Quando fomos perceber a fundo a estratégia da portuguesa LAIQ, o seu diretor-geral, Arnaldo Rodrigues, vincou a vontade de querer construir uma marca que fosse forte junto dos consumidores portugueses. A questão que se coloca é: como se constrói esta proximidade?
A resposta básica seria com um forte investimento em marketing. Este é o caminho mais rápido para colocar os consumidores em contacto com uma determinada marca ou produto. Mas há outras opções e é esse o caminho que a LAIQ está a tentar percorrer.
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A empresa tem apostado no mercado de gama média, pois é aquele que tem maior expressão junto dos consumidores portugueses. A LAIQ aposta na questão das certificações para conseguir criar um elo de confiança. A marca também tem tentado criar um perfil de smartphones que sejam reconhecidos pela sua relação qualidade-preço.
Com um dos seus mais recentes dispositivos, o LAIQ Glam, este último ponto da estratégia não é concretizado da melhor forma. O preço está lá – 230 euros é um valor acessível para um smartphone -, a questão é que o desempenho do dispositivo não bate certo com o seu valor. Das duas uma: ou a LAIQ devia ter sido mais modesta no preço ou mais agressiva nas especificações do smartphone.
Evolução bem-vinda
Vamos começar por uma das áreas na qual nos parece que o LAIQ Glam evoluiu claramente relativamente ao modelo apresentado no ano passado – na qualidade de construção.
O Glam apresenta-se com uma construção robusta e transmite uma sensação de solidez quando está na mão. Para isso contribui bastante o seu formato retangular vincado e a escolha de metal para os rebordos laterais e para a maior porção da parte traseira. É de destacar que tanto o friso superior como a inferior da traseira do smartphone são construídas num material diferente, o que acaba por não se traduzir numa linguagem visual coesa.
Se o alumínio dá alguma classe a este smartphone, já o design é bastante generalista e sem grandes traços de personalidade. Apesar de saliente, o anel da câmara traseira acaba por dar algum cunho visual ao equipamento, mas não há muito mais além disso.
A LAIQ adorna o equipamento com o seu logotipo em dimensões consideráveis, um pormenor que pessoalmente dispensaria com facilidade – em baixo já existe uma outra referência à marca, o que acaba por tornar o logotipo grande um pouco redundante.
Em linhas gerais é um equipamento que se aceita com facilidade, apesar de ser pouco distintivo ao nível do visual. Há smartphones mais baratos com uma linguagem visual mais conseguida, mas também é verdade que existem equipamentos mais caros que são igualmente agnósticos no seu design.
A LAIQ também devia ter mantido a escolha por um ecrã AMOLED para este seu novo modelo, à semelhança do que já tinha feito em 2016. Porquê? Porque um ecrã AMOLED é muito mais rico em termos de cores e isso afeta a opinião geral que acabamos por ter sobre o impacto visual do smartphone.
Neste ponto de análise o ecrã de 5,5 polegadas do Glam é cumpridor: tem uma resolução razoável, a reprodução de cores é satisfatória e o brilho é aceitável, ainda que seja necessário puxá-lo muitas vezes para os níveis máximos, sobretudo fora de portas.
Companheiro para o quotidiano – mas até quando?
A inclusão de um processador octa-core pode ser bom para captar a atenção dos consumidores, mas a verdade é que o desempenho do LAIQ Glam em termos de potência é bastante linear. Ao fim de duas semanas de utilização cumpriu bem as suas funções básicas, mas também deixou indicadores de que é limitado neste desempenho.
O equipamento está longe de ser veloz em tudo o que faz. Apesar de aguentar inclusive com o modo de duas janelas em simultâneo, é um equipamento que em algumas das suas ações acaba por revelar alguns travamentos. Não é nada de grave e que vá afetar de forma considerável a experiência de utilização, mas é algo que deve saber caso decida optar por este equipamento.
O desempenho gráfico também é modesto. Uma das nossas experiências de gaming passou pela aplicação PES 2017, um jogo já com algum nível de exigência gráfica, e apesar de executar de forma regular no LAIQ Glam, o jogador também vai acabar por encontrar alguns ‘engasgos’ ao longo da experiência.
A