Como empresa, a Apple tem uma das melhores e mais imponentes estratégias de comunicação do mundo. Todo este poderio é sobretudo visível no dia da apresentação dos novos iPhone, quando a cobertura mediática do evento assume proporções épicas.
Esta capacidade de marketing, comunicação e influência da Apple é, no universo da tecnologia, quase inigualável. Quando a Apple faz um produto de excelência, o mundo ajoelha-se a seus pés. Mas não são só as Apple desta vida – leia-se Samsung, Google, Microsoft, Amazon – que produzem equipamentos capazes de revolucionar o mercado.
O objetivo desta pequena divagação é dizer que se fosse uma empresa com o mesmo poder da Apple a lançar uma Witbox Go, a nova impressora 3D da BQ, certamente ouviríamos falar deste gadget durante semanas e semanas a fio. Isto porque a BQ criou aquela que é uma impressora 3D que tem de facto poder para democratizar esta tecnologia. O sonho de uma impressora 3D em cada secretária é real e ao olharmos para a Witbox Go pudemos vislumbrá-lo.
“Acreditamos que é a primeira impressora 3D que pode entrar massivamente no mercado de consumo. Temos um produto que é pequeno, bonito, com linhas simples”, disse o diretor-geral da BQ, Rodrigo del Prado, logo após ter levantado o pano que escondia a impressora.
“A impressão 3D está aqui para ficar. Podia estar aqui a manhã toda a falar de casos reais que já a usam. A impressão 3D não é de nicho, é mais do que isso”, defendeu o porta-voz da empresa espanhola.
Esta crença da BQ materializou-se nesta sua sexta impressora. “Fizemos um grande investimento para fazer isto. (…) Esta é uma grande aposta. É a primeira vez que investimos tanto numa impressora. As outras impressoras do ponto de vista de design têm muito trabalho, mas do ponto de vista dos assets não são tão valiosas”, disse mais tarde Rodrigo del Prado, em entrevista ao FUTURE BEHIND.
Além da clara aposta no design minimalista, a Witbox Go destaca-se pela simplicidade que promete na sua utilização. O objetivo da BQ é que até as crianças consigam utilizar a impressora sem grande dificuldade.
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Parte desta simplificação vem de uma aplicação própria que a empresa desenvolveu chamada Zetup. Além de estar disponível para ambiente de computador, está também disponível como aplicação móvel para Android. Usar a Zetup no smartphone não é muito diferente de usar outras aplicações – basta abrir a app, escolher o que quer imprimir e ver a obra nascer.
Para ajudar nesta comunicação com os smartphones a BQ integrou o sistema operativo Android na impressora. O Android serve para que a máquina consiga lidar com os processos mais simples de comunicação – ligação ao Wi-Fi e receber atualizações over the air, por exemplo -, mas há um outro software integrado que gere todo o processo de impressão em tempo real.
“A principal razão para usar o Android é porque o Android é um ecossistema muito grande que tem muito desenvolvimento no qual te podes apoiar, na área da eletrónica conectada. Quando as próximas versões do Android forem também para o IoT, talvez seja o sítio certo para estar. (…) Porque não usar o Android se já usamos o Android para todos os outros produtos?”, questionou Rodrigo del Prado.
Além do hardware e do software, os pormenores de utilização também foram limados ao máximo. A base de impressão não necessita de laca ou fita aderente e está equipado com um sistema automático de calibração. Ao contrário de outras impressoras, que têm molas que permitem controlar a altura da base, na Witbox Go a base só é fixada por ímanes. Como o próprio diretor-geral da BQ disse, mesmo que uma pessoa quisesse, seria quase impossível não conseguir uma impressão calibrada. Adeus teste da folha de papel!
Colocar a bobine de filamento é tão simples como abrir uma tampa na lateral da impressora e assentar na posição correta. As bobines vendidas para a Witbox Go vão ter uma etiqueta NFC que vai comunicar com a impressora. Desta forma a Witbox Go saberá que filamento está a ser usado e consegue adaptar de forma automática as condições ótimas para a impressão desse material. Um exemplo: se for um filamento PLA com cobre, a impressora saberá que precisa de aumentar a temperatura do extrusor.
Para ajudar a reduzir ainda mais o seu impacto, a impressora também emite metade do ruído de uma impressora 3D convencional. O que quer isto dizer? Quer dizer que se estiver a ter uma conversa com outra pessoa na mesma sala onde está a Witbox Go, muito provavelmente a conversa vai abafar o som que vem da máquina.
