O novo iOS 10 comentado por quem percebe do assunto

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Ano após ano a Apple renova o seu sistema operativo para dispositivos móveis, o iOS. Popularizou-se com o iPhone, ganhou músculo com o iPad e consegue ainda viver em alguns iPod Touch.

O iOS 10, apresentado no início de junho na Worldwide Developer Conference (WWDC), trouxe várias novidades: redesenho de aplicações, novas funcionalidades no sistema operativo e maior abertura de sistemas como o iMessage ou a assistente virtual Siri.

O FUTURE BEHIND lançou o desafio a alguns programadores portugueses para comentarem o iOS 10. Hugo Sousa, programador na Plex, Pedro Cardoso, programador na Mokriya, e Fábio Bernardo, programador na Subtraction, aceitaram o convite.



As opiniões divergem em alguns pontos, mas também convergem noutros. Por exemplo, Hugo Sousa está satisfeito com o grosso das novidades apresentadas. “Penso que foram apresentadas novas funcionalidades muito interessantes, nomeadamente nas aplicações de mensagens e mapas, de forma a tornar a oferta da Apple mais atractiva comparativamente à competição. Além da integração com a Siri e completo redesign da app de música, foram feitas diversas melhorias ao nível do interface e experiência de utilização como o novo lock screen e respectivos widgets. Tenho utilizado estas funcionalidades na versão beta desde que foi anunciada e estou a adorar”.

Já Pedro Cardoso recebeu o novo software com menos entusiasmo. “Confesso que ainda não vi tudo o que saiu sobre o iOS 10, mas a nível de funcionalidades não me impressionou muito. Algumas funcionalidade são bem-vindas, como o novo lock screen, o update às Photos ou a abertura do iMessage, mas não sei, soube-me a pouco. Algumas funcionalidades deram demonstrações bastante apelativas, como as do iMessage, mas tenho dúvidas que no terreno fragmentado do messaging se tornem populares ou sejam úteis”.

Já a opinião de Fábio Bernardo funciona quase como uma análise moderadora ao que foi dito pelos seus colegas programadores. “Este iOS não foi acerca de renovação, foi consolidação. De modo geral mostra como a Apple tem vindo a desenvolver funcionalidades chave que agora pode capitalizar. O iMessage que podia facilmente ser uma empresa à parte, o Apple Pay como método de pagamento seguro em todas as plataformas, o CloudKit que é a base de mais e mais serviços e funcionalidades do sistema operativo (Notes, Photos, News, etc). No geral este iOS é acerca de abrir as aplicações de sistema a programadores, tudo tendo em conta a segurança”.

A App Store do iOS tem dois milhões de aplicações, 130 mil milhões de downloads e já rendeu aos programadores perto de 50 mil milhões de dólares

O iOS 10 ficou de facto marcado por uma maior abertura da Apple relativamente a alguns dos seus serviços nucleares. Até aqui só a tecnológica de Cupertino podia explorar as potencialidades da Siri, mas agora isso vai mudar. O iMessage, que perdeu terreno para serviços como o WhatsApp, tenta agora diferenciar-se justamente com uma abertura que o serviço detido Facebook não permite.

No caso específico da abertura mostrada pela Apple os programadores preferiram salientar a calma e a estratégia que a empresa costuma escolher no lançamento dos seus produtos, em vez de serem críticos com o facto de esta possibilidade de integração para terceiros só agora ficar disponível.

“Do ponto de vista de utilizador, claro que gostaria de ter integração com a Siri há mais tempo, mas penso que esta abertura é atempada e em certas áreas ter alguma calma é fundamental. A Apple tem a tendência de lançar produtos novos que criam os seus próprios mercados (veja-se o iPad, por exemplo), e depois vai melhorando incrementalmente ano após ano”, considera Hugo Sousa.

Um dos elementos que tem caracterizado a Apple moderna é de facto a abertura, mas também relativamente a práticas como as betas públicas dos sistemas operativos. Já não fica tudo fechado a sete chaves até à última da hora, agora todos – programadores e utilizadores – podem ir trabalhando e dando o feedback relativamente à evolução do iOS e também do macOS.

Durante o mês de julho serão lançadas as primeiras versões públicas de teste do iOS 10 e macOS Sierra, chegando as versões definitivas apenas no outono.

“Podemos testar as coisas antes de sair a versão final para não ter surpresas e brincar com as novidades antes de toda a gente, mas é preferível fazê-lo num dispositivo secundário”, aconselha, ainda assim, Pedro Cardoso.

Já Fábio Bernardo, perante toda a abertura que a Apple tem mostrado, não tem dúvidas em dizer: “Nunca houve melhor altura para se ser um Apple developer”.

O programador da Subtraction dá um exemplo concreto que ajuda a enquadrar melhor esta afirmação. “O sucesso do Swift como projeto de código aberto é algo do qual a Apple se deve orgulhar imenso. O projeto ganhou vida além do grupo dentro da Apple, sendo que boa parte da versão 3 foi proposta e implementada pela comunidade. Os avanços na API para acomodar esta linguagem mais nova vêm melhorar a entrada de mais e mais programadores”.

A linguagem de programação Swift vai inclusive dar um salto geracional, através da iniciativa Swift Playgrounds. Esta aplicação, que será gratuita e estará disponível para iPad, permite que os mais novos aprendam conceitos de programação com a ajuda de um jogo interativo.

Pedro Cardoso também escolheu o novo Swift como uma das principais novidades da Apple a destacar. Ficou ainda bastante satisfeito o HomeKit e o Callkit – este último também sublinhado por Hugo Sousa nas melhores novidades para programador pois “permite às apps de VoIP terem finalmente uma experiência de chamada muito semelhante à app nativa de telefone”.

O iOS 10 pode até estar a vários meses de distância, mas na cabeça dos programadores já se pensa no que virá a seguir. “Não acho que tenha ficado a faltar nada nesta versão, mas não consigo deixar de esperar ansiosamente pelo que o próximo ano nos trará, visto marcar os dez anos de lançamento do primeiro iPhone”, lembrou, e bem, Hugo Sousa.

Será também esse o grande motivo pelo qual este ano o iPhone não deve sofrer grandes alterações?

Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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