Em 2012 o diretor executivo da Uber, Travis Kalanick, viu uma demonstração dos carros de condução autónoma da Google. Quis comprar 20 unidades a pronto. “Parecia ser o próximo passo óbvio”, disse a propósito da tecnologia e relativamente ao futuro da Uber.
Esse futuro começa já no final deste mês quando os primeiros veículos autónomos da empresa chegarem às estradas da cidade de Pittsburgh, nos EUA, reporta a Bloomberg. A Uber consegue assim adiantar-se à Google e à Tesla na corrida pelo segmento da condução autónoma no sentido em que vai começar a testar, em ambiente real, um serviço comercial de mobilidade autónoma.
Para os utilizadores da Uber em Pittsburgh pouco ou nada vai mudar: vão continuar a chamar um uber através da aplicação e só quando o carro chegar ao local é que vão perceber que se trata afinal de um carro-robô. Os veículos autónomos serão distribuídos de forma aleatória, garante a empresa.
Ainda que os sistemas de condução sejam autónomos, haverá presença reforçada no banco do condutor. Um humano estará sempre em contacto com o volante pronto a assumir o controlo quando for necessário. Acontece que estes humanos serão engenheiros treinados para perceberem os comportamentos da máquina.
No lugar ao lado do condutor irá estar um outro engenheiro que vai apontar dados e informações sobre as diferentes viagens que os veículos autónomos vão realizar.
Para ajudar os passageiros a perceberem por que razão é aquele carro especial, todos os veículos vão ter no banco traseiro um tablet onde existirão informações sobre o SUV, um Volvo XC90 alterado, e sobre o projeto de condução autónoma. Para ajudar a suavizar um possível medo dos carros-robô as viagens realizadas a bordo destes veículos serão gratuitas.
Uma questão de sobrevivência
Foram precisos mais dois anos para que Travis Kalanick começasse a concretizar a sério a sua visão de um dia ter uma frota de carros autónomos. Já no final de 2014 deslocou-se até Pittsburgh para começar a construir a sua equipa maravilha de desenvolvimento de um sistema de condução autónoma.
Foi bater à porta das divisões de robótica e engenharia da Universidade de Carnegie Mellon para contratar dezenas de investigadores. Um deles, John Bares, recusou a proposta de Travis Kalanick por três vezes, mas admite que o projeto sempre foi “tentador”.
Os testes nas estradas de Pittsburgh começaram em maio deste ano
John Bares acabaria por juntar-se à Uber durante o ano de 2015 e foi a pessoa que montou a equipa que está atualmente a desenvolver os sistemas de condução autónoma que vão começar a ser testados no final de agosto.
Os carros do modelo Volvo XC90 estão apetrechados com diferentes tipologias de tecnologias que analisam a informação contextual em tempo real. Todos os dados são depois processados num computador que está colocado na bagageira do veículo e que até tem um sistema de arrefecimento líquido para manter toda a ação dentro dos limites.
Outro passo que ajudará a concretizar a visão de longo termo da Uber foi dado em julho quando a tecnológica norte-americana comprou a Otto, uma empresa especializada no desenvolvimento de kits de condução autónoma para camiões. O negócio estará avaliado em 680 milhões de dólares.
Os principais fundadores da Otto são todos antigos engenheiros que trabalharam no sistema de condução autónoma da Google, mas um deles, Anthony Levandowski, explicou qual o verdadeiro apelo da proposta da Uber: “Ficámos entusiasmados com a possibilidade de construirmos algo que pudesse ser lançado mais cedo”. E curiosidade das curiosidades: Levandowski foi quem fez a demonstração dos carros da Google em 2012 que captou a atenção de Kalanick.
A propósito do timing, o CEO da Uber diz que a questão dos veículos autónomos é mais do que uma aposta tecnológica, é algo crucial para a sobrevivência da empresa no longo termo. Travis Kalanick diz que a partir do momento em que a Google assumiu uma posição neste segmento era imperativo para a Uber ter uma alternativa.
“Se a Uber quiser estar a par da Google e ser líder da mobilidade autónoma, temos de ter os melhores cérebros”, finalizou.
A Uber celebrou dois anos de atividade em Portugal a 4 de julho
Viagens ridiculamente baratas
Este é o grande objetivo da Uber a longo prazo. Criar um sistema de mobilidade tão acessível que vai fazer os utilizadores duvidarem da necessidade de ter um veículo pessoal.
A Uber consiste numa plataforma tecnológica. Os carros não são da empresa e na entrevista dada à Bloomberg o CEO garantiu que no futuro é para manter este esquema, ainda que seja alargado a mais marcas além da Volvo.
Além da dispensa de carros, a Uber vai também poder dispensar os condutores humanos. Mais de um milhão de acordo com os valores apontados na reportagem. Ao eliminar o factor ‘trabalhador’ da equação a Uber vai conseguir reduzir as margens de custo para o passageiro visto que não tem de dividir parte das receitas.
Sem despesas com veículos e com condutores, a Uber apenas precisa de focar os seus investimentos no campo da investigação e desenvolvimento. Nos próximos anos será certamente uma área que vai ‘engolir’ uma parte significativa do capital, mas convém recordar que o número de viagens realizadas através da Uber está a aumentar de forma considerável.
Nos últimos sete meses a tecnológica norte-americana foi responsável por mil milhões de deslocações, um número que tinha demorado sete anos a concretizar da primeira vez.