Sentámo-nos no stand da Qualcomm para beber um café e para falar do estado atual do mercado de smartphones. Afinal, estávamos no Mobile World Congress, o evento dos eventos no que diz respeitos às novidades do universo dos dispositivos móveis.
Francisco Jerónimo é o diretor de pesquisa da IDC EMEA para o segmento de comunicações móveis e sector de consumo. É a ele que recorrem alguns dos mais influentes meios de comunicação do mundo – Financial Times, The Wall Street Journal, The New York Times, Bloomberg, Reuters, The Guardian, BBC – quando querem saber as direções que o mercado dos smartphones está a tomar.
Durante 50 minutos o especialista português analisou o estado atual do mercado, aqueles que foram os principais destaques do Mobile World Congress e o impacto que vão ter ao longo do ano. Francisco Jerónimo falou dos lançamentos e do futuro da Sony, da LG, da Huawei, da Nokia e não se coibiu de partilhar algumas ideias fortes.
A conclusão geral? O mercado de smartphones está a ficar duro e só as marcas de ‘barba rija’ é que terão condições para resistir às transformações que já estão a acontecer e vão acentuar-se ainda mais ao longo dos próximos anos. Surpresa das surpresas? O futuro dos smartphones é o software, não o hardware.
A entrevista foi editada por uma questão de extensão e clareza.
Qual o estado atual do mercado de smartphones?
O mercado de um modo geral está a sofrer de maturidade. No momento em que consegues atingir determinadas percentagens de penetração de smartphones no mercado, tu não vais conseguir atrair consumidores onde não há ninguém a trocar de telefone mais frequentemente só porque saiu uma nova versão.
Neste momento chegamos a um nível de inovação que às vezes até nos leva um pouco a ser injustos com os fabricantes pois quando dizemos ‘não há muita inovação‘, inovação há, ela não é tão visível.
Porque quando passas de uma câmara de cinco para 15 megapíxeis, dizes ‘uau, isto é inovação porque a câmara é muito melhor‘. Quando passas de 20 para 22 ou de 16 para 18 megapíxeis, já não notas muita diferença. Já estamos num nível tão alto que qualquer 1% de incremento nessa tecnologia não tem um impacto em termos de valor significativo, mas se calhar custou tanto a desenvolver ou mais do que a passagem dos cinco para os 15 megapíxeis.
Nós chegamos a este limite onde tens as melhores câmaras do mercado, os melhores ecrãs do mercado, as melhores baterias do mercado, os melhores processadores do mercado… portanto, quando tu chegas ao nível a que chegaste agora, para qualquer fabricante vai ser muito complicado continuar a melhorar aquilo que já tem.
Aliás, o que temos verificado nos últimos dois-três anos é melhorias de uma qualidade bastante alta.
Por outro lado aquilo que também se nota é que os utilizadores de um modo geral já sabem aquilo que precisam. Neste momento as pessoas sabem exatamente aquilo que fazem: sabem se tiram muitas fotografias ou não, sabem se querem fotografias boas ou não, sabem se querem aceder à internet com rapidez ou não, sabem se precisam de um ecrã bom ou não. A maioria das pessoas não precisa das melhores especificações do mercado, isso é a realidade.
No momento em que isso acontece, tu dizes assim: ‘Tenho aqui um telefone que é um topo de gama, é o último iPhone ou é um iPhone que comprei no ano passado. Para que é que preciso de ir gastar mais 700 ou 800 euros para comprar uma nova versão, quando na prática até nem tiro assim tantas fotografias, na prática não sou fotógrafo profissional, na prática…‘
Renova-se menos, mas gasta-se mais?
Gasta-se mais. O preço aumentou. O preço aumentou não porque os consumidores quisessem ou porque há telefones melhores que o justifiquem, mas porque os fabricantes estão a tentar fazer esse puxar os preços para cima. Claro que houve também essas melhorias que têm vindo a acontecer e estes pequenos incrementos no fundo também são formas de justificar o aumento do preço.
