Lenovo Yoga Book: Mais do que um simples tablet

Quando demos a conhecer o Lenovo Yoga Book pela primeira vez dissemos que o equipamento “traz tantos elementos diferenciadores relativamente aos restantes tablets do mercado que podemos estar perante um novo momento de definição no segmento”. Depois de duas semanas de testes com o dispositivo temos ainda mais confiança neste ponto de vista.

Não falamos num momento de definição semelhante ao que o iPad trouxe, mas antes num momento de definição mais ao estilo daquilo que a Microsoft atingiu com o Surface. O Yoga Book, como tablet, tem uma boa proposta de valor e isso vai obrigar a concorrência a responder na mesma moeda.




Agora que o espaço para os tablets na vida dos consumidores é um pouco menor, fruto do crescimento dos smartphones, os tablets têm de saber encontrar novos formatos para cativarem o público. É neste aspeto que o Yoga Book é um equipamento à parte: é diferente de tudo o resto que já experimentámos, mas consegue cumprir muito bem a sua função principal, que é ser um tablet.

O maior trunfo do Yoga Book é sem dúvida o facto de conseguir ter duas partes completamente distintas, mas ainda assim não perder o sentido de mobilidade. Isto é conseguido através de um equipamento que é extremamente fino – 4,8 milímetros de espessura quando está aberto, 9,6 milímetros quando está fechado.

Mesmo apresentando-se com um tamanho de dez polegadas, o peso de 690 gramas acaba por não ser exagerado e está bem distribuído. Isto aliado ao baixo perfil do tablet, faz com que não se sinta em demasia o peso.

Mas também é aqui que podem começar as questões dos consumidores: ‘afinal, o que é a base extra que vem integrada no tablet e será que preciso mesmo dela?’.

A base extra tem acima de tudo duas funcionalidades: ser um teclado dedicado para o tablet ou ser uma mesa de desenho para o tablet. Se escrever muito fora de casa ou se tiver um gosto especial pelo desenho, então este é um equipamento que acabará por fazer sentido para si.

Apesar do conceito arrojado e bem implementado para uma primeira versão, o Lenovo Yoga Book não se livra de críticas e a verdade é que sendo de facto um tablet diferente, é um tablet que ainda tem aspetos a melhorar, justamente nos elementos onde é mais diferenciador.

Quando vimos o tablet pela primeira vez e olhamos para o seu teclado ‘áureo’, totalmente liso e sem qualquer saliência, pensamos: ‘será que vou conseguir escrever naquela superfície?‘. A resposta mais indicada é ‘primeiro estranha-se, depois entranha-se’.

A experiência de escrita nunca é tão boa como aquela que existe em teclados dedicados para tablet com teclas salientes. O teclado que o Lenovo Yoga Book apresenta faz-nos até lembrar a Touch Cover que foi lançada originalmente com o Surface e basta olhar para o tablet da Microsoft para percebermos como esse conceito não resultou.

No entanto o teclado ‘áureo’ do Yoga Book acaba por cumprir, mas sem nunca espantar. Podia aquele ser o dispositivo móvel para o trabalho de um jornalista? Talvez pudesse, pessoalmente não faria essa escolha. O texto que escreveria num portátil poderia escrevê-lo no Yoga Book, é um facto, simplesmente levaria muito mais tempo até estar concluído.

A responsividade do teclado até é boa, mas não é 100% precisa. Por vezes não batemos com a força indicada na ‘tecla’ ou então pensamos que acertamos e foi ao lado, e quando damos por isso já existem duas ou três gralhas na mesma frase.

Há um sistema que ajuda a transformar a experiência de escrita mais ‘amigável’: a versão do sistema operativo Android traz um teclado dedicado em português que vai fazendo previsões à medida que vamos escrevendo. Quer isto dizer que por vezes não vai precisar de completar a palavra, basta selecioná-la no ecrã ou através de atalhos – carregando na barra de números do teclado.

