Esperar pela vez das baterias e da autonomia

No final da análise que fiz ao Samsung Galaxy S7 disse que o smartphone “é quase perfeito como está”. Há sempre algumas arestas a limar aqui e ali, mas a ideia a reter aqui é que o mercado dos smartphones está a atingir um estado evolutivo muito bom. E não é só a Samsung que o está a conseguir: Sony, LG, Huawei e Apple também têm criado equipamentos de excelência.

Isto deve-se ao facto de o telemóvel inteligente, como equipamento tecnológico, ter passado por várias fases evolutivas, fáceis de distinguir entre si, e que culminam neste estado da arte.

Primeiro foi a corrida da potência dos processadores. De chips com um único núcleo passamos para processadores com dois núcleos, depois quatro, agora os oito núcleos já começam a ser mais comuns e existem espécimes raros com processadores de dez núcleos – como são o Meizu Pro 6 ou o Zopo Speed 8.



É sabido que não é o número de núcleos, sozinho, que torna um smartphone mais rápido. A velocidade de relógio dos núcleos é importante, assim como a própria arquitetura em que estão construídos, o que tem impacto na forma como hardware e software se relacionam.

Moral da história: no processamento os smartphones já estão ‘lá’, tanto que existem equipamentos não-topo-de-gama que são bastante velozes.

Depois foi a vez dos ecrãs. Dos primeiros painéis com uma resolução de 800×480 píxeis começamos a saltar para os ecrãs HD, mais tarde para os Full HD e agora o mínimo exigível num equipamento topo de gama é um painel com resolução 2K: 2.560×1.440 píxeis.

Neste campo há sempre a discussão relacionada com o facto de quanta resolução é resolução demais. Os olhos humanos só conseguem percecionar um determinado nível de detalhe – algo que varia com a distância claro -, mas há quem defenda que o 2K já é suficiente em termos de qualidade para os smartphones.

Isso não parou a Sony de criar o primeiro smartphone do mundo com um ecrã Ultra HD. Sabe que mais? É de facto difícil distinguir todo o pormenor, mas também sei que de facto o ecrã do smartphone tem uma qualidade incrível. Ou seja, pode não fazer diferença até um determinado nível, mas faz sempre diferença esta questão da resolução.

Em terceiro lugar a fotografia. Há muito que os smartphones nos têm surpreendido com a qualidade fotográfica dos seus sensores de imagem, mas agora é que a luta parece estar a aquecer verdadeiramente. Equipamentos como o LG G5 ou o Samsung Galaxy S7 são provas claras daquilo que é possível fazer com um dispositivo móvel.
Mais um exemplo desta evolução é o facto de as empresas estarem a apostar em dois sensores fotográficos principais. A ideia é clara: ‘Um sensor não chega para o que queremos fazer? Então usamos um segundo’.

O caso que todos conhecem e que possivelmente vai ditar uma nova tendência – diz-se que a Apple vai seguir o mesmo caminho – é o da Huawei e do seu P9. O smartphone tem dois sensores fotográficos, um ‘tradicional’ e um outro apenas monocromático. A questão é que os sensores monocromáticos conseguem muito mais detalhe numa fotografia, pelo que se juntar este detalhe à parte da cor, consegue imagens de grande qualidade.

Crédito: Huawei

A LG também usa dois sensores fotográficos, mas o grande objetivo é assegurar uma maior amplitude daquilo que o ‘olho’ do smartphone consegue ver. São utilizações diferentes, mas que mais uma vez provam que o smartphone até na área da fotografia está a atingir níveis de qualidade e de criatividade muito bons.

Pelo meio o smartphone também evoluiu em design – de tal forma que atualmente os principais dispositivos topo de gama partilham entre si uma linguagem de hardware mais ou menos comum – e foi acompanhado de outras evoluções como na parte gráfica. Mas sobre a GPU em específico falaremos um dia mais tarde pois também há muito a dizer sobre os saltos que têm sido registados na componente de gaming.

