Depois de uma primeira apresentação, bastante vaga e que até causou alguma confusão, a Microsoft revela os primeiros detalhes finais sobre a sua próxima consola, o Project Scorpio. O nome continua a ser de código pois só durante a E3 é que a nomenclatura final do sistema de jogo deverá ser revelada. Mas daquilo que foi revelado hoje pelo Digital Foundry, através do Eurogamer, neste momento o nome está longe de ser o mais interessante.
Ao longo de cinco trabalhos o Digital Foundry, uma publicação especializada em aspetos mais técnicos relacionados com o segmento dos videojogos, dá a conhecer não só as especificações técnicas do Project Scorpio, como partilha algumas opiniões sobre o sistema de jogo e também a visão da Microsoft para o futuro do gaming.
Reunimos as informações mais importantes e estes são os elementos em destaque sobre o Project Scorpio.
As especificações
No mundo dos videojogos as especificações das máquinas ainda contam e muito. Neste sentido o melhor mesmo é já ‘arrumar’ os números e as características técnicas que compõem o Project Scorpio.
O processador (CPU) é composto por oito núcleos otimizados – querendo isto dizer que foram trabalhados especificamente pela Microsoft e pela AMD para este sistema -, desenvolvidos numa arquitetura de x86 e capazes de atingir uma velocidade de relógio de 2,3GHz. Em termos mais simples, só neste componente o Project Scorpio apresenta um desempenho 30% superior àquele que é garantido pela Xbox One lançada em 2013.
Destaca-se o facto de este processador da AMD não ser desenvolvido ainda com base na nova arquitetura Ryzen – isto acontece acima de tudo para que o Project Scorpio possa ser compatível com os videojogos desenvolvidos para as consolas anteriores, a Xbox One e Xbox 360, assim como para manter a consola num nível de preço não-exorbitante.
A unidade gráfica (GPU) é composta por 40 unidades otimizadas e capazes de atingir uma velocidade de relógio de 1172MHz, a maior frequência de sempre numa consola de videojogos doméstica. Em termos práticos isso significa um desempenho 4,6 vezes superior ao garantido pela Xbox One original.
Durante a Electronic Entertainment Expo (E3) de 2016 a Microsoft apenas disse que o Project Scorpio seria capaz de atingir os 6 teraflops de potência gráfica, algo que o Digital Foundry confirma como sendo verdade. Ainda a nível gráfico e em jeito de comparação, a atual placa gráfica topo de gama para computadores, a Nvidia GTX 1080, é capaz de atingir 8,9 teraflops de potência gráfica.
O CPU e o GPU estão combinados num único componente, aquilo que comummente recebe a designação de system on a chip, ou seja, um sistema integrado. O SoC do Project Scorpio é denominado como Scorpio Engine, naquela que é uma alusão aos seus altos níveis de personalização e que deverão tirar melhor partido dos diferentes motores de jogo que existem atualmente no mercado.
Ficou também confirmado que o Project Scorpio vai ter 12GB de memória RAM GDDR5, capazes de aguentar uma largura de banda de 326GB de informação por segundo. Dos 12GB, quatro vão estar consignados exclusivamente ao funcionamento da consola e do seu sistema operativo, já os restantes 8GB vão poder ser explorados pelos programadores por forma a otimizarem a performance dos seus videojogos. Além de ter muito mais memória RAM do que a Xbox One, a própria arquitetura da nova RAM garante um desempenho superior.
A consola vai ter ainda um disco rígido de 2,5 polegadas e com uma capacidade de armazenamento de 1 terabyte. O disco também é de nova geração e garante maiores velocidades de leitura, mas que não foram especificadas.
Está também garantido um leitor Blu-Ray com suporte para conteúdos em Ultra HD e o suporte para som espacial, o mesmo usado na tecnologia Dolby Atmos e que a Microsoft também está a explorar com os óculos de realidade aumentada HoloLens.
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Em termos de especificações há mais dois elementos a considerar, ainda que não sejam compostos propriamente por valores. O primeiro é o facto de o Project Scorpio, à semelhança do que já acontece com a Xbox One S, integrar o transformador energético dentro da consola, querendo isto dizer que não será necessário um carregador externo volumoso, apenas um cabo de alimentação.
O segundo elemento a ter em conta é o sistema de refrigeração do Project Scorpio. Para acomodar tanto ‘poder de fogo’ num design que o Digital Foundry descreve como compacto, a equipa de engenharia da Xbox desenvolveu um sistema de refrigeração por vapor.
Este sistema é composto por uma estrutura de cobre, dentro da qual existe um ambiente de vácuo com água destilada ionizada. O calor produzido pelo SoC da consola é absorvido pela água, que depois evapora. O vapor é posteriormente canalizado para uns tubos onde volta a condensar. Mas como a temperatura precisa de ser dissipada para que este fenómeno aconteça, a Microsoft desenvolveu uma ventoinha de força centrífuga para expelir o calor para fora da consola.
Se tudo parece demasiado avançado e demasiado tecnológico, é porque realmente a Microsoft parece estar aqui a protagonizar alguns saltos qualitativos e de inovação relativamente à Xbox One e às consolas rivais. Porquê toda esta dedicação? A resposta está em baixo.
Ganhar a confiança dos programadores
Este foi o grande motivo que levou a Microsoft a desenvolver o Project Scorpio e a não esperar pelo típico ciclo de atualização de uma consola doméstica, que até há bem pouco tempo durava entre seis a sete anos.
