Não é segredo que a popularização dos smartphones e da fotografia mobile tem provocado uma quebra na venda de câmaras fotográficas. De acordo com dados da empresa de análise GfK, só em 2016 o sector da fotografia recuou 10% no mercado português.
É fácil de perceber porquê: o smartphone anda sempre connosco, o que significa que trazemos uma câmara sempre connosco; com o passar dos anos a qualidade das câmaras dos smartphones também tem melhorado significativamente e já não é necessário ter um dispositivo topíssimo de gama para conseguir boas fotografias.
Diz-nos a análise da GfK que apesar do fenómeno da fotografia mobile, há um segmento de utilizadores que por outro lado está muito ligado à sua câmara fotográfica dedicada. Mas mais do que apostar em novos modelos, apostam em novos acessórios, como nas lentes intermutáveis, para dar nova vida às câmaras.
Eis que aparece a Fujifilm com um produto que não encaixa nestes dois perfis, mas que ao mesmo tempo acaba por responder aos utilizadores que têm um pouco destes dois perfis. No ano fiscal de 2016 a empresa japonesa vendeu em Portugal perto de 22.500 câmaras da série Instax, equipamentos que permitem imprimir na hora as fotografias que são captadas.
Numa altura em que o número de fotografias nos perfis de Instagram continua a acumular a grande ritmo, assim como as imagens na galeria dos smartphones, talvez não fosse de esperar uma grande procura por câmaras instantâneas. Hoje ficamos a saber que não é bem assim.
Em todo o mundo a Fujifilm vendeu 6,6 milhões de câmaras Instax no ano fiscal de 2016
Em Portugal a venda de câmaras Instax aumentou 60% entre 1 de abril de 2016 e 31 de março de 2017. Neste período, as vendas de filmes [papel fotográfico para as Instax] aumentaram 90%. Para o novo ano fiscal a Fujifilm espera um novo aumento de 60% na venda de câmaras Instax em Portugal e um aumento de 40% na venda de filmes. Os dados foram revelados pela diretora comercial de photo e imaging da Fujifilm Portugal, Teresa Fonseca, numa apresentação à imprensa.
Parte deste crescimento será feito graças ao novo modelo que a empresa japonesa está a lançar no mercado português. Chama-se Instax Square SQ10 e é uma câmara instantânea híbrida: tanto integra um sensor e um sistema de processamento digital, como preserva um lado analógico com a impressão das fotografias.
“As câmaras analógicas vão continuar a vender. A SQ10 aparece numa situação em que o analógico e o digital convivem, para um segmento de clientes que gosta de maior qualidade fotográfica, de filtros, que gosta de tratar a sua imagem”, explicou Teresa Fonseca a propósito do novo modelo.
De acordo com os porta-vozes da Fujifilm Portugal, a Instax Square SQ10 é direcionada para os millennials, para os influenciadores digitais, para os criativos, para as pessoas ligadas à cultura e à moda, e para os utilizadores do Instagram.
Em Portugal a Instax Square SQ10 vai custar 290 euros. Cada pack com dez papéis de fotografia custa 10 euros
‘Do Instagram?‘, perguntarão alguns dos leitores. Sim, para os utilizadores do Instagram. Existem vários aspetos nesta máquina que foram acautelados justamente para que a experiência que as pessoas têm com o equipamento acabe por ser semelhante à experiência que têm com as plataformas digitais que já utilizam diariamente.
Isto é acima de tudo notório através de uma opção que a câmara tem para a adição de filtros nas fotografias. Existem dez filtros disponíveis para personalizar os disparos captados, sendo que o filtro tanto pode ser aplicado antes da captação da fotografia, como depois.
Quando estiver satisfeito com o resultado basta pressionar o botão verde e ver a fotografia sair pela parte superior da Instax Square SQ10. A imagem tem um formato quadrado, respeitando o rácio de 1:1. Durante muito tempo este foi também o formato que reinou no Instagram e foi justamente este aspeto a la Polaroid que ajudou a rede social a ganhar relevância. Se o Instagram soube adaptar o conceito ao mundo digital, agora é a vez da Fujifilm tentar fazer o caminho inverso.
Uma curta experiência com a nova SQ10
É inegável que há um apelo especial na utilização de uma câmara que tem um forte sentido analógico, sobretudo quando estamos habituados à produção de conteúdos exclusivamente digitais. Mas houve elementos que a Fujifilm soube acautelar de forma inteligente.
Por exemplo, nos smartphones serão poucos aqueles que estão preocupados com o número de fotografias que tiram ou se há ou não fotografias mal tiradas. No caso da Fujifilm Square SQ10 também não é necessário ter esta preocupação, pois a câmara permite guardar numa memória temporária os últimos 50 disparos. Caso o utilizador queira, pode aumentar a memória da câmara através de um cartão SD.
Quer isto dizer que não há um receio de esgotar rapidamente os filmes da câmara. Cada pacote está equipado com 10 papéis fotográficos, sendo que o custo por fotografia é de um euro. Aqui, na parte da impressão, é que já existe cuidado. Certamente não vai imprimir todas as fotos que tira, vai escolher aquelas que realmente estão boas em termos visuais ou que têm um forte sentido emocional.
Além da personalização através de filtros, os utilizadores podem manipular as imagens em parâmetros como a iluminação e ao nível do sombreado externo [efeito vinheta].
Do que experimentámos da nova Square SQ10, existe um desfasamento entre aquilo que é mostrado no ecrã de três polegadas da câmara e aquilo que sai depois ao nível da impressão. Na câmara a imagem é mais clara, sendo que depois na impressão fica consideravelmente mais escura. Talvez seja uma questão de ajuste de definições, mas isto é algo que só poderemos confirmar num teste mais prolongado à câmara instantânea.
Sobre as primeiras impressões podemos dizer que gostamos da focagem relativamente rápida, da inclusão de botões dedicados para as diferentes opções e por a Fujifilm ter apostado num botão direcional rotativo. Trocar o ‘rolo’ de papéis fotográficos também é um processo bastante simples e que apenas deverá roubar entre 30 a 40 segundos ao utilizador.
A Instax tem um sensor CMOS de 1/4 polegadas, abertura do obturador de f/2.4, com a impressora a atingir 256 níveis de cor
Em termos de hardware propriamente dito, a câmara é construída em plástico, algo que aceitamos para uma utilização mais quotidiana e mais sujeita a riscos, mas que acaba por parecer um pouco barata tendo em conta o preço da SQ10. A câmara incorpora um flash, tem dois botões de disparo – um de cada lado, para facilitar a captura de imagem – e tem algumas opções criativas como a criação de fotografias com dupla exposição.
Mesmo disponibilizando um número interessante de opções dentro desta gama de equipamentos, a curva de aprendizagem da Fujifilm Instax Square SQ10 é relativamente baixa – ao fim de cinco minutos consegue ter perfeitamente quase todos os aspetos da câmara memorizados.
Relativamente à bateria preferimos guardar algumas reservas – a autonomia da unidade de testes não foi brilhante, mas a Fujifilm disse que por ser de testes podia não estar na capacidade total de carga.
No final fica a sensação de que a câmara garante de facto uma experiência diferenciadora, ao mesmo tempo que acaba por não nos afastar assim tanto da experiência que temos com a criação de uma fotografia no Instagram. Mas existe toda uma carga emocional ligada ao lado físico da fotografia que aqui faz toda a diferença: preferia identificar um amigo numa foto ou entregar-lhe em mãos um momento que partilharam juntos?