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O que é que esta sequência de emoji lhe diz? Que interpretação faria destas imagens? Talvez dissesse que a pessoa passou por um período de emoções fortes. Talvez essa pessoa esteja só a querer alguma atenção. Talvez seja algo completamente aleatório e que nem sequer tem uma lógica associada.
Na realidade estes são, por esta ordem, os cinco emoji mais usados na rede social Twitter. Se aceder à página Emojitracker pode ver em tempo real quais os emoji que estão a ser usados pelos mais de 300 milhões de utilizadores desta plataforma social. Só para ter uma ideia, o boneco que está a chorar de tanto rir já foi usado mais de 1,5 mil milhões de vezes.
A questão com os emoji é esta mesma: são complementos da nossa comunicação digital. O fenómeno nem sequer é de agora. Quando todos utilizavam telemóveis da Nokia ou da Motorola, já os emoticons faziam parte da troca de mensgens. Mas na altura eram mais parecidos com este : -) ou este:
(•_•)
<) )╯
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Até na página de erro 404 do FUTURE BEHIND usamos um emoticon em Ascii.
Na prática estes bonecos tornaram-se essenciais para percebermos os tons das conversas que estamos a ter com as outras pessoas. Ajudam a dizer mais do que aquilo que está a ser dito e em alguns casos substituem por completo a necessidade de palavras.
Mas também é verdade que os emoji têm assumido um papel muito mais importante na sociedade moderna: o da inclusão.
O tema volta a estar em destaque pois, esta semana, o Consórcio Unicode – a organização que define quais os novos emoji que são aprovados – vai reunir para discutir a inclusão de emoji que representam pessoas ruivas. Pode não parecer o tema mais relevante da atualidade, mas caso a aprovação seja feita, então os emoji passam a incluir quase mais 2% da população mundial.
“Os emoji até podem parecer apenas diversões tontas, mas o que estou aqui para dizer é que é na realidade são um passo importante e fascinante na evolução da humanidade”. A frase é de Ba Blackstock, o diretor executivo da Bitmoji, e foi dita durante uma apresentação no Web Summit 2016.
À medida que mais emoji são reconhecidos oficialmente – e já são mais de 1.800 no total 🎉 -, a questão da inclusão torna-se ainda mais pertinente. Começa-se a sentir mais falta daquilo que ainda não está lá.
Nos últimos dois anos o mundo dos emoji deu um salto de gigante no que diz respeito à inclusão e à igualdade. Os emoji que representam pessoas deixaram de ser exclusivamente brancos para passarem a integrar mais tons de pele 👴🏿. Os emoji que representam profissões deixaram de ser apenas representados por homens e começaram a ter também opções com mulheres 👩🏿🔬. Agora há emoji de famílias que são constituídas por dois homens e duas crianças, por exemplo 👨👨👦👦.
Há até outros patamares de análise que à primeira vista nem sequer podem suscitar uma preocupação nos utilizadores, tirando naqueles que são afetados por aquilo que não existe. Em 2015 a Wired escreveu um artigo sobre como a inclusão do emoji de um burrito 🌯 era mais do que uma outra imagem de comida para partilhar, era sim importante para os utilizadores da América Latina, onde o prato é mais popular.
“Os emoji podem parecer triviais, apenas caras tontas, mas quando não estás representado por algo que é tão amplamente usado, isso é um problema”, explicou a investigadora Kate Miltner ao jornal The Guardian, a propósito da realização do primeiro evento mundial dedicado aos emoji no ano passado.
Recentemente a jovem Rayouf Alhumedhi, originária da Arábia Saudita, submeteu para aprovação do Consórcio Unicode vários emoji que representam melhor as pessoas da sua cultura – com destaque para a imagem de uma mulher com um lenço na cabeça. O caso foi amplamente destacado na imprensa em setembro de 2016 e isso provou duas ideias: que os emoji ainda têm um longo caminho a percorrer para uma maior inclusão e também o poder que ganharam em pleno século XXI.
“Perto de 550 milhões de mulheres muçulmanas nesta Terra orgulham-se de usar o hijab. Com este grande número de pessoas, nem um único espaço é reservado para elas nos teclados”, lê-se na proposta submetida ao Consórcio.
O verdadeiro poder dos emoji é este: um único símbolo pode significar que milhões e milhões de pessoas passam a ter uma representação digital que pode ser usada por muitos outros milhões de pessoas.
Em novembro de 2016 o Consórcio fez a aprovação de novos emoji e ainda este ano será possível usar o emoji da mulher com lenço na cabeça. Mais uma conquista 🙋🏽
Há outros casos claros de que os emoji estão a ganhar cada vez mais destaque na vida dos utilizadores, mas também das empresas. No ano passado a Apple decidiu banir o emoji que representava uma arma de fogo, trocando-o por uma pistola de água – o sentido figurativo da arma continua lá, mas tem uma carga simbólica completamente diferente.
Também no ano passado a Google decidiu assumir uma posição mais forte no que diz respeito à inclusão de emoji que trouxessem equilíbrio à balança da representatividade nos postos de trabalho. “Os emoji que representam as mulheres não são representativos. Por isso estivemos a trabalhar para tornar as coisas melhores”, escreveu Nicole Bleuel, da área de diversidade da tecnológica norte-americana.
Quando temos empresas como a Apple e a Google a dedicarem parte do seu tempo e parte dos seus recursos ao tema dos emoji, sabemos que estes têm de facto uma grande importância para todos os que utilizam ferramentas digitais. Afinal de contas, 92% dos utilizadores de internet do mundo utilizam emoji, de acordo com um relatório de 2015.
À medida que ‘pequenas’ batalhas vão sendo ganhas, outras começam a surgir. O ano de 2016 foi pródigo em desporto, muito por causa dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, mas a verdade é que se existem emoji para atletas de algumas modalidades, não existe qualquer emoji para atletas com deficiências. Pior: não existe qualquer emoji que represente pessoas com deficiência. Em 15 de julho do ano passado a organização Scope, do Reino Unido, decidiu celebrar o Dia Mundial do Emoji através da criação de 18 emoji de pessoas com deficiência.
A questão é que além da proposta e da discussão, a implementação de novos emoji demora vários meses. Por exemplo, caso os emoji das pessoas ruivas sejam aprovados, só em 2018 é que teremos acesso a essas imagens.
Quanto tempo mais será preciso esperar até que a inclusão dos emoji chegue também às pessoas com deficiência? 😴