Quem gosta de videojogos provavelmente conhece a iniciativa Humble Bundle. Este é um formato que acaba por ter um conceito triplo: funciona como uma montra digital de venda de videojogos; funciona como uma boa oportunidade para comprar muitos e bons jogos a preços bem mais reduzidos; e tem um sentido solidário, pois parte ou a totalidade dos fundos recolhidos são doados para iniciativas de cariz social.
Os Humble Bundle são constituídos por vários jogos e o preço do pacote custa muito menos do que se comprasse todos aqueles jogos em separado. Por exemplo, em fevereiro destacámos aquele que foi um dos melhores Humble Bundle de sempre – era um pacote de 45 videojogos, que incluía alguns dos mais aclamados títulos de estúdios independentes, e cujo preço médio por jogo rondava os 62 cêntimos.
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Os Humble Bundle depois variam bastante consoante a temática. Os jogos agregados podem pertencer todos à mesma editora, todos à mesma franquia, podem ser de editoras diferentes, mas partilhar entre si o mesmo estilo de jogo ou podem simplesmente ser jogos muito distintos entre si e que têm um objetivo solidário comum.
Já houve muitos bundles, mas provavelmente nenhum como o GameDev Camp Bundle. Porquê? Porque este é um pacote de videojogos que tem como traço comum o seu ADN português – isto significa que ou foram desenvolvidos por um estúdio português ou têm pelo menos algum português na sua equipa de desenvolvimento.
A proposta do GameDevCamp Bundle inclui 13 videojogos e um tutorial por um preço de 15 euros. As produções que constituem este pacote custariam 71,57 euros se comprados individualmente e aos seus valores de mercado, o que prefaz um desconto de quase 80% para o bundle.
Estes são os conteúdos que fazem parte do GameDev Camp Bundle:
– Elifoot 17, por André Elias
– Zombie Apocalift, por Battlesheep
– Orczz, por Camel 101
– Hush, por Game Studio 78
– Fold+, por Ricardo Moura
– Stellar Interface, por ImaginationOverflow
– Water Heroes: A Game for Change, por Insignio Labs
– Murder in the Hotel Lisbon, por Nerd Monkeys
– AffordaGolf Online, por Oryzhon Studios
– A Demon’s Game – Episode 1, por RP Studios
– Slinki, por Titan Forged Games
– Color Magnet, por The One Pixel
– Brainful, por The One Pixel
– Tutorial: How to create a Multiplayer First Person Shooter, por Oryzhon Studios
Para este ser um ‘humble bundle à portuguesa’, isso significaria que esta venda teria de ter um propósito de apoio a alguma iniciativa – e é justamente isso que acontece. Este pacote de videojogos foi criado para ajudar a financiar parte do GameDev Camp, o maior evento em Portugal dedicado ao desenvolvimento de videojogos e que vai este ano para a sua quarta edição.
“A ideia surgiu há quatro anos quando vi o Miguel Vicente, um dos cofundadores do GameDev Camp, a trabalhar em como reunir todos os estúdios nacionais e os seus projetos num só documento físico, um booklet do que se faz em Portugal na produção de jogos. Na altura pensei que a ideia era de facto muito boa, mas nada bate dar a oportunidade de experimentar os jogos feitos por portugueses. Este ano foi quando essa ideia finalmente foi posta em prática”.
A explicação é de Diogo Vasconcelos, um dos elementos da organização do GameDev Camp. Em resposta por email ao FUTURE BEHIND, explicou também como foi feita a seleção de jogos.
“Tentei dar prioridade a projetos mais antigos com uma pitada de jogos recentes, permite dar um boost a projetos que provavelmente já estão em segundo plano para os estúdios e assim incentivá-los a continuarem a fazer parte em edições anuais futuras”.
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Apesar de dizer que foi “fácil e rápido” convencer os estúdios a participar neste bundle, algo que Diogo justifica pelo facto de haver uma comunidade muito forte em Portugal “disposta a colaborar uns com os outros”, também diz que houve jogos que procuraram incluir no GamDeve Camp Bundle e que não foi possível. “Com tempo e paciência poderão existir num próximo [bundle]”, acrescentou.
O financiamento do GameDev Camp é um problema que a organização acaba por encontrar em todas as edições. A venda do bundle é apenas uma das várias formas de apoio que compõe uma campanha de crowdfunding que está em curso para a realização do GameDev Camp.
Diogo Vasconcelos explica que “parte do bundle financia o evento e a restante vai para os criadores para que possam continuar a fazer bons jogos”. Há no entanto estúdios que estão a abdicar por completo da sua ‘fatia’ da venda para apoiar o evento, casos da Camel 101, dos Oryzhon Studios e da Nerd Monkeys [Nota: Diogo Vasconcelos é um dos fundadores da Nerd Monkeys].
O evento em si é gratuito para quem quiser participar, mas há despesas que estão relacionadas com os oradores internacionais que são convidados a vir partilhar a sua experiência com a comunidade portuguesa.
Para a edição deste ano já estão alguns nomes confirmados como Rich Metson, um programador com dez anos de experiência em diferentes projetos, tendo trabalhado para a BBC e que agora faz parte da equipa dos Bafta Awards. Ed Valiente, o responsável pela relação com os publishers na Nintendo Europa, é outra presença confirmada.
A lista de oradores ainda não foi revelada na sua totalidade, mas vai ficar mais preenchida ao longo das próximas semanas.
“Queremos não só trazer mais convidados como também queremos proporcionar oportunidades garantidas de falar com eles, por isso uma das novidades é a possibilidade de marcar reuniões privadas com qualquer convidado para poder fazer um pitch, pedir opiniões ou até mesmo tentar conseguir um emprego. Outra novidade será a inauguração de uma entidade oficial representativa de todas as pessoas que trabalhem na produção de videojogos como artistas, animadores, argumentistas, programadores, produtores ou músicos. Mas estas não serão as únicas novidades, é aparecer para ver”, disse Diogo Vasconcelos relativamente ao formato do evento para 2017.
Se os oradores em si não forem chamariz suficiente para o evento, há sempre outra vertente convidativa: conhecer novos projetos de videojogos portugueses que estão em fase de desenvolvimento. Esta é uma amostra do que poderá ser visto:
O GameDev Camp acontece no dia 24 de novembro e vai ter lugar na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, em Lisboa.