Porque é aí que eles ganham mais dinheiro, isso é claro. Tu neste momento já assumes que um topo de gama não custa 500 euros, um topo de gama custa 700 euros. Se quiseres comprar um topo de gama já sabes que é 700 euros que vais ter de pagar.
No momento em que as pessoas se habituam a esses preços, acontece duas coisas: Ou não podem comprar e nunca vão comprar; ou então dizem ‘pronto, no ano passado gastei 600 euros, se calhar este ano tenho que gastar 700 porque quero renovar, quero o último iPhone‘.
Os preços têm vindo efetivamente a subir. Este ano ainda vão subir mais. O que é bastante curioso.
A tendência devia ser justamente ao contrário: à medida que a tecnologia vai maturando, devia ficar mais acessível. Era suposto os smartphones ficarem melhores e mais baratos. Mas…?
Está a verificar-se um intervalo relativamente significativo entre a gama muito alta e a gama média-baixa. A gama média sempre sofreu desde que os telefones existem. Porque é aquele tipo de preços onde os clientes que querem um dispositivo barato acham caro aquele preço médio e os clientes que querem um dispositivo muito bom preferem esperar mais um bocadinho e compram o melhor que conseguirem. A gama média sofre sempre no meio disto tudo.
Curiosamente, em termos de lançamentos de dispositivos é uma das áreas mais concorridas.
É, porquê? Porque na prática os fabricantes como a Huawei, não têm o brand awareness da Apple ou da Samsung. Portanto, vender um telefone de 700 euros é muito complicado. Agora se calhar já nem é tanto para a Huawei. Mas há um ano ou dois era completamente impossível. A única hipótese era trazer as especificações premium dos iPhone e dos Samsung para um preço mais baixo.
A verdade é que quando tens um telefone destes, que custa 600 euros ou 500 euros, e outros deste género por menos, dizes ‘Epá, esta qualidade é bastante atrativa‘.
O que está a acontecer no mercado neste momento é: em Portugal a gama muito alta é muito pequena, não é como na Europa, mas está a crescer apesar de tudo. E a gama muito baixa está a aumentar ligeiramente de preço, porque também aquela gama muito baixa, dos 100 euros para baixo ou à volta dos 100 euros, já não há muita oferta. Procura até iria haver, mas não há é muita oferta. A Samsung saiu dessa gama de preços, a LG, Sony, HTC, etc, desapareceram dessa gama de preços.
Deixou espaço para os chineses que andam aí a vender umas coisitas, mas a qualidade é um bocado fraca.
Esta é uma opinião que tenho: o mercado português está muito à procura de outras marcas de smartphones – Oppo, Xiaomi, Meizu. Os números comprovam isto?
Não é necessariamente que o consumidor esteja à procura. O que o consumidor está é mais aberto a experimentar novas marcas. E neste momento tu tens muitas mais opções.
Aqui há dez anos ou era Nokia, Motorola, BlackBerry, Windows Mobile ou pouco mais. Não tinhas mais nada. Ou o que tinhas, era fraquito. Tinhas aqueles Siemens, que até vendiam em quantidade, mas a Nokia era a referência. E neste momento tu tens os consumidores a olhar para alternativas porquê? Porque no momento em que tens uma crise como a que tivemos, a nível europeu, as pessoas já não têm tanto dinheiro para gastar e dizem assim: ‘Será que preciso mesmo de dar 700 euros por um iPhone?‘.
Então vais a uma loja e tens a Huawei, tens a Injoo, a Wiko, a apresentar telefones com designs semelhantes, com materiais atrativos, porque isso era outra coisa que não acontecia há dez anos, nem há cinco anos. Tinhas telefones baratos, mas aquilo pareciam mesmo dos chinocas.