Mas nem sempre estes atalhos foram uma grande ajuda. Quando queria escrever um número logo depois de uma palavra, se esse número começasse por 1, 2 ou 3, então o tablet assumia que estava a aceitar a sugestão de palavra indicada, quando eu apenas queria introduzir o número em si. São pequenos pormenores que a Lenovo precisa de corrigir e que acabam por prejudicar um pouco a experiência de utilização com o teclado.

Ainda assim, fica uma boa impressão dada por um teclado virtual e que não tem qualquer tecla física. A opção deste teclado acaba por ser bem mais prática do que escrever no teclado virtual que por norma surge no ecrã do tablet, deixando todo o ecrã disponível para a disponibilização de conteúdos.

É de referir também que o trackpad incluído no teclado não é de grande qualidade – é pouco sensível ao toque e foi difícil de utilizar. Acabei por optar por arrastar as janelas e percorrer os textos recorrendo ao ecrã sensível ao toque.

A Lenovo também precisa de melhorar o melhorar o feedback tátil do teclado – é agressivo, é irritante e as pessoas vão acabar por desligá-lo, quando devia ser uma mais valia para gerar algum sentido de toque num teclado tão ‘vazio’.

Já na segunda função da base do tablet, a do desenho, aí só há elogios a fazer. Esta ‘lousa’ do Yoga Book é generosa em tamanho e é bastante precisa. Através da caneta que vem incluída com o equipamento o utilizador pode conseguir desenhos com grande precisão, tal como mostrámos durante a apresentação do equipamento em Portugal.

Para o caso de ainda não estar totalmente adaptado ao desenho digital, pode sempre recorrer ao desenho através de caneta e papel. Este é talvez o aspeto mais ‘rebuscado’, mas também mais surpreendente do Yoga Book. Colocando qualquer folha de papel sobre uma base magnética que vem de origem com o tablet, o utilizador pode desenhar ou escrever a caneta que o dispositivo faz um registo automático da versão digital.

Mais uma vez a precisão de acompanhamento do traço foi muito boa e de facto o Yoga Book pode acabar por ser uma escolha indicada para os criativos que gostam de ter mobilidade no seu ritmo de trabalho.

A Lenovo também esteve muito bem ao criar um botão dedicado que permite trocar rapidamente do modo teclado para o modo de desenho. Fique a pressionar o botão, vai sentir uma vibração e as luzes do teclado ‘áureo’ desligam-se. Quando não houver qualquer luz, então é sinal de que pode começar a desenhar.

Este ‘lado B’ do Yoga Book é aquele que confere personalidade ao dispositivo móvel. Não ficamos totalmente convencidos com o teclado, mas também não lhe torcemos totalmente o nariz. Serve para as tarefas básicas e para escrever alguns textos, mas não para utilizações intensivas. Já a vertente de desenho encheu-nos as medidas.

Só que esta é apenas uma parte do tablet. Se o ‘lado A’, o tablet propriamente dito, não fosse bom, então todo o engenho desenvolvido perderia parte do seu sentido. Felizmente não é isso que acontece.

Em primeiro lugar a marca asiática conseguiu criar com o Yoga Book um dos gadgets mais bonitos da atualidade. Tem sensivelmente o tamanho de um livro, mas é muito mais fino. Está construído em magnésio, o que lhe confere uma construção premium e ao mesmo tempo sóbria.

O teclado digital iluminado dá-lhe um conceito futurista e a dobradiça num sistema de rodas dentadas confere-lhe um toque steam punk. Ainda relativamente à dobradiça, destaque para o facto de ter bastante força e de conseguir fixar o ecrã em qualquer posição.

O Lenovo Yoga Book é uma das peças de hardware de 2016 e neste aspeto não há muito que possa ser apontado ao equipamento.

O Yoga Book apresenta-se com um ecrã de 10,1 polegadas e uma resolução de 1.920×1.200 píxeis. O painel é bastante definido e apresenta uma representação fiel das cores, ainda que alguma saturação extra fosse bem vinda – os conteúdos são muito ‘frios’ no Yoga Book.

