televisor ou para um qualquer outro dispositivo que tenha lá em casa, não vai conseguir.
O que volta a provocar aqui algum contrasenso: o serviço de música Apple Music também está disponível para dispositivos Android, mas os dispositivos Android não são compatíveis com o HomePod. Neste caso a Apple preferiu prejudicar o seu próprio serviço de música, desde que não desse acesso ao HomePod aos utilizadores do sistema operativo mais popular do mundo.
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A verdade é que a Apple já teve incursões semelhantes no passado – os leitores de música iPod só eram compatíveis com o programa iTunes e durante muito tempo o iTunes não esteve disponível para computadores Windows. Através deste seu ecossistema unido a Apple conseguiu revolucionar o consumo de música digital e ganhou pulmão que lhe permitiu entrar em novos segmentos de mercado, como o dos smartphones.
Um feito semelhante parece mais difícil de conseguir em pleno 2018. Claro que em qualquer altura a Apple pode lançar uma atualização de software que ‘abre’ o HomePod para serviços de música externos, para equipamentos que não são iOS e até para comandos de voz que funcionam com outras aplicações, por exemplo, para poder chamar um uber a partir da coluna de som. A grande questão aqui é que a Apple podia – ou devia? – ter tudo isto no lançamento do HomePod, mas escolheu não fazê-lo.
Uma outra área na qual as colunas inteligentes estão a ganhar dinamismo é no controlo dos restantes gadgets conectados que existem na casa. No caso do HomePod só será possível executar comandos de equipamentos que sejam compatíveis com a plataforma Apple HomeKit, o que mais uma vez volta a reforçar a ideia de um ecossistema fechado.
Como escreveu um repórter do Mashable, a “música não é só sobre fidelidade de áudio”, “música [em 2018] também é sobre teres a possibilidade de escolher a partir de que serviço tens a tua música”.
No final e em jeito de conclusão, não há nada de errado com a estratégia da Apple – a empresa sabe muito bem as escolhas que fez e terá de viver com todas as consequências positivas e negativas dessas escolhas. Se dúvidas não há de que o HomePod vai agradar aos fãs mais ferrenhos da Apple, resta saber como é que a Apple vai a médio prazo tentar atrair novos consumidores para o seu jardim perfeito.