Em maio a Google reservou espaço na sua conferência anual de programadores não só para falar do Project Ara, o smartphone modular, mas também para mostrar como estava vivo e moderno o conceito. A promessa do equipamento que pode ser montado às peças estava cada vez mais próxima. Era suposto chegar daqui a algumas semanas, durante o último trimestre.
Agora a Google confirmou à publicação Venture Beat que o Project Ara foi cancelado. Apenas isso: confirmou que já não existe e escusou-se a dar mais detalhes. Os primeiros relatos de que a tecnológica norte-americana estaria prestes a ‘colocar na gaveta’ as intenções de desenvolver um smartphone modular foram avançados pela Reuters.
Relatos ainda por confirmar dizem que foi o novo patrão do segmento do hardware, Rick Osterloh [no centro da imagem], quem terá tomado a decisão, tendo como objetivo criar uma linha de equipamentos mais coesa e menos apoiada em projetos de experimentação.
A evolução do Project Ara
O Project Ara começou por ser um smartphone quase idílico: o utilizador podia trocar as partes que desejasse, atualizando o seu smartphone sem grande dificuldade e ajudando a reduzir o impacto ambiental causado pelos desperdícios eletrónicos.
Mas a própria Google acabaria por afastar-se do conceito original e focou-se num dispositivo no qual era possível trocar alguns componentes – não todos – que ajudassem o equipamento a adaptar-se melhor para cada situação. Vai numa grande viagem? Coloque uma bateria maior. Vai de passeio? Talvez seja melhor levar o módulo de fotografia.
Ainda que já não estivesse tão promissor como a ideia original – o seu designer, Dave Hakkens, veio criticar a postura da Google -, o Project Ara continuava a ser um dos projetos tecnológicos mais ambiciosos dos últimos anos. Seguramente não teria o mesmo impacto que o iPhone teve em 2007, mas pelo menos ia trazer algo novo e fresco ao mercado.
A LG com o smartphone G5 e a Motorola com o Moto Z também seguiram o caminho da modularidade. Mas como já vimos são caminhos distintos. Por algum motivo o da Google parecia ser aquele que mais respeitava a ideia de um smartphone modular, por isso é que existia tanta expectativa em torno do equipamento.
Se nem a toda-poderosa Google parece disposta a arriscar no conceito, deverão a LG, a Motorola ou outras empresas continuar a fazê-lo? De certa forma todo o ecossistema fica a perder com o desaparecimento do Project Ara. Resta saber como responderão as tecnológicas que já estão a apostar no conceito – vão evolui-lo ou também vão deixá-lo cair?
Ainda que o Project Ara não tenha definitivamente chegado ao mercado neste seu formato mais recente, prometia ser uma maravilha tecnológica. Gerir um smartphone seria como brincar como um balde de legos: tirar uma peça aqui, colocar outra ali e no fim até parecia que todos são mestres do hardware.