Neste momento tens um telefone barato, com estilo… vai ver a Oppo, vai ver a Noa. Tens esse tipo de marcas que a estratégia deles é gastar o máximo possível em design, seja no branding, seja no telefone em si. Os componentes que estão lá dentro, é o mais barato que puderem meter, porque o cliente não percebe. Mas percebe quando pega e diz ‘este telefone é giro, tem duas câmaras, tem não sei quê, ai isto é porreiro‘. Depois os componentes que estão lá dentro, o telefone não funciona bem…
Uma das maiores razões do telefone ir para uma assistência técnica com pseudo-avarias está relacionado com o facto de as pessoas instalarem aplicações e aquilo não dar. ‘O telefone não dá para instalar as aplicações‘. Porque se esqueceram que compraram um telefone com menos de 1GB de memória RAM, porque era mais barato, não olham para essas coisas e depois tentam meter lá tudo e mais alguma coisa, e depois o telefone estoura. E o telefone vai para a assistência técnica e volta para trás porque o telefone está bom, fazem reset de software e o cliente pensa que está a funcionar bem outra vez.
Experimentei o Oppo 9RS, aquele que destronou o iPhone na China. Aquilo é uma cópia do iPhone.
Eles no design são todos cópia do iPhone. Se for a copiar o iPhone que eles crescem… Os telefones da Noa são cópias do iPhone, mas tu olhas para as especificações e para o preço e dizes ‘Isto é fantástico‘. Se funciona bem ou não, a pessoa só se apercebe a utilizar no dia-a-dia. Mas suponho que com aquelas especificações não vá funcionar mal.
Portanto a nível de fabricantes não é só lançar os telefones iguais ao iPhone, porque estão aí muitos fabricantes a fazer isso. É preciso ter a capacidade para demonstrar a um operador e a um retalhista que não é uma marca que aparece e que amanhã pode desaparecer.
O operador e o retalhista não querem ter de andar a puxar pela marca ou pelo produto. Ou se o fizerem, fazem num produto específico porque querem crescer. Mas por norma são os retalhistas que perguntam ao fabricante ‘quanto me dás para investir?’.
Essa campanha que eles põem por trás do telefone é mais importante do que o telefone em si. Pois claro, há questões de diferenciação: um iPhone é um iPhone, a Apple não dá nada. Eles querem lançar porque é um iPhone e claro, há determinados telefones que são factores de crescimento – o Nokia 3310, há muita gente que o vai querer ter nas lojas não é porque vai vender muito, é porque vai atrair muitos clientes às lojas.
Já consegue identificar ‘O’ smartphone da feira?
O telefone vencedor da feira foi o Sony XZ Premium. Sou um dos juízes da agência que nomeia os melhores telefones do ano e a Sony ganhou o prémio de melhor telefone da feira. Porquê? Em termos de inovação é o primeiro ecrã 4K HDR, 960 frames por segundo no motion eye, Gigabit LTE com capacidades de acesso à rede até 1Gbps. Já vi a funcionar e é excecional. Tens um filme de não sei quantos gigas e o download é feito em segundos.
É game changer?
É game changer. Estive na demonstração do Gigabit LTE lançado na Austrália, estive em Sidney a ver. Vê-se lá no Speednet – 300, 400, 500, chega-te aos 900 Mbps. É uma coisa excecional.
Porque vai ser game changer? Para os operadores isto é muito importante. Porque no momento em que fazes o download de um vídeo ou o que quer que seja, em segundos, tu acedes à rede, descarregas a informação e desligas – salvo seja. Mas já não estás a fazer um pedido forte.
Tu numa rede 4G se estiveres a fazer o download de um filme de 4 gigabytes estás a sobrecarregar a rede durante meia hora. Isso limita o acesso a outros utilizadores. No momento em que entras e sais da rede, qualquer pessoa que entre e saia da rede vai ter sempre velocidades interessantes pois é muito rápido o acesso.
Acredito que seja uma forma de começar a atrair os utilizadores para mudarem os seus telefones, se não for para Gigabit LTE, o chamado 4,5G, mas vai ser depois para 5G quando aparecer à volta de 2020. Mas isso vai ser um game changer, sem dúvida que vai. E para nós foi o melhor telefone da feira.
Mas houve outros dispositivos muito interessantes.
Como por exemplo?
Os da Nokia são muito, muito atrativos em termos de value for money. Muito interessante. O Nokia 3 acho que vai ser um top seller em muitos países.
