Hack for Good: os 10 melhores projetos tecnológicos com impacto social

“Hackers? Aqueles bandalhos. Só sabem usar a tecnologia para desgraçar a vida de algumas pessoas…”

Por: muitos internautas.

Calma. Um hacker não é obrigatoriamente uma pessoa que usa os conhecimentos informáticos para praticar o mal. Esses são os crackers. Os hackers dominam e exploram a tecnologia para melhorá-la, assim como à experiência dos utilizadores – ainda que para isso tenham que saltar, por vezes, algumas barreiras legais, mas não o fazem com um mau propósito.

“Os novos filantropos são os hackers”, disse o presidente do conselho de administração da Fundação Calouste Gulbenkian, Artur Santos Silva, justamente perante uma plateia com dezenas de hackers. Estava perante os participantes do evento Hack for Good, a primeira hackathon promovida pela fundação.

Existem dois exemplos desta máxima que são bem conhecidos: Bill Gates, cofundador da Microsoft e agora filantropo através de uma fundação própria, e mais recentemente Mark Zuckerberg, diretor executivo do Facebook, que já prometeu dar quase toda a sua fortuna para projetos de empreendedorismo com impacto social.

O objetivo na Hack for Good, organizado em Lisboa, era claro: criar soluções e ferramentas que ajudem a resolver um dos principais problemas da sociedade portuguesa, o envelhecimento.

Mais de 400 pessoas responderam à chamada do evento, mas por questões de logística não foi possível acolher todos os participantes. Na competição per si participaram mais de 150 pessoas de diferentes áreas num total de 36 equipas.

Hoje à tarde, 24 de abril, foram conhecidos os dez projetos finalistas, aqueles que na opinião do júri têm condições e podem ter um impacto social. O FUTURE BEHIND assistiu às apresentações finais e explica-lhe em que consistiam os dez melhores projetos.



Pets For Good: Website e aplicação móvel que permite ligar idosos com tempo – e por vezes falta de companhia – a pessoas que precisam de alguém que olhe pelos seus animais de estimação.

Existem duas tipologiass de perfis: uma para os idosos que dizem quando estão disponíveis; e outra para animais, com os seus donos a dizerem quando precisam de auxílio. Depois a plataforma faz uma corresspondência entre as partes. No final os utilizadores devem dar uma classificação sobre o serviço prestado.

Sention: Esta equipa, constituída por três participantes estrangeiros, criou uma ideia que se destinava acima de tudo para doentes que ainda estivessem na primeira fase de demência.

O projeto consiste numa pulseira inteligente que é equipada com um software especial. Apoiado em tecnologias de machine learning e inteligência artificial, a pulseira conseguia reconhecer a voz de algumas pessoas e entender partes críticas da conversa.

Por exemplo: a mãe da Maria tem demência e está a dizer-lhe que amanhã vão almoçar as duas juntas. O wearable marca um evento e depois recordará o utilizador do compromisso que tem.

VoiceRing: Este foi o projeto que ficou no terceiro lugar do Hack for Good. O VoiceRing consiste numa aplicação gestora de tarefas para os idosos autónomos e ativos. O utilizador vai receber alertas de atividades que deve realizar e que são definidas remotamente pelo cuidador. Caso não dê a tarefa por concluída, a aplicação vai insistindo até que alerta o cuidador para esse facto.

O sistema contempla um interface simples e um conversor de texto para voz que permite a qualquer idoso, mesmo os que não sabem ler, utilizar a ferramenta.

Shopping Volunteers: Este projeto pretende criar uma rede de voluntários que ajudam os idosos no transporte das compras mais pesadas. Exemplo: o Sr. José liga para um determinado número e diz que precisa de seis quilos de açucar. Os voluntários da sua área são notificados e alguém compromete-se a executar a entrega.

A mesma aplicação que liga idosos e voluntários em termos de serviço também permite que os voluntários saibam o caminho para os locais onde devem deixar as encomendas.