Tudo isto para dizer que seria interessante que a próxima grande evolução tecnológica nos dispositivos móveis fosse feita na área das baterias. Quem não gostaria de ter um smartphone com uma autonomia de cinco ou seis dias?

À espera da vez das baterias

Isto não faz grande sentido. As baterias também têm evoluído, em capacidade e tecnologias como a de carregamento rápido’ dirão alguns leitores. E com razão.

A questão é que a autonomia não tem evoluído ao mesmo nível das restantes especificações técnicas cruciais de um smartphone. Os processadores ainda têm muita margem de manobra, mas já são muito bons. Os ecrãs idem. As câmaras fotográficas também vão evoluir muito mais, mas já estão a dar água pela barba a uma parte das máquinas digitais. E a autonomia dos equipamentos como é? Mediana.

Há smartphones que já permitem dois dias de utilização, o que é bom tendo em conta que um telemóvel inteligente é na prática um computador de bolso. Mas ainda há muitos equipamentos que têm dificuldade em garantir uma autonomia de 24 horas e essa é uma situação que é necessário alterar.

Os hábitos criam-se e dizem os especialistas que são necessários 21 dias para criar uma nova rotina. Por isso muitos utilizadores não estranham o facto de terem de carregar o smartphone dia sim, dia sim. Já está enraizado no seu perfil tecnológico.

Mas para perceber realmente como ainda estamos um pouco abaixo das expectativas nesta área, apresentamos aqui alguns casos que vão fazê-lo dizer ‘quem me dera que o meu smartphone também fosse assim’.

No ano passado todos falaram do Oukitel K10000, um smartphone que promete entre 10 a 15 dias de autonomia em utilização normal. Já se sabe que o conceito de utilização normal varia de pessoa para pessoa. Várias análises publicadas em sites da especialidade dão conta que este Oukitel não chega aos dez dias prometidos, mas aguenta muito mais que os típicos Android, conseguindo de facto atingir os cinco dias de autonomia.

Aqui não há magia, apenas pragmatismo: a bateria é de 6.000 mAh, equivalente à de alguns tablets, mas num corpo muito mais pequeno. O design do equipamento acaba por ter de sofrer um pouco – peso de 210 gramas e espessura de 9,9 milímetros-, mas é um dos caminhos a explorar na melhoria da autonomia dos smartphones.

Outra alternativa: se não queremos baterias maiores e smartphones mais grossos, apostar mais e melhor nos carregamentos rápidos. A fabricante chinesa Oppo está a desenvolver um conceito que permite, em apenas 15 minutos, carregar a bateria do smartphone dos 0 aos 100%. Desde que tivesse um powerbank compatível por perto ou uma tomada elétrica, em pouco tempo estaria totalmente operacional.

Por fim a alternativa também pode passar pelos avanços científicos e pela descoberta de novas formas de criar baterias cuja autonomia pode ser duas vezes superior. Aqui o motivo está relacionado com os materiais de desenvolvimento – encontrar alternativas estáveis de armazenamento às típicas baterias de lítio que atualmente são usadas em quase todos os dispositivos móveis. A Samsung, por exemplo, está a trabalhar num novo sistema que duplicará, se concretizado, a ‘vida’ do smartphone, como explica o Engadget.

O ideal mesmo talvez fosse ter de tudo um pouco: baterias ligeiramente maiores, com o dobro da capacidade e que demorassem menos de 70% do tempo a carregar. Se juntarmos isto ao facto de investigadores da Universidade da Califórnia, Irvine, nos EUA, terem descoberto uma forma de criar uma bateria que dura uma vida inteira em termos de ciclos de carregamento – ver mais na Popular Science -, então aí sim, estaríamos no caminho certo para a criação do smartphone perfeito.

Até lá mantenha o carregador por perto.



Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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