O Nokia 3310 é publicidade. Acho o telefone fantástico. Quando vi aquilo, disse logo que ia ser a história da feira. Disse ao presidente: ‘Isto vai ser a história da feira‘. Eu vi o telefone e disse ‘Epá, fantástico’. Havia rumores e não sei quê, mas não houve grandes fotografias na internet do telefone em si.
Quando vi aquilo ‘Fogo, fantástico, realmente está bem feito’. Claro: é caro, é 2G – já devia ser 3G -, a câmara hãn… O que é certo é que eles foram a história da feira. Nós não o nomeamos como melhor telefone pois não fazia sentido o Nokia 3310 como melhor telefone da feira quando na prática não é nada de novo, tem um design interessante, mas há aí dispositivos…
… O LG G6 também é muito interessante. O que é que há mais? Em termos de telefones anunciados aqui, os Motorolas são interessantes. Os Moto Mods são interessantes também, mas isso não é novo. O Huawei P10 e P10 Plus, mas são um bocadinho mais do mesmo, não há assim uma coisa que seja excecional.
No caso da Sony, a empresa apresentou um smartphone inovador em muitos sentidos, mas parece estar desligada do mercado.
Não é uma questão de estarem desligados do mercado, não têm é dinheiro. O que é que eles fazem? No momento em que tens um negócio a cair…
O problema deles é o mesmo que a LG e a HTC têm: tens as vendas a cair, estás literalmente a perder dinheiro, a LG anda a perder dinheiro há não sei quantos trimestres.
Focas-te na baixa gama porque queres ganhar quota de mercado, mas depois apercebes-te que não ganhas dinheiro. Na gama alta não consegues competir com a Apple e com a Samsung. O que é que eles estão a tentar fazer? Criar telefones que as pessoas digam ‘espetacular’, mas depois quando tentas cobrar 800 euros por aquele Sony, dizes assim: ‘O iPhone 8 vai custar mais ou menos a mesma coisa, prefiro o iPhone’.
As pessoas vêm o LG ao lado da Samsung, o LG é muito interessante e muito giro, mas preferem o Samsung. E pior do que isso: o Samsung S8 vai sair em março e o telefone é fantástico. Fantástico.
Essa é outra das questões. A LG e a Huawei tentaram capitalizar com a ausência do Samsung Galaxy S8. Houve realmente essa capitalização? Vão aproveitar alguma coisa?
Nada. Principalmente a Huawei perdeu uma grande oportunidade. Perdeu literalmente uma grande oportunidade. Podia ter sido o fabricante da feira se tivesse lançado algo mais arrojado. A LG lançou um smartphone mais arrojado, o bezel-less, é arrojado, é um passo à frente. A Huawei não.
Como é óbvio, se fosse ao contrário, se fosse a Huawei a ter lançado o LG G6, aquele telefone, acho que teria sido o telefone da feira, claramente. Isso com Gigabit LTE e mais melhorias na câmara e teria sido o telefone da feira, de longe.
Lançar um smartphone que é parecido com o P9, sem grandes alterações, nem ser Gigabit LTE… vai vender, vai ser um bom telefone, provavelmente vão lançar uma versão Lite e vai vender ainda mais.
Já a LG não tem força, não tem capacidade financeira, portanto é interessante, mas a HTC também tem telefones muito interessantes e que não vendem. É a tal força no ponto de venda e junto dos canais para realmente conseguirem depois traduzir em vendas.
O problema que a Huawei, a LG, a Sony e esses todos vão ter: o preço é muito mais alto. É a tal história: não ganham dinheiro na gama baixa, então tentam focar-se na gama alta porque vendem muito menos, mas tentam fazer um negócio lucrável. É o que a Sony está a tentar fazer. Eles não querem saber de quota de mercado, eles querem é ganhar dinheiro pois o telefone é fundamental para o negócio todo.
A Sony fez isso nos portáteis e o resultado é conhecido de todos [venda da divisão Vaio].
