O que esperar de uma marca que empurrou os smartphones para câmaras fotográficas de grande qualidade e que fez chegar ao mercado o primeiro telemóvel com ecrã Ultra HD? Esperamos muito, se possível mais uma tentativa de elevar o smartphone a um novo patamar.
A questão é que do trabalho que já vimos feito pela Sony noutros smartphones, o Xperia X acaba por não satisfazer por completo. Não porque o smartphone seja mau, porque até é mais uma daquela ‘pérolas’ vindas do Japão. Mas apenas porque parece ter uma estratégia desajustada.
Isto acontece pois a Sony decidiu que o Xperia X seria um dos seus novos topo de gama – antes do Xperia XZ ter sido apresentado. E como tal achou que devia vir com um preço nesse sentido: pode ser adquirido por um valor a rondar os 630 euros.
Depois da experiência que tivemos com o smartphone podemos dizer que o preço é sem sombra de dúvidas o seu ponto fraco. Não há elementos suficientes no smartphone que justifiquem este valor. O que é uma pena: tivesse a Sony sido mais humilde na abordagem deste equipamento e podia ter aqui o rasgo de popularidade que há anos lhe falta.
O Sony Xperia X é um smartphone claramente saído das fornalhas da tecnológica nipónica. Apresenta-se com um aspeto sólido, polido e coeso, tal como a marca tem habituado os clientes com a linha dos seus últimos topos de gama. Mas ao contrário do que vimos, por exemplo, no Xperia Z5 Premium, a Sony acaba por adotar aqui uma linguagem mais discreta, talvez mais jovem, mas que ainda assim resulta num smartphone bem delineado.
Apesar da silhueta retangular, está bem torneado nas suas extremidades o que lhe confere um aspeto mais amigável. O tamanho de cinco polegadas aliado à sua ergonomia física tornam muito fácil usar o smartphone apenas com uma mão, algo cada vez mais difícil de encontrar nos dias atuais.
Na parte frontal a Sony optou por colocar uma cobertura oleofóbica bastante acentuada: acaba por tornar o ecrã do dispositivo mais brilhante e faz com que o toque seja mais suave, isto é, o dedo escorrega com maior facilidade pelo painel principal. Por outro lado também aumenta os reflexos. A restante construção é em alumínio escovado, outro material que também é bom no toque e permite criar um dispositivo mais sóbrio – no caso da nossa unidade de testes a cor escura ajuda a acentuar ainda mais esta particularidade.
Se no geral é um equipamento bem construído, não existe qualquer elemento de personalidade ou de assinatura que ajude a colocar o Sony num patamar diferente de muitos outros smartphones – isto tendo em conta o seu preço. Sim, tem uma boa construção, mas não podemos falar numa escolha de materiais premium. Falta ao smartphone impacto visual pois existem equipamentos mais baratos e que têm um apelo muito mais forte.
Mas há qualidades no Xperia X que são de facto dignas de um dispositivo topo de gama. A melhor de todas é a sua performance. Mesmo não sendo um dispositivo com um processador de topo – tem um Snapdragon 650 -, consegue ser super-veloz na resposta aos comandos do utilizador.
Este tem sido, aliás, um apanágio da Sony nos seus smartphones e é sem sombra de dúvidas uma das melhores, se não mesmo a melhor, empresas que trabalha a otimização do software em torno do hardware. Tudo é rápido, tudo é fluído, não existem quebras de performance nas tarefas básicas. Tudo funciona muito bem neste sentido.
Mesmo não estando ao nível de um Huawei P9 Plus ou Samsung Galaxy S7 em termos de desempenho, o Xperia X safa-se muito bem. As capacidades multitarefas são boas, podendo o utilizador trocar de aplicações num abrir e fechar de olhos sem ter de esperar que as mesmas recuperem do seu estado de hibernação.
Outro exemplo: a aplicação Prisma, uma alternativa ao Instagram para a utilização de filtros em fotografias, usa um sistema de inteligência artificial para transformar por completo as imagens dos utilizadores. Dependendo do smartphone esta pode ser uma ação morosa pois o equipamento precisa de fazer imensos cálculos para ‘acertar’ o filtro com a imagem. No Xperia X a aplicação é agradavelmente rápida.
