Chegou a ser dada com uma luta perdida. Mas quase sete meses depois o braço de ferro continua e nunca esteve tão renhido. De um lado estão os piratas informáticos que tentam a todo o custo derrubar a ferramenta que durante muito tempo tornou invioláveis os videojogos para computadores. Do outro lado está essa mesma ferramenta, o espetacular e ínfame Denuvo.
O Denuvo é um software anti-adulteração desenvolvido pela empresa com o mesmo nome. O Denuvo tem sido utilizado por vários estúdios de videojogos como uma camada de proteção extra para os lançamentos que são feitos para computador. Nunca a indústria dos videojogos teve uma ferramenta tão eficaz na luta contra a pirataria, mas esses dias podem estar perto do fim.
Tudo por causa de Resident Evil VII: Biohazard. O mais recente jogo da CAPCOM chegou ao mercado no dia 24 de janeiro. Apenas cinco dias depois o título tinha sido crackado com sucesso. Quer isto dizer que os piratas informáticos não precisaram sequer de uma semana para derrubar o Denuvo.
Este cenário contrasta e bem com os quase oito meses que foram necessários para piratear com sucesso o jogo Rise of the Tomb Raider, lançado em janeiro do ano passado para computador. O trabalho feito em torno do jogo da franquia Tomb Raider teve como autor um hacker búlgaro de 19 anos, apelidado de Volski. Logo depois surgiu uma outra versão do jogo que tinha sido pirateada com sucesso pelo grupo CONSPIRACY (CPY).
Depois de Tomb Raider houve mais jogos protegidos com Denuvo que caíram às mãos do grupo CONSPIRACY e que, por consequência, caíram nas mãos de milhares de jogadores que não pagaram para ter acesso àqueles videojogos.
De acordo com a publicação Torrent Freak, estes são alguns dos jogos protegidos com Denuvo e que entretanto já foram pirateados com sucesso: Inside, Doom, Mirror’s Edge Catalyst, Deus Ex: Mankind Divided e Watch Dogs 2.
Uma nova lista criada no Reddit mostra que a extensão do trabalho dos piratas informáticos contra o Denuvo já vai muito além da mão cheia de videojogos. Mas também é justo dizer que ainda são mais os videojogos que o Denuvo protege do que aqueles que já não consegue proteger.
Grandes lançamentos como Titanfall 2, Battlefield 1, FIFA 2017, Star Wars: Battlefront, Unravel e Dishonored 2 continuam protegidos pelo Denuvo há já largas semanas e sem que houvesse sinais de que estas proteções estivessem em perigo.
Um jogo que ainda está também por desbloquear é Just Cause 3, justamente o título que levou o grupo de piratas informáticos 3DM – um dos mais conhecidos na criação de cracks – a dizer que a pirataria de videojogos tinha os dias contados. O grupo 3DM pode ter baixado os braços na altura, mas a mensagem acabou por bater com força noutros elementos da comunidade de pirataria de videojogos.
O resultado está à vista: já há jogos que são pirateados poucos dias após a janela de lançamento.
Mas em defesa da Denuvo e da sua solução, vale a pena recordar as declarações do seu diretor executivo, Thomas Goebl, à publicação PC Games N: “Não posicionamos a nossa solução anti-adulteração como inviolável, apenas é difícil de crackar”.
Esta frase representa muito bem aquela que é a missão da Denuvo: a empresa sabia que seria uma questão de tempo até que o software anti-adulteração fosse ultrapassado por piratas informáticos, mas o Denuvo nunca foi sobre proteção total. Se quisermos podemos considerar antes o Denuvo como uma ferramenta que ganha ‘tempo’ aos produtores de videojogos.
Há duas ideias que reforçam esta ideia: em primeiro lugar a Denuvo já disse que não faria qualquer devolução de dinheiro aos estúdios cujos jogos protegidos com o seu software acabassem por ser pirateados; e já há exemplos de grandes estúdios que retiraram por completo a proteção Denuvo a partir do momento em que a mesma deixou de ser eficaz naquele título específico. Um destes casos mais conhecidos foi Doom: no dia em que o Denuvo foi derrota, a Bethesda decidiu remover por completo a proteção do seu título.
“A única razão pela qual o Denuvo foi removido do Doom foi porque completou o seu propósito de manter o jogo seguro de pirataria durante a janela de vendas inicial”, disse ao Kotaku o vice-presidente da Denuvo, Robert Hernandez.
O videojogo Mass Effect Andromeda, com lançamento previsto para o dia 21 de março, ganha assim mais um motivo de interesse: além do regresso daquela que é uma das mais populares franquias de videojogos da última década, este será o próximo lançamento de grande perfil que estará protegido com o software Denuvo. Quantos dias aguentará às mãos dos piratas informáticos?
O que continua por explicar é a razão pela qual há jogos protegidos com o Denuvo que já foram ‘desvirtuados’, enquanto existem outros que com a mesma tecnologia continuam intocáveis. Isto pode indicar que a forma como o sistema é aplicado varia de jogo para jogo, o que explica o facto de ainda não existir uma única ‘chave’ que ‘abra’ todos os videojogos que estão protegidos com o Denuvo.