A Witbox Go só vai ficar disponível no verão e vai ter um preço de 600 euros. Não é o valor mais acessível para uma impressora 3D – a portuguesa Blocks Zero, por exemplo, leva clara vantagem nesse capítulo -, mas a Witbox promete aos utilizadores um maior grau de facilidade de configuração e utilização.
Impressão 3D, um mercado que veio para ficar
A BQ começa a ter um histórico interessante no que diz respeito à impressão 3D. A tecnológica espanhola já apresentou três versões da Hephestos, a impressora monte você mesmo baseada no conceito do projeto open source Prusa, e já revelou duas versões da Witbox, o seu modelo topo de gama.
Rodrigo del Prado adiantou ao FUTURE BEHIND que a empresa vendeu entre 25 mil a 30 mil impressoras 3D desde que ingressou neste segmento de negócio. Questionado sobre se esta é uma área rentável, o empreendedor espanhol nem pestanejou: “Sim”.
Agora com este novo produto, direcionado para um público mais alargado, que não precisa de estar propriamente ligado ao segmento da tecnologia, a empresa espanhola diz estar a fazer a sua maior aposta na impressão 3D. ‘Democratização’ é o jargão para o objetivo que a BQ pretende atingir com a Witbox Go, mas num português mais simples o que a empresa quer é que mais pessoas possam tomar contacto com o potencial das impressoras 3D.
Rodrigo del Prado está convencido que a impressão 3D pode ter para a atual geração de crianças um impacto tão grande como aquele que o computador teve no século passado.
“Comparo isto com o que aconteceu há 20 anos, um pouco mais, quando os meus pais compraram o meu primeiro computador. Eles compraram-me esse computador para fazer o meu trabalho. Era como uma máquina de escrever. Mas depois tens o computador e começas a aprender a programar, começas a programar e começas a fazer com que o computador faça o que queres. Isto é quando tudo muda”.
O fundador da BQ diz que no momento em que os computadores começaram a ficar mais acessíveis, no preço e na tecnologia, foi quando o verdadeiro desenvolvimento começou a surgir. “Muitos miúdos programaram nos seus computadores: agora temos internet, temos smartphones, temos ecommerce, temos aplicações, temos tudo!”.
“Com a mecânica e o design, acontece o mesmo. Antes de desenhares no computador, não podes de facto fazer aquilo que estás a desenhar. Tens que o enviar para alguém para que o imprima para ti, é caro e não é rápido. Não está a acontecer. Agora com a Witbox pode acontecer. Vai haver uma nova geração de pessoas que sabe que a impressão 3D pode ser uma ferramenta e inclui essa ferramenta nas suas caixas”, acrescentou.
Os sinais sobre os momentos de mudança da impressora 3D já começam a surgir, segundo o porta-voz da BQ. Em Espanha, por exemplo, os alunos do sétimo ano já têm um módulo de ensino dedicado apenas à impressão 3D. No retalho, as impressoras 3D começam a ganhar espaço junto da restante eletrónica de consumo como os televisores, as consolas, os computadores e as impressoras 2D. Aos poucos, a realidade sobre a impressão 3D começa a ganhar novos contornos.
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É este momentum que a BQ quer aproveitar com a Witbox Go. A simplificação de design e de experiência de utilização estão a chegar a um ponto quase ideal.
“Há sempre algo para fazer, mas aqui estamos a chegar a um ponto onde não há mais simplificação para ser feita. Se chegares a esse ponto, em que não são possíveis mais simplificações, conseguiste o teu objetivo. Estás naquele ponto em que toda a gente pode imprimir. Aí tens de convencer as pessoas a quererem imprimir. Pelo menos não existem barreiras para eles começarem a imprimir. Este é o objetivo. Nesse momento pode tornar-se mainstream”.
Em termos de posicionamento oficial a BQ não está a orientar a Witbox Go para um segmento específico de pessoas, mas Rodrigo del Prado disse o que pensa sobre este assunto.
“Adoraria dizer que é para toda a gente. As crianças estão entre as pessoas que mais vão gostar de ter esta impressora. Quando deixas uma criança imprimir, torna-la na criança mais feliz de sempre. É ao estilo ‘Não preciso de brincar com lego, tenho a minha própria fábrica’. Combina isso com algumas placas de Arduino e algum software, eles podem construir um exército de robôs que faz o que eles querem!”.
Rodrigo depois retificou um pouco esta ideia. Não quis dizer que esta é uma impressora 3D apenas para os mais pequenos ou para quem é inexperiente na área. Garante que o que a Witbox faz, a Witbox Go também fará pois são equipamentos “irmãos”. Quando se referiu às crianças, referiu-se numa sentido mais alargado – Rodrigo del Prado quer acordar a criança que ainda existe dentro de cada um de nós.