O Xperia X consegue executar os jogos mais populares sem grandes problemas, mas um dos títulos mais exigentes da atualidade, Suicide Squad: Special Ops, acaba por não ter um desempenho fluído. É jogável, mas a experiência não é satisfatória. Este exemplo ajuda a perceber um pouco os limites do equipamento.
Outro aspeto que agradou foi o ecrã, apresentando-se bastante vivo sobretudo na reprodução de cores. A saturação é um dos pontos fortes deste equipamento, mas este é um elemento que pode provocar alguma discórdia – há quem prefira de facto conteúdos visualmente mais ricos, mas há quem prefira perder um pouco de vivacidade a troco de cores mais realistas.
O Xperia X joga no campo da ‘vivacidade’ e para quem gosta de consumir conteúdos multimédia este é um ponto a favor. O ecrã consegue atingir níveis de brilho bons, para uma utilização em qualquer cenário. Já a resolução está em linha com o que seria de esperar de um painel Full HD: bom detalhe, bons contornos dos elementos e boa experiência de visualização no geral.
Também na linha do que já tem sido apresentado nos smartphone de topo da gama Xperia, a câmara fotográfica tem uma qualidade acima da média. O sensor de 23 megapíxeis faz de facto a diferença.
Em condições com boa luminosidade o smartphone capta tudo com bastante detalhe e com boas cores. O disparo é bastante rápido e o sistema de focagem automática funciona de forma veloz. Ou seja, tem aqui uma câmara de bolso muito capaz e dinâmica nas suas funcionalidades: há opções de realidade aumentada, efeitos criativos e até uma opção para captar fotografias com som.
Mas onde notamos de facto que este é um sensor com uma ‘sensibilidade’ acima da média é nas condições de baixa luminosidade. Consegue tirar um bom proveito da pouca luz que existe para produzir fotografias ‘iluminadas’ e que acabam por apresentar cores quentes.
Ponto de referência para o sensor na parte frontal do equipamento que tem 13 megapíxeis e produz ‘selfies’ de qualidade inegável.
Se a versão do Android 6.0 ‘Marshmallow’ está bem trabalhada ao nível de fluidez, a Sony continua a cair na tentação de incluir algumas aplicações desnecessárias de origem. Isto é algo gerível, mas que a longo prazo vai acabar por colocar o utilizador numa posição em que provavelmente não vai usar os serviços – como o What’s New – e vai querer apagá-los. A única aplicação destas que de facto traz valor acrescentado relativamente ao que é possível encontrar na loja de aplicações do Android é a Log Life, que faz um registo da atividade diária do utilizador.
Destaques finais para a bateria que garante uma utilização superior a um dia – dependendo do perfil da pessoa, pode quase alongar-se até dia e meio – e para o leitor de impressões digitais bastante rápido, mas pouco ergonómico.
Não gostamos do posicionamento da tecla de controlo do volume: está colocada na parte inferior direita do smartphone, entre o botão dedicado de fotografia e o botão de início do smartphone. Simplesmente não é tão ergonómico na sua utilização.
Se chegou a este ponto e está a fazer o somatório das críticas positivas e negativas que fomos apontando ao Sony Xperia X, o campo positivo ganha claramente. Como dissemos logo no início, este dispositivo da Sony é um bom smartphone. Aliás, é um smartphone muito interessante por conjugar um desempenho de alto nível – não elevadíssimo – com uma ergonomia muito bem conseguida.
Mas no fim tudo se resume a uma questão da relação qualidade-preço. A qualidade está lá, o preço é que não está afinado. Por um valor quase semelhante os consumidores podem optar por um dispositivo como o LG G5 que é muito superior em quase todos os parâmetros de análise: ecrã, câmara, construção e factor ‘X’.
É irónico, mas talvez seja isso mesmo o que falta ao Xperia X, o factor ‘X’. Não tem um elemento que o faça destacar-se de forma significativa de outros smartphones do mercado, falta-lhe um rasgo de afirmação visual. Isso aliado à falta de uma maior sensação premium não justificam o valor pedido. E falta um elemento ‘soníaco’ – resistência à água.
Agora com a chegada dos novos smartphones da linha Xperia é possível que a Sony reajuste o posicionamento do Xperia X. Pois por aquilo que permite em termos de utilização, o dispositivo merecia um posicionamento mais apelativo para os consumidores.