Lançamos a questão: o que é que acontece quando o poder do mobile se alia aos avanços em machine learning? Para a Google a resposta é uma nova aplicação de mensagens instantâneas: a Allo. Depois de algumas tentativas no campo da comunicação que não atingiram uma magnitude surpreendente – como o Google Talk, Buzz ou Hangouts -, será a Allo bem-sucedida?
Emojis, stickers, funcionalidade ink para desenhar no ecrã, respostas inteligentes ou redimensionamento do tamanho das letras para uma entoação mais fiel àquilo que queremos expressar (Whisper Shout) são algumas das características que compõem este que é um dos novos bebés da tecnológica, anunciado no primeiro dia da conferência de programadores Google I/O.
A Allo, que chegará este verão para Android e iOS, “é uma app de mensagens inteligente que torna as conversas mais fáceis e mais expressivas”, considera a Google. Tal como o WhatsApp, “baseia-se no número de telemóvel, permitindo manter o contacto com qualquer pessoa da lista telefónica, e possui uma integração profunda de machine learning”, afirma a tecnológica.
Talvez por isso a feature com mais peso seja o facto de esta incluir a Google Assistant, que dispensará a necessidade de andar a saltar de app em app para reservar uma mesa para jantar, saber resultados desportivos, fazer apostas ou jogar, como exemplifica a Google no seu blog. Através desta assistente virtual, o mundo Google será também transposto para os chats: quando falar com os seus amigos será possível adicionar às conversas pesquisas, mapas, vídeos do Youtube ou traduções – basta escrever ‘@google’. Compromissos diários, detalhes sobre voos e hotéis ou fotografias da última viagem são exemplos de pedidos que serão também facilmente correspondidos.
Com o passar do tempo também não precisará de escrever para responder a mensagens. A app irá fazer questão de conhecê-lo melhor e perceber se é uma pessoa de ‘haha’ ou ‘lol’ e sugerir respostas adaptadas ao estilo de cada um. O mesmo aplica-se a fotos: se receber uma imagem de um gelado é provável que a Allo sugira comentários como ‘yummy’ ou ‘Adoro gelados’. Reconhece este serviço de Resposta Inteligente? É natural, é similar ao da Inbox, uma versão mais avançada do Gmail.
Seguindo também pisadas de outro produto Google, o Chrome, a tecnológica apetrechou a Allo com o modo Incognito, com vista a encriptações end-to-end com base no Signal Protocol – o mesmo standard usado pelo WhatsApp e pela app Signal. Mas, atenção, ao contrário do que acontece com o WhatsApp, por exemplo, esta proteção não está ativa por omissão e, por isso, o utilizador terá de ativá-la manualmente no Incognito Mode.
… uma jogada estratégica?
Apesar do entusiasmo em torno desta nova aplicação de conversação, levantam-se algumas questões sobre a Allo. Tendo em conta que, por exemplo, o Hangouts, uma plataforma para enviar mensagens, fazer videochamadas ou chamadas de voz, vai manter um desenvolvimento ativo, parece difícil antever o salto da Allo. E já agora também do Duo, o novo serviço de videochamadas.
Como será que vão conviver entre si? E como é que os utilizadores vão conviver com elas? Olhando um pouco para outras escolhas que a Google fez, o mais provável é a tecnológica deixar os serviços ganharem algum tração e se a Allo tiver realmente valor então com o tempo será a principal causa do fim do Hangouts, por exemplo.
Mas também é preciso lembrar que o Hangouts é mais do que uma aplicação de messaging, também faz parte da estratégia da Google no segmento empresarial e representa uma aposta importante na parte da videoconferência.
Será a Allo uma opção mais viável? O facto é que embora há três anos a Google estivesse a caminhar para reunir numa única app o que estava aqui e ali, para conseguir tirar o máximo partido da experiência de comunicação da Google serão precisas quatro apps: Hangouts, Allo, Duo e Google Messenger.
Reitera-se também que com a integração de uma app nativa de SMS no Android ou abrindo a possibilidade de enviar mensagens via desktop, a Allo poderia vir a representar um forte oponente da iMessage da Apple. Ainda que existam outros gigantes com os quais terá de se bater.
A febre das apps de chat
A verdade é que as aplicações de mensagens instantâneas têm vindo a crescer como cogumelos. E esta adoção mostra-se galopante e mais rápida do que a das redes sociais. Se em tempos apps de chat populares na Ásia – WeChat, KakaoTalk ou LINE – assumiam a liderança no que toca a angariar utilizadores de forma inovadora, hoje o Snapchat, Kik, WhatsApp ou Messenger estão a contrariar esta tendência.
Numa apresentação no evento Engage 2016, que decorreu na semana passada em Praga, Reggie Bradford, vice-presidente sénior da Oracle, chamou a atenção para alguns dados relativos à revolução das app de chat. Senão vejamos: a WeChat precisou apenas de sete meses para chegar aos 50 milhões de utilizadores. “Sim, este é um exemplo vindo do mercado asiático, onde, normalmente, a primeira introdução à Internet é feita via mobile, mas não deixa de ser um exemplo incrível da velocidade de adoção destas plataformas dinâmicas”, ressalvou Reggie Bradford.
De acordo com o Business Insider, em janeiro, as quatro maiores apps de mensagens – WhatsApp, Messenger, WeChat e LINE – ultrapassaram em utilização as quatro maiores redes sociais, sendo que dados da Statista, referentes ao mês passado, indicam que 4.4 mil milhões de pessoas em todo o globo utilizam apps de chat.
Redes sociais ou apps de mensagens instantâneas, quem levará a melhor? “Não o vejo como uma opção entre um ou outro. No mundo multicanal, onde se utilizam todos ao mesmo tempo, trata-se de ir ao encontro dos consumidores em todos os dispositivos, canais e plataformas. A escolha certa será ambas: redes sociais e apps de mensagens. Cada um serve necessidades diferentes”, rematou o responsável da Oracle. Será, assim, esta parceria que “irá ajudar a guiar a onda da evolução e a revolução tecnológica que está em curso”.