Relativamente ao desempenho não há muito a apontar. Numa utilização quotidiana nota-se que não é o mais potente dos tablets, daqueles que garante uma experiência de utilização imaculada. O processador Intel Atom x5-Z8550 garante poder suficiente para as tarefas mais básicas e até para lidar bem com a vertente multitarefa – também graças aos 4GB de RAM -, mas não nos garante um dispositivo 100% fluído. Em suma, é suficiente para garantir aquilo que é esperado de um tablet Android.

O nosso grande elogio relativamente à parte Android do equipamento é justamente para a personalização feita ao sistema operativo. A tecnológica chinesa não se limitou a atafulhar o Android para dentro de um equipamento ambicioso que criou, tentou ao máximo fazer com que software e hardware trabalhassem em conjunto.

O facto de o utilizador poder minimizar janelas no Android, um pouco à imagem daquilo que é possível fazer no Windows, é um dos ‘mimos’ que vai encontrar nesta versão trabalhada do Android 6.0 ‘Marshmallow’.

Esta otimização que existe reflete-se também na autonomia do equipamento. Apesar da sua ‘finura’, o Yoga Book consegue garantir sem grande dificuldade autonomia para um dia e meio de produtividade. A bateria acabou por ser um dos nossos aspetos preferidos no tablet.

Já fizemos a referência, mas voltamos aqui a destacar. A versão testada pelo FUTURE BEHIND é a que tem o sistema operativo Android instalado de origem. Há também uma versão com o sistema operativo Windows 10, mas a análise não reflete o desempenho do tablet nessa versão.

Conclusões finais

Quando o Yoga Book foi apresentado, o vice-presidente da Lenovo para as divisões de computação Android e Chrome, Jeff Meredith, disse que o mercado dos tablets é aborrecido. Tivesse sido um Tim Cook da Apple ou um Sundar Pichai da Google a dizê-lo e teria havido conversa durante semanas. Mas como foi Jeff Meredith, não houve.

Não porque talvez os intervenientes do mercado dos tablets reconhecem esta realidade. Os tablets além de pouco diversificados, até estão a perder cadência nos seus lançamentos. Foi por isso que gostamos de ver o BQ Aquaris M8. Foi por isso que gostamos de ver a Lenovo a arriscar tanto no Yoga Book.

Só pela tentativa de diferenciação já levava o nosso respeito, mas como acaboupor construir de facto um equipamento com uma boa proposta de valor, levam também uma boa classificação.

A base do computador é uma adição valiosa e que não tem um impacto muito significativo no preço. O ecrã é de qualidade e a autonomia da bateria é muito boa. Além disso consegue manter-se bastante fino. O que podemos pedir mais de um tablet multifunções?

A Lenovo ainda precisa de melhorar o sistema do teclado áureo, para torná-lo mais preciso. É também necessário afinação no software para que as sugestões de palavras sejam uma mais valia e não uma trapalhada. E por favor, arranjem um trackpad em condições.

Pelos 500 euros pedidos, consideramos que o Yoga Book é um bom investimento para quem precisa de uma máquina com uma boa capacidade multimédia e que seja fácil de transportar. Os amantes do desenho também vão querer experimentar este dispositivo pois além da vertente digital de grande precisão, permite fazer uma transição mais suave entre o desenho a papel e o desenho digital.

Não vemos o Yoga Book como um tablet que faça sentido para todos os consumidores. Mas vemos o Yoga Book como um caminho que gostávamos de ver mais explorado no universo dos dispositivos móveis de grande dimensão.

Lenovo Yoga Book
Design e construção
9
Ergonomia
8
Ecrã
8
Teclado
6
Performance
7
Autonomia
8
Software
8
Reader Rating15 Votes
6.1
Painel para teclado/desenho
Autonomia
Excelente hardware
Teclado precisa de melhorias
Trackpad é mau
Podia incluir porta USB-C
7.7
EM 10
Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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