Construindo um ciborgue

Ci·bor·gue [inglês cyborg], substantivo masculino: Ser humano ou ser que se assemelha às forma humanas que tem processos biológicos alterados ou substituídos por meios electrónicos.

“ciborgue”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013

O que até há alguns anos parecia do domínio exclusivo da ficção científica está a tornar-se cada vez mais uma realidade. São vários os exemplos que provam que misturar tecnologia com biologia pode ter os seus efeitos positivos. Algumas experiências ainda são questionáveis no sentido de ‘precisamos mesmo disto?’, mas outras são claros avanços na forma como os humanos tentam superar os seus problemas.

Estes dois casos surgiram nos últimos dias na imprensa internacional. O primeiro relata o caso de Ian Burkhart, um jovem que aos 19 anos sofreu um acidente e ficou com paralisia. Agora aos 24 anos e graças ao implante de um chip no cérebro conseguiu ganhar novamente controlo sobre os músculos dos braços.

O que consegue fazer Ian? Muitas tarefas para quem tem uma paralisia. Segurar um telemóvel ao ouvido, agarrar uma garrafa e servir nos copos, mexer uma caneca de café ou até jogar Guitar Hero, como salienta o The Guardian.

A decisão de participar na experiência não foi fácil como o próprio confessou. “Era algo que eu já vinha considerando há algum tempo. Mas depois de ter uma reunião com a equipa médica e todos os envolvidos, soube que estaria em boas mãos”.

O pequeno processador foi implantado na zona do cérebro que que controla o movimento das mãos. Na prática este chip recebe os sinais elétricos, converte-os e envia-os como comandos para os membros superiores. Claro que pelo meio há um computador a mediar esta interpretação.

A ‘magia’ não é feita apenas pelo processador no cérebro. Ian Burkhard tem ainda uma pulseira de elétrodos à volta do braço que descodifica os comandos e emite os impulsos necessários para executar o movimento dado pelo cérebro.



Foram necessárias 15 semanas de terapia e treino para que o jovem do Ohio conseguisse dominar o seu novo lado ciborgue. Mas o resultado está a compensar.

Do outro lado do mundo, mais propriamente do Japão, vem outro desenvolvimento na área da eletrónica aliada à biologia. Um grupo de investigadores da Universidade de Tóquio desenvolveu uma pele eletrónica super-flexível.

Esta pele é na realidade uma camada de plástico, mas é tão fina que quase assemelha-se em características à pele humana – tem apenas três micrómetros de espessura.

Um dos elementos que mais impressiona é o facto de os investigadores terem conseguido incluir alguns circuitos eletrónicos que tornam esta pele num ecrã integrado, como esclarece a Motherboard.

Um exemplo prático: os atletas conseguiriam saber em tempo real como estão os seus sinais vitais e poderiam até receber informações a dizer que o corpo está a precisar de água. Se colocado na ponta do dedo pode analisar os níveis de oxigénio no sangue.

O maior desafio no desenvolvimento de tecnologia ‘ciborgue’ é tentar conjugar componentes eletrónicos que conseguem conviver sem problemas com os componentes biológicos do corpo humano.

Mas há muito que o conceito de ciborgue já está a ser construído. Se pensar bem no assunto, os pacemakers que são colocados em doentes cardíacos já fazem parte desta realidade. Não é um exemplo tão ‘tchanam’ como o da empresa sueca que implanta chips nos braços dos funcionários para que os mesmos possam ter tudo dentro da empresa – identificação, cartão de pagamento, cartão de segurança – sem necessitarem de ter consigo os tais cartões ou qualquer outro elemento. É só levantar o braço e já está

A Apple com o HealthKit e Google com a Calico são dois exemplos de tecnológicas que estão a investir na interseção da biologia com a tecnologia, mas mais numa perspetiva de software.

Um último exemplo – e acredite que podíamos falar aqui de muitos mais. O senhor que está na fotografia de destaque deste artigo existe mesmo. Chama-se Neil Harbisson e nasceu com um problema na visão que não lhe permite ver as cores, ou seja, apenas via a preto e branco. Através de uma antena ligada diretamente ao cérebro agora consegue ver mais cores do que qualquer ser humano. Mas aquele tentáculo que lhe sai da cabeça tem muitas mais funções sensoriais e consegue mesmo receber sinais de satélites (!).

De acordo com vários meios de comunicação, como a CNN, Harbisson é mesmo o primeiro ser humano de sempre a ser reconhecido por um governo como sendo um ciborgue.

Depois também há o outro lado da moeda, isto é, máquinas que têm características físicas e biológicas semelhantes à dos humanos. Veja por exemplo o robô Jia Jia apresentado recentemente na China.

Juntando estes avanços ao crescimento da inteligência artificial e ao número de humanos que já estão a falar com robôs, então não será difícil de imaginar que dentro de algumas décadas os ciborgues venham a ser a categoria de seres mais comuns no planeta.



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