Ato I – Crescer
Esta é a melhor forma de entender o que é o Dubsmash. Foi o exemplo que um dos cofundadores da aplicação, Roland Grenke, trouxe até Lisboa a propósito da sua participação na Go Youth Conference 2016.
O Dubsmash é um daqueles casos especiais pois num curto espaço de tempo tornou-se num sucesso de escala global. A aplicação já existia há vários meses, mas foi quase da ‘noite para o dia’ que a sua viralidade ficou mais evidente. Utilizadores de todo o mundo e até algumas das maiores celebridades da música e do cinema usaram o Dubsmash. Basta pesquisar no YouTube e tentar não perder-se no meio de tantas criações.
Este sucesso não está ultrapassado e em parte deve-se ao trabalho de alguns utilizadores mais criativos. Encontrámos o perfil de Raquel Laranjo, uma especialista em maquilhagem e efeitos especiais, enquanto pesquisávamos informações recentes sobre o Dubsmash para podermos entrevistar o Roland Grenke.
Tropeçámos num artigo do The New York Times e lá estava a artista portuguesa em destaque. Na prática faz uso dos sons que existem no Dubsmash, mas acrescenta-lhe toda uma nova dimensão ao incorporar verdadeiramente a personagem através de retoques visuais. Eis um exemplo.
💜 —————————————————————– Sorry if in any way it offended anyone. This is my work, this is my art, these are my tools. Pencils, colors, my body. With them and through them I show what I do and honor those I love and admire, no matter their skin tone. Because culture and talent is what really defines people, not skin color. ❤
Um dos aspetos que torna o Dubsmash ainda mais interessante é a forma como a empresa, com o mesmo nome, tem tentado gerir toda a sua plataforma e acima de tudo, toda a expectativa que é criada em torno de um produto que já teve um grande sentido de viralidade. Como lidar com um crescimento explosivo?
“Acho que podes pensar nesta questão com diferentes perspetivas. Tens a perspetiva da equipa em que tu e a tua equipa fundadora já não são suficientes e precisas de novas pessoas, é super importante. A segunda parte diria que é a infraestrutura porque temos um produto tecnológico, uma aplicação e tens de ter a infraestrutura certa para manter o serviço. O que nós fizemos foi construir tudo na cloud, de forma flexível, e assim podemos escalar de forma rápida. Está a correr bastante bem”, disse o empreendedor em conversa com o FUTURE BEHIND.
Para suportar este crescimento rápido é necessário recorrer a investimento externo pois as despesas com servidores e com salários tornam-se consideráveis após o período de grande expansão e nem sempre o dinheiro está acessível.
Ato II – Evoluir
Mas se o crescimento parece simples, manter a base de utilizadores e evitar cair no esquecimento acaba por ser o grande desafio de sucessos como o Dubsmash.
“Isso é o elemento mais importante que vemos como empresa. Estamos constantemente a construir novas funcionalidades, estamos sempre a trabalhar nisso. Isso foi o que fizemos desde o início e estamos constantemente a construir novos elementos. A coisa mais importante se estiveres no campo dos serviços para consumidores na Internet, no mobile, é seres bastante inovador, tens de trabalhar rápido e trazer novas funcionalidades, porque há muito mais que as pessoas querem ver”, explicou Roland Grenke.
A propósito deste tema, o cofundador adiantou que o Dubsmash vai cimentar nas próximas semanas uma nova estratégia para a aplicação. Na prática vai tornar-se numa plataforma de conversação, mas inteiramente focada no vídeo.
“Se pensares no messaging, a maior parte atualmente está a acontecer através de mensagens de texto. As plataformas estão a ganhar experiências mais ricas, mas não há uma que esteja apenas no vídeo. Para nós essa é a próxima grande vertente e já tivemos um ponto de começo tão bom ao permitirmos que mais de cem milhões de pessoas criassem vídeos delas próprias para os enviar a outras pessoas”.
“Este é o primeiro passo que estamos a usar para construir a nossa plataforma de comunicação. Para os utilizadores não precisa de ser algo em que precisam logo de comunicar, pode ser uma experiência mais natural em que enviam os seus vídeos aos amigos e apercebem-se que podem fazê-lo de forma mais frequente. Algumas conversações já estão a começar a acontecer”, acrescentou o cofundador do Dubsmash.
Concorrer no segmento das aplicações de messasing pode à partida parecer um tiro no pé sabendo que há gigantes como o WhatsApp com mil milhões de utilizadores ou o Facebook Messenger com 900 milhões. Mas Roland Grenke acredita que está a construir um serviço que traz valor e diferenciação na forma como os utilizadores comunicam com a sua rede de contactos.
Ato III – Estar atento aos utilizadores e ao meio envolvente
Se crescer e evoluir já parece difícil, lembramos que também é preciso sobreviver a outros fenómenos e plataformas. O Snapchat tomou a vida de milhões de utilizadores de rompante e muitos dos seus conteúdos são publicados noutras redes sociais. O MSQRD é outro exemplo de um sucesso viral da noite para o dia – tanto que até foi comprado pelo Facebook.
“Não se trata de ser um sucesso viral pois não consegues ser constantemente um sucesso viral. Acho que com o MSQRD está a acabar, estão a deixar de ser relevantes. Trata-se de construir um grande produto que esteja a dar valor aos utilizadores no longo termo e não apenas uma vez. E por isso é que estamos a construir esta plataforma”, reforçou o jovem alemão a propósito da ecossistema que está a nascer.
Mas isso não significa que não possam aprender com a concorrência. “Estamos bastante abertos sobre o que vamos desenvolver no futuro. Nós começamos com o aspeto do som, o que realmente ajudou as pessoas a criarem e a serem menos preocupadas sobre como estão no vídeo. E no futuro estamos dispostos a pensar em formas diferentes de como podemos fazer com que os utilizadores se sintam mais confortáveis no vídeo. Os filtros em tempo real é algo para o qual estamos a olhar e diria: mantenham-se atentos, pode surgir algo em algum momento”.
Não foi muito específico, nós sabemos. Mas já lá diz o ditado que o segredo é a alma do negócio. Isso e os seus utilizadores nucleares claro.
Curiosamente o maior sucesso do Dubsmash nem vem das partilhas nas redes sociais. Isso é o que lhe traz visibilidade, mas Roland Grenke partilhou que a interação privada entre utilizadores tem uma das maiores fatias de utilização. E se há algo que o Dubsmash pode ensinar a programadores de aplicações que estão a começar ou ainda não encontraram a sua estratégia, é isto:
“O ponto âncora não deve ser a loja de aplicações. O ponto âncora deve ser trazer valor para os utilizadores. Tens uma certa ideia de uma app, tens uma certa ideia de um problema que queres resolver. O conselho que posso dar: cria rápido, experimenta o conceito rápido e faz com que chegue aos primeiros utilizadores para teres o seu feedback. O mais importante é encontrares pessoas que gostam do que estás a fazer. Não é só encontrar e usar. Têm de ser mesmo aquelas que gostam do serviço. Tens de ter um grande valor neste grupo. Então aí pensa na AppStore e nos rankings, mas isso virá mais tarde quando pensares em escalar”, concluiu Roland Grenke.