Mas o objetivo final desta equipa acaba por não ser tanto a entrega de bens, mas criar uma rede de confiança em torno do idoso que lhe permite ter contacto com mais pessoas.

H4PPS: Esta é uma plataforma de beneficência conjunta. Como assim? Se um idoso tiver um problema, deixa-o nesta plataforma. Algum grupo de jovens ou investigadores podem usar os seus conhecimentos para resolver esse problema.

Mas pelo caminho estarão a construir currículo que lhes poderá dar mais hipóteses futuramente no mercado de trabalho. E caso os projetos resolvam necessidades de grande dimensão, podem mesmo vir a tornarem-se em jovens empresas.

A H4PPS quer ser esta montra de base tecnológica orientada para a inovação social.

Cuidar-E: Este foi o grande projeto vencedor do Hack for Good e que o FUTURE BEHIND explora neste artigo com mais pormenor. Na prática é uma plataforma Web destinada aos cuidadores informais.
Assenta em quatro grandes funcionalidades como o registo de tarefas do cuidador e a evolução do seu idoso, por exemplo, em exames físicos. Mas também pretende ter uma componente de evolução constante, permitindo que os cuidadores partilhem dicas entre si e possam aceder a um robô de inteligência artificial para receberem mais dicas sobre como melhorarem a sua atividade.

MEDCRTL: Muitos idosos admitem não tomar alguns dos seus medicamentos por uma razão muito simples: esquecimento. A aplicação MEDCRTL permite fazer uma gestão da toma dos medicamentos.

Em resumo funciona como uma app de lembretes específica para os medicamentos, mas tem alguns elementos diferenciadores como o facto de mostrar ao idoso qual o medicamento que deve tomar. Os alertas são feitos através da luz, do som e da vibração do telemóvel.

Outro aspeto que pode interessar é o facto de a aplicação poder ser cogerida por um cuidador que recebe, por exemplo, alertas quando uma caixa de medicamentos está para acabar.

Ajudada: Muitos idosos estão isolados devido ao fenómeno da desertificação rural. Com este projeto as suas mentoras pretendem ligar jovens de diferentes zonas a pessoas mais velhas que estão com dificuldade em temas específicos.

Se é na agricultura, talvez o Carlos e o Miguel possam ajudar. Mas se o problema é com tecnologia o Luís e o João são quem vai dar uma mãozinha. Os idosos não precisam de ser mestres em tecnologia para acederem a esta ajuda já que o sistema será compatível com SMS.

O projeto Ajudada pretende ligar não só as pessoas como instituições de intervenção social, caso das juntas de freguesia. O conceito já está a ser testado em Juncal do Campo, Castelo Branco.

Ximi: Foi uma das apresentações mais divertidas da tarde, mas pretendem resolver um problema bem sério: a solidão. Estima-se que 1,2 milhões de idosos estejam isolados e para contrariar esta tendência, uma equipa de engenheiros da Compta desenvolveu um conceito de jogo.

O Ximi dá aos idosos uma pontuação por cada tarefa que realizarem no quotidiano. E quantas mais pessoas essa tarefa envolver, mais pontos ganham. O objetivo é que estes pontos tenham mesmo valor e possam ser trocados por prémios sempre que são ultrapassados determinados níveis.

O conceito agradou aos jurados e acabou por levar para casa o segundo lugar da Hack for Good.

Stories for Good: Os idosos são verdadeiros bastiões de histórias e sabedoria. A equipa da Stories for Good decidiu então enquadrá-los num conceito que em Portugal está em pleno crescimento: o turismo.

Vai visitar a Torre dos Clérigos e leu o guia turístico. O mesmo que todos leem. Mas depois sentou-se num banco perto do monumento. Esse banco tem integrado hardware tecnológico que lhe permite ouvir uma história contada por um idoso. É sabedoria popular, daquela que não vem com os livros.

Além de enriquecer o património e de dar mais contexto a alguns edifícios e zonas históricas, é também uma forma de integrar os mais velhos nas histórias da sua cidade.



Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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