Mas o problema é que o portátil não te permite fazer a ligação que o telefone faz entre as várias categorias da Sony. Eles precisam de ter o telefone mais não seja para dizer que têm e para tentarem vender dentro do ecossistema de hardware deles. É por isso que eles têm que manter o telefone.
A LG também tem o telefone para ter brand awareness. Se a LG desaparece dos telefones… Parecendo que não, os telefones ajudam na categoria dos televisores, dos frigoríficos, etc. Ninguém anda a publicar notícias do último frigorífico que foi lançado. Do telefone publicam e isso dá brand awareness que é fundamental para o negócio.
A LG é muito forte a nível de ecrãs. Se eles próprios não conseguem demonstrar os displays que têm… A Sony é a mesma coisa. A Sony fornece a maioria dos fabricantes. As câmaras da Sony são a maior parte das câmaras usadas pela maior parte dos fabricantes.
Eles fazem mais dinheiro a vender as câmaras deles aos concorrentes do que a vender telefones com as próprias câmaras, o que é interessante. Por isso é fundamental eles manterem o negócio. Têm é que torná-lo lucrativo, senão estão sempre a perder milhões trimestre após trimestre, é impossível sustentar.
Mas temos um cenário em cima da mesa em que nos próximos três anos vamos perder duas a três grandes marcas?
Isso não tenho a menor dúvida. A HTC praticamente já desapareceu. As ‘sonys’ não vão desaparecer como marca, mas nos smartphones vão ser completamente irrelevantes. A única coisa que vão fazer é lançar flagships para demonstrar capacidades de tecnologia, mas vender zero.
Temos muita marca chinesa que explodiu nos últimos anos e que vai morrer. As ‘wikos’ desta vida, da Europa, vão desaparecer. Não necessariamente a Wiko, mas há marcas que vão desaparecer por causa da Nokia.
Há potencial neste regresso? A Nokia vai voltar?
Há muito potencial na Nokia. Porquê? Nesta feira isso é evidente: a marca Nokia tem uma força que é ainda muito, muito grande. O que esta feira demonstra é claramente isso. Quando tu tens tanta gente a olhar para os telefones da Nokia é porque realmente há ali alguma nostalgia e interesse na marca.
O que é verdade é que a marca não perdeu a posição que perdeu porque os telefones passaram a ser maus, fizeram foi uma má aposta no sistema operativo. Hoje é fácil dizer isso. Fizeram uma má aposta, se tivessem feito Android…
Fizeram uma má aposta, venderam o negócio – isso sim foi uma boa aposta, venderem o negócio. Venderam o negócio, a Microsoft destruiu aquilo, infelizmente, destruiu aquilo porque podia ter sido fantástico. A Microsoft com a Nokia podia ter sido fantástico, mas deram cabo do negócio.
Depois venderam à HMD Global que são pessoas especialistas na indústria, conhecem muito bem o mercado, fizeram a parceria com a Foxconn, o melhor fabricante a nível mundial. Sabem o que estão a fazer, têm dinheiro por trás e depois têm uma coisa muito simples: fizeram o licenciamento da marca e em dois meses tiveram capacidade para abrir operação em 50 países porque eles compraram a operação à Microsoft.
Os contratos de trabalho passaram da Microsoft para a HMD e depois lançaram… aliás, o Nokia 3, Nokia 5 e Nokia 6, aquilo já estava mais ou menos no roadmap, mas provavelmente em Windows. O que eles decidiram foi meter Android e em meses conseguiram lançar os telefones e depois tiveram a ideia brilhante de brincar um bocado com o Nokia 3310.
Quando falas com os operadores e com o retalho todos dizem: ‘Eu quero aquilo’. Porquê? ‘Não quero mais fabricantes em que tenho que andar a esforçar-me para vender’.
Eu meto um Nokia ao lado de uma Wiko, 99% das pessoas vão comprar Nokia. A não ser que gostem muito da Wiko ou de outra marca qualquer, mas 99% vai comprar Nokia. O Nokia 3, olha para as especificações daquilo a 99 euros. Fantástico. É um telefone que vai entrar para o top seller da maior parte dos países de certeza absoluta. Entras numa loja ‘Hey, Nokia. Nokia aquilo é fraco… agora é Android. É Android?’. Vai ser tiro e queda.
No final do ano vão lançar um flagship. Foi o que lhes disse, é fundamental que eles tenham um flagship. A Samsung fazia muito isso: lança os Galaxy S8, S7 e depois vende é na média gama. Agora já não é tanto assim, já vende lá em cima. Há dois ou três anos lançavam o flagship, mas o que vendia a sério era a versão anterior a um preço mais barato.
A Nokia vai ter que fazer essa estratégia. Mas para já é entrar para começar a ganhar quota de mercado. O que eles precisam é começar a aparecer nos rankings. O que me vão começar a perguntar nos próximos trimestres é: ‘Em que lugar está a Nokia?’. Não tenho a menor dúvida.
Se eles conseguirem saltar para o top, não digo cinco, mas saltarem para o top 10, ou até ali entre o sete e o cinco, vai ser excelente. Depois é uma questão de algum tempo até chegarem ao top 5. Quando chegarem ao top 5, vão ter uma quota de mercado de 5 ou 6%. Atenção, mas estão no top 5. Pelo menos em determinados países ou regiões.
Quando isso acontecer, é uma pescadinha de rabo na boca. A marca é muito forte. As pessoas deixaram de comprar Nokia não porque estavam insatisfeitas com a marca, estavam era insatisfeitas com o produto que estava a ser lançado.
Vinha com a expectativa de ver mais inteligência artificial ligada aos smartphones. A sensação que levo é: tudo muito focado no hardware, inteligência artificial pouco ou nada.
A inteligência artificial ainda está muito no início. Já vimos anúncios como o Google Assistant que vai estar em determinados telefones. Mas para dizer a verdade estava à espera, não de dizer que o Google Assistant vai estar disponível em mais telefones, mas de ver que funcionalidades já podemos ter a mais que nos criem valor no smartphone.
Fica para o ano?
Provavelmente fica para o ano. Isso vai ser a próxima revolução dos telefones, não tenho a menor dúvida. Hardware é hardware, já não há muito para melhorar ou diferenciar. No fundo o smartphone passa a ser muito mais smart do que é hoje. Continuo a achar ridículo ter que andar a carregar em não sei quantas aplicações para fazer qualquer coisa.
Quando o iPhone foi lançado, o importante era saber quantas aplicações existiam para aceder a N serviços que eu queria ou que o utilizador quer. Neste momento o segredo ou a estratégia deve ser quantas vezes é que eu não preciso de clicar nas aplicações para ter a resposta àquilo que preciso.
O que está a faltar neste momento nos telefones? É a capacidade de independentemente de onde têm de ir, a aplicação ir por mim, sacar a informação, analisá-la e dar a resposta que quero.
Porque não posso dizer assim: ‘Marca cinema para hoje à noite e informa a minha mulher‘?. O telefone tem toda esta informação. Tem o meu calendário, sabe onde estou, sabe que filmes é que eu gosto porque vou sempre ver os filmes nos ‘netflixes’, sabe as minhas preferências, sabe o cinema mais perto de minha casa e onde costumo ir regularmente, consegue mandar uma mensagem para a minha mulher para ir ao cinema, quando ela responder ‘Sim’ ele coloca-a no convite e envia a informação.
Quando tens um telefone que faça este tipo de coisas por ti, dizes: ‘Realmente, quero uma coisa destas’. É uma razão forte para substituir o telefone e segundo é uma razão forte para não saires daquele ecossistema. Isso acontece cada vez mais. As pessoas não saltam de Android para iOS assim com duas tretas e vice-versa. Há ali uma consciência muito grande. Entregas um iPhone a uma pessoa que está habituada ao Android e eles dizem ‘isto é uma treta’. Há muitas pessoas vice-versa: pegam no Android e dizem ‘isto é muito mau’.
Portanto, essa parte dos assistentes digitais é a próxima grande revolução. O software vai ser a próxima grande revolução a que vamos assistir.