“A equipa olhou para os programadores e para a relação que tínhamos com eles. Com a Xbox 360 tínhamos a melhor plataforma para os programadores e de certa forma perdemos isso no espaço de dois anos [com a Xbox One], por isso perguntámos como ganhar novamente a confiança desses programadores? Queremos os melhores jogos na nossa caixa e existem ferramentas, kits de desenvolvimento e outras vantagens para atrair novamente os programadores. Isso foi uma grande prioridade para nós quando abordamos este produto”, disse ao Digital Foundry o vice-presidente da divisão Xbox, Mike Ybarra.
Com esta declaração ficam claras duas ideias: a Microsoft sabe que cometeu um erro ao ter configurado a Xbox One como sendo tecnologicamente inferior à PlayStation 4; e empresa quer voltar a usar a mesma fórmula que tanto sucesso deu à Xbox 360, isto é, apostar tudo nas especificações técnicas, não apenas para deslumbrar em termos de marketing os clientes, mas para deslumbrar em termos de potencial os programadores e o seu trabalho.
Porque independentemente das especificações que vimos mais acima, o que acaba sempre por definir o sucesso das consolas são os seus conteúdos. Um catálogo vasto, com bastantes exclusivos, otimizado para a plataforma e que seja também refrescante, é meio caminho andado para garantir um bom desempenho comercial. Uma plataforma com um grande potencial tecnológico tem em teoria tudo o que é preciso para vingar neste aspeto.
Mas há mais elementos que justificam esta aposta da Microsoft no Project Scorpio. Mike Ybarra lembra que o próprio perfil dos consumidores mudou de forma significativa nos últimos anos.
O executivo da Microsoft usa o mercado dos smartphones como paralelismo: os consumidores não precisam de esperar dois ou três anos para darem um salto geracional nos seus dispositivos móveis. Mike Ybarra salienta que no mercado dos smartphones as melhores especificações estão sempre disponíveis comercialmente e que só depois o consumidor decide aquilo que procura.
“Quando vemos os consumidores a dizer que querem de nós ‘a última tecnologia, a última experiência, a melhor experiência de forma mais frequente’ e o negócio tradicional das consolas não está alinhado, tens de fazer uma pausa, tens de assumir alguns riscos muito grandes”, defendeu Ybarra.
Ainda que não tenha apontado esse motivo de forma direta, o executivo da Microsoft também falou no grande sucesso que os televisores 4K tiveram no final de 2016, querendo isto dizer que há mais pessoas que já estão em condições para suportar experiências de videojogos em Ultra HD nativo.
E agora?
Agora ainda há muito para analisar e o próprio Digital Foundry diz que ainda tem mais histórias e mais detalhes para partilhar ao longo dos próximos tempos. Da análise que a publicação já fez daquilo que lhe foi apresentado, destacamos a sua perspetiva de preço: na opinião do Digital Foundry o Project Scorpio vai provavelmente chegar ao mercado por um preço a rondar os 499 dólares – o mesmo preço com o qual chegou a Xbox One há três anos.
O próprio Mike Ybarra disse que o Project Scorpio está a ser concebido “para o consumidor premium, para o jogador que espera sempre a melhor versão dos jogos”.
Em termos práticos a consola promete bastante. Foi feita uma demonstração tecnológica do jogo Forza em 4K e a 60 frames por segundo – o GPU da consola apenas estava em 66% da sua capacidade e estavam a ser ocupados 5GB de memória RAM, o que deixa de sobra outros 3GB. Esta demonstração era na prática um upscalling do último Forza que saiu para a Xbox One, querendo isto dizer que os programadores vão ter muita margem de manobra para melhorarem texturas, sombras, número de polígonos e outros detalhes técnicos dos jogos.
Captura de ecrã da demonstração tecnológica de Forza em 4K e a 60 frames por segundo. A imagem na sua qualidade original pode ser vista aqui. #Crédito: Digital Foundry
Ficou também confirmado que o Project Scorpio será compatível com os jogos das consolas anteriores e que a consola mesmo tendo capacidade para videojogos nativos em 4K, também vai funcionar em televisores Full HD – haverá uma reconversão da imagem do jogo que fará a melhor adaptação para a resolução do ecrã em questão.
Apesar desta torrente de informações e confirmações que já foram dadas, há elementos a retirar deste exclusivo que a Microsoft deu ao Digital Foundry.
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Em primeiro lugar a Microsoft decidiu partilhar estas informações com os jornalistas e com a publicação que mais detalhe dá aos aspetos técnicos, ou seja, nesta primeira fase a mensagem que a Microsoft está a passar é ‘vamos ter a consola mais potente do mercado’. O facto de ter feito estas revelações ainda antes da E3 mostra igualmente que a empresa está confiante no produto que está a desenvolver e que não quer que o foco do evento sejam as especificações da consola, mas provavelmente os jogos.
Nos relatos do Digital Foundry ouvimos falar acima de tudo de potência, de tecnologia e de inovação na área dos videojogos. Os próprios executivos da Microsoft não quiseram dar um ênfase de sistema de entretenimento all-in-one como fizeram com a Xbox One. Com o Project Scorpio a Microsoft parece estar a criar um sistema de jogo que será direcionado para os gamers e não para os consumidores de filmes e séries.
Estranhamente, apesar de todo o louvor feito à consola em termos técnicos, nem uma palavra sobre as suas capacidades de realidade virtual. O Digital Foundry confessou ter acordado com a Microsoft a não revelação de alguns detalhes, mas não referir os objetivos que a Microsoft quer alcançar em realidade virtual – muito provavelmente passará por uma parceria com a Oculus – é um dos elementos claramente em falta.