Para resistir aos próximos dez anos o Facebook terá de comportar-se mais como uma startup

Era um dos nomes grandes do Web Summit: Mike Schroepfer, diretor tecnológico do Facebook. Não veio a Lisboa falar dos 1,79 mil milhões de utilizadores que a rede social tem ou de como está a correr a investida do Instagram contra o Snapchat. Num evento que é dedicado às startups, o CTO veio falar de como o Facebook precisa de comportar-se mais como uma jovem empresa se quiser resistir aos próximos dez anos.

Tentar e falhar ou “big bets, big failures“, como disse o executivo. O lema de tantas startups continua a ser um mote que deixa os engenheiros da tecnológica em bicos de pés. Mike Schroepfer partilhou com a audiência um destes momentos e que aconteceu recentemente: a explosão do foguetão Falcon 9 da SpaceX que levava a bordo um satélite do Facebook que ia dar internet a zonas remotas onde não há ligação à ‘grande rede’.




“É uma chatice”, exclamou, referindo-se ao incidente. “Vai atrasar-nos um pouco”.

Este foi um contratempo que o Facebook encontrou numa das áreas na qual tem investido mais: conectividade. A ambição da empresa é pública: criar condições para que todas as pessoas do mundo possam estar ligadas à internet.

“Os próximos passos é trazer os quatro mil milhões de pessoas que ainda não estão ligadas à internet. Precisamos de ir para o espaço, pensamos que soluções de alta altitude resultam”. “Queremos reduzir o preço do acesso à internet de forma dramática para todo o mundo”, defendeu Mike Schroepfer.

Parte destes esforços também passam pelo projeto dos drones gigantes, o Aquila, sendo objetivo criar uma constelação destas aeronaves não tripuladas por forma a fornecer internet às zonas suburbanas. Já para as zonas urbanas o Facebook está a trabalhar em ligações sem fio com débitos na casa dos gigabits.

Curiosamente nem foi o campo da conectividade aquele ao qual o CTO dedicou mais tempo. Uma boa parte da sua apresentação foi dedicada à inteligência artificial.

O Facebook não tem feito muito barulho relativamente a este elemento, mas pelo discurso de Mike Schroepfer esta parece ser uma área crítica para a tecnológica. A grande diferença é que neste segmento a rede social ainda está a dar os primeiros passos.

“Entre 1193 e 2015 o poder de computação multiplicou-se por um milhão”, defendeu, mas para depois acrescentar: “Estamos a anos de distância do grande potencial da inteligência artificial computacional”.

Um exemplo: o Facebook agora tem uma ferramenta que permite combinar estilos artísticos com vídeo em direto, ao estilo do que faz a aplicação Prisma. O que agora parece simples e está nas mãos dos utilizadores – através do smartphone -, é no entanto resultado de uma grande evolução tecnológica.

No ano passado um sistema semelhante precisava de um computador topo de gama com uma placa gráfica topo de gama para conseguir produzir o mesmo resultado. Pouco mais de um ano depois já pode ser ‘comprimida’ num smartphone. Isto para provar que em pouco tempo dão-se saltos tecnológicos enormes.

O CTO do Facebook disse que este era o grande objetivo da empresa: aprender novos elementos no segmento da inteligência artificial para colocá-los nas suas aplicações.

A terceira grande área na qual o Facebook está a investir bastante é na realidade virtual. Neste segmento o grande ponto de interesse da apresentação do diretor tecnológico do Facebook foi a resposta a uma questão muito simples: por que razão vai agora a realidade virtual vingar, quando já falhou no passado?

“Agora temos tecnologias e gráficos que nos permitem ter um maior sentido de imersão”. O Facebook tem uma simulação onde coloca as pessoas na ponta de um precipício e pede para que os utilizadores avancem – algo que não acontece. O realismo da simulação já é suficiente para mexer com o sentido físico do organismo.

Conectividade, inteligência artificial e realidade virtual. São três áreas que nada têm a ver com o núcleo do Facebook – redes sociais. Por isso é que a tecnológica tem de saber comportar-se como uma startup e por isso é que o seu diretor tecnológico é um homem feliz.

“Por isso é que estou tão entusiasmado sobre o futuro”.

Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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