Parabéns!
Então, não sabe que dia é hoje? Faz exatamente um ano desde que a Google disponibilizou a primeira versão beta do Android 7.0 ‘Nougat’. Desde o dia 9 de março de 2016 que tanto os programadores como as grandes tecnológicas puderam brincar com a mais recente versão do Android.
Este é um aniversário teórico e não prático. Em teoria o sistema operativo já tem de facto um ano de existência, mas na prática só foi disponibilizado no dia 22 de agosto de 2016. Esta diferença é importante para perceber os problemas que estão associados à estratégia de atualização do Android.
O que a Google fez no ano passado foi inédito. Era simplesmente mais um dia de inverno, mas deixou de ser quando sem que nada o fizesse prever, a tecnológica de Mountain View anunciou uma nova versão do Android. Pela primeira vez a Google mostrava o Android 7.0 ‘Nougat’.
A gigante dos motores de busca decidiu no entanto ir mais além: não só revelou o sistema operativo, como tornou-o público nesse mesmo dia. Quem tivesse um equipamento Nexus relativamente recente e nervos de aço – é sempre preciso ter nervos de aço para arriscar nas primeiras betas de um sistema operativo – podia começar a trabalhar sobre o Android 7.0.
A ideia da Google era boa: dar tempo, muito tempo, para que todos os interessados pudessem antecipar com calma as mudanças que aí viriam. Se do lado dos programadores isso significava adaptar as aplicações às novidades do software, do lado dos fabricantes isso significava criar atualizações do Android 7.0 que pudessem ser disponibilizadas o mais rápido possível para o maior número de equipamentos.
A ideia da Google era, certamente, ver um grande número de dispositivos atualizados poucos meses após o lançamento prático do novo Android. O que é que aconteceu? Pouco, muito pouco. Os fabricantes de smartphones não aproveitaram – ou não quiseram aproveitar? – a oportunidade que a Google lhes deu.
Esta semana, quase em jeito de antecipação a este aniversário teórico, foram revelados valores de quota de mercado para as diferentes versões do Android. O Android ‘Nougat’ não representa ainda 3% no universo Android.
Já lá vai mais de um ano desde que a Google revelou números oficiais do número de dispositivos Android ativos. Em setembro de 2015 eram 1,4 mil milhões. Sabendo que o sistema operativo da Google tem açambarcado mais de 80% de quota de mercado ao longo dos últimos trimestres, é justo assumir que os valores mesmo não tendo aumentado, também não terão diminuído – o próprio mercado de venda de smartphones está estagnado.
Numa rápida operação matemática, isso pode significar que atualmente existem perto de 39 milhões de smartphones e tablets já equipados com o Android 7.0 ou uma versão mais recente. Visto assim pode não ser um mau valor, mas olhando para o bolo total do Android, é um valor fraco. Muito fraco.
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O Android ‘Nougat’ está inclusive a ter um desempenho ligeiramente abaixo daquele conseguido pelo Android 6.0 ‘Marshmallow’. O Android Marshmallow foi disponibilizado ao público em outubro de 2015 e em março de 2016 tinha 2,7% de quota de mercado. Contas feitas, o Android ‘Nougat’ leva dois meses a mais de mercado e apenas consegue uma quota superior em 0,1 pontos percentuais.
Estes valores revelam também que ano após ano, a taxa de atualização do Android é penosa. São muito poucos os utilizadores que nos primeiros meses de vida de uma nova versão do sistema operativo têm acesso a ela. O mesmo já não pode ser dito do rival iOS.
O esforço feito pela Google no ano passado para tentar adiantar e melhorar um pouco o processo de atualização não teve efeitos palpáveis. O sistema operativo Android continua bastante fragmentado e eis que chegamos à parte crítica da questão: a culpa é da Google ou dos fabricantes de hardware?
Já tivemos outros momentos de reflexão sobre esta temática. Em condições normais a culpa não pode ser atribuída à Google, nunca. A tecnológica está constantemente a disponibilizar novas versões do Android – todos os meses há atualizações de segurança. Quantas marcas seguem este calendário de atualizações? Poucas, muito poucas.
Já aqui demos o exemplo de como a BlackBerry pode ser o futuro do Android. Por exemplo, a atualização de segurança do Android para o mês de março já está disponível para os dispositivos Priv, DTEK60 and DTEK50. Quer isto dizer que num curto espaço de tempo a BlackBerry cozinhou as atualizações de segurança em torno das necessidades dos seus equipamentos e já as colocou no mercado.
‘Ah, mas a BlackBerry tem poucos equipamentos para atualizar’. É um facto. Mas de todas as empresas, também é aquela que menos tem a perder – a sua quota de mercado no segmento dos smartphones já atingiu os 0,0%. Faria muito mais sentido empresas como a Samsung, a Huawei, a Sony e a LG terem uma postura semelhante, pois são marcas que ainda têm muito para lutar pela sua posição no mercado, seja na tentativa de ganhar quota, seja na tentativa de evitar perdê-la.
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Por outro lado a Google podia e devia ter uma mão mais pesada no controlo do seu ecossistema. Há muitos utilizadores que não estão a receber o melhor do Android simplesmente porque a não atualização de equipamentos resulta na venda de novos smartphones. Já que a Google não cobra um cêntimo pelo seu software, podia pelo menos definir algumas linhas mestras que proibissem, por exemplo, a apresentação de dispositivos novos com o Android ‘Marshmallow’ em pleno 2017 e na maior feira de dispositivos móveis do mundo.
A partir de hoje, visto que Android ‘Nougat’ faz teoricamente um ano, começam-se a contar os dias para que a Google revele pormenores, e quem sabe uma versão beta, da sua próxima versão do Android. Isto significa também que o tempo de ‘vida’ do Android 7.0 ‘Nougat’ começa a esgotar-se. A partir do momento em que a Google revela uma nova versão do Android, é para aí que se viram as atenções dos programadores e das empresas.
A Google tem agora dois caminhos: decide fazer apenas uma atualização incremental no Android 7.0 e mantém o sistema operativo por mais um ano, para depois dar um salto evolutivo mais significativo; ou admite que este não foi um lançamento feliz e começa a preparar uma versão Android ‘O’ que possa colocar mais dispositivos em linha com as atualizações mais recentes.