O primeiro evento do Arquivo.pt também serve para celebrar a primeira década do projeto

Qualquer projeto que chegue a dez anos de vida tem motivos para celebrar – terão sido certamente dez anos a concretizar o grande objetivo a que se propôs. Mas quando falamos num projeto que vive da memória coletiva da web, dez anos sabem a muito pouco.

É o que acontece com o Arquivo.pt, o projeto que nasceu para ser a memória da web portuguesa. Apesar de já disponibilizar o acesso a páginas web que remontam até ao ano de 1996 e de a génese do projeto ter acontecido no ano 2000, a verdadeira concretização da plataforma só agora está a chegar à sua primeira década.

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Atualmente o Arquivo.pt já permite aceder a mais de quatro mil milhões de páginas da web portuguesa e agrega perto de cinco milhões de sites. Ao todo esta parte do património digital português equivale a mais de 200 terabytes de dados.

“No Arquivo.pt quando a pessoa clica no resultado, o Arquivo.pt reproduz a página como ela era na data em que foi recolhida. É uma preocupação e um desafio diferente: tem de se preservar a informação da forma mais fidedigna e original possível. Isto é um desafio de investigação e tecnológico bastante grande que nós temos que enfrentar. Além disso, além de preservarmos uma determinada página numa determinada data, preservamos também a evolução da página ao longo do tempo”, explicou Daniel Gomes, investigador da Fundação para a Computação Científica Nacional (FCCN), um dos criadores e atual líder do Arquivo.pt, numa entrevista recente ao FUTURE BEHIND.

Nessa altura já tínhamos dito que o Arquivo.pt partilha a mesma lógica do Vinho do Porto – quanto mais velho, melhor. “O Arquivo.pt já é grande hoje. Imagine-se daqui a um século”, lê-se na publicação da FCCN relativamente ao décimo aniversário do projeto.

Para assinalar esta primeira década, no dia 8 de novembro vai realizar-se o primeiro evento do Arquivo.pt e que terá lugar no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa. ‘Porquê e como preservar a web?’ vai ser o tema do encontro que vai contar com palestras, workshops e também com a apresentação de investigações académicas que tiram partido das potencialidades do Arquivo.pt.

Um dos destaques do evento vai para Julien Masanès, considerado como o ‘pai’ do arquivamento da web na Europa. O investigador francês é atualmente o diretor executivo do Internet Memory Research, uma empresa que desenvolve tecnologias de rastreamento focadas em conservação patrimonial e plataformas de comércio eletrónico.

Vai haver também sessões para explicar como usar o Arquivo.pt para fazer pesquisas sobre o passado e sobre como criar publicações que respeitam as boas normas da preservação, aumentando assim a probabilidade de ficarem disponíveis no futuro. Para quem procura algo mais técnico, haverá um workshop sobre o acesso automatizado ao Arquivo.pt por meio de um interface de desenvolvimento de aplicações (API na sigla em inglês).

Está também desde já confirmado o lançamento do prémio Arquivo.pt 2018, uma iniciativa que vai premiar os melhores projetos de investigação que utilizam dados disponibilizados pela plataforma. Por exemplo, no dia 8 de novembro três investigadores vão partilhar estudos que já estão a ser desenvolvidos, como uma análise às transformações dos websites dos jornais portugueses ao longo do tempo ou uma análise à evolução do straight-edge, um subgénero da cultura punk, na área metropolitana de Lisboa.

“Este movimento organizou-se e foi espelhado em grande parte através da web. Os artefactos originais estão ali. Depois o movimento desapareceu ou decaiu rapidamente. Portanto, naquele intervalo dos anos 1990 e início dos anos 2000, os artefactos originais muitos deles estão exclusivamente no Arquivo.pt. Este é um exemplo de como uma cultura popular é preservada de forma única, nunca foi preservada assim”, tinha explicado Daniel Gomes ao FUTURE BEHIND, em julho.

A participação no primeiro evento no Arquivo.pt é gratuita, necessitando apenas de uma inscrição prévia que pode ser feita aqui. Os interessados podem ainda consultar toda a agenda do evento aqui.

Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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