É uma das grandes dores de cabeça dos distribuidores de conteúdos: os streams piratas. Atualmente é possível encontrar com grande facilidade transmissões online dos conteúdos de quase todos os canais que existem. Há inclusive ferramentas próprias que facilitam esta integração nos dispositivos dos utilizadores, seja nos televisores, nas boxes ou nos smartphones e tablets.
Portugal não foge a esta regra. Recentemente o Jornal de Notícias dava conta da existência de 220 mil casas com serviços de televisão pirata.
Isto sem contar com as pessoas que acedem a serviços ilegais que não têm por base uma subscrição, ou seja, que acedem diretamente via links disponibilizados online de forma gratuita.
Valores apresentados pela Cisco, mas atribuídos à empresa Friend MTS, revelam que em setembro de 2016 existiam mais de 12 mil canais HD únicos a serem distribuídos ilegalmente em todo o mundo. Quando a análise contemplava também transmissões de menor qualidade (SD), então o número de canais únicos distribuídos de forma ilegal aumenta para 22 mil.
“A procura por conteúdos premium, em todas as línguas e em todos os mercados, levou a um aumento de serviços piratas que disponibilizam um interface de utilizador de grande qualidade”, refere num comunicado o gestor da área de segurança para o vídeo da Cisco, Amit Whol.
A questão da qualidade dos streams piratas é mesmo uma tendência, havendo inclusive o registo da existência de streams ilegais de um canal Ultra HD, referiu o especialista.
Atualmente os detentores dos direitos de transmissão têm de passar por um processo predefinido para que os streams ilegais sejam bloqueados. É preciso haver uma denúncia, é preciso haver uma verificação da situação, é preciso haver uma ordem de bloqueio e depois é preciso haver o corte efetivo da transmissão.
Há dois anos o administrador do grupo Controlinveste, Rolando Oliveira, dizia, citado pelo Jornal de Negócios, que alguns pedidos de bloqueio do grupo demoravam 42 dias até serem concretizados. Uma situação que tornava a guerra ‘desigual’ para os legítimos detentores dos direitos.
Cortar o mal pela raiz
Sabendo que o fenómeno da televisão pirata é de escala global e representa um desafio para os canais de TV e para os produtores de conteúdos, a Cisco desenvolveu uma solução que promete solucionar o problema de forma muito mais eficaz, explica o Torrent Freak.
Esta nova ferramenta é apelidada de Prevenção de Streaming Pirata (SPP na sigla em inglês) e permite “localizar conteúdo ilegalmente distribuído na internet aberta e nas redes piratas fechadas”, explica a Cisco.
A definição é curta, mas também não são precisas muitas mais palavras para perceber o intuito desta ferramenta. Agora como ela funciona, isso já é toda uma outra história.
Na prática a Cisco cria uma marca de água única que é embutida no sinal do distribuidor e que é invisível no conteúdo. Analisando depois os streams piratas – com a ajuda da empresa Friend TMS -, a Cisco consegue perceber qual a marca de água associada, seguindo a informação até chegar à fonte principal dessa transmissão, bloqueando-a de seguida.
“A SPP atua sem a necessidade de envolvimento ou cooperação de outras organizações, permitindo um nível de prevenção de retransmissões entre dispositivos sem precedentes, e permitindo que os provedores de serviços ganhem controlo dos seus canais, maximizando as suas receitas”, explica Amit Whol.
Para os produtores de conteúdos esta ferramenta promete ser quase perfeita pois atua de forma automática – não é necessário fazer requerimentos para cortar a transmissão das transmissões ilegais. E fá-lo de forma quase instantânea, o que a torna ainda mais apelativa no bloqueio de streams de eventos em direto, como jogos de futebol ou outros acontecimentos desportivos.
No entanto esta solução também levanta outras questões: deve um mecanismo automático ter este poder de decisão num ambiente como a internet, que se caracteriza pela seu caráter aberto? Pode uma ferramenta tomar uma ação que até aqui pertence ao domínio da justiça ou de organizações especializadas?
A verdade é que havendo um reconhecimento da dita marca de água, então o sistema terá a certeza de que está a fechar a ‘torneira’ a um distribuidor que é ilegal. Mas também é sabido que os mecanismos automáticos de controlo antipirataria podem cometer erros.
Por exemplo, a ferramenta da Google para bloqueio de conteúdos piratas, já chegou a cometer erros devido ao caráter automático da denúncia, o que por vezes acaba por limitar páginas que na realidade não têm qualquer conteúdo ilegal. O formato automático do processo torna-o mais permissivo a casos ambíguos. Atualmente a Google já processa mais de 100 mil pedidos de remoção por hora relativos aos resultados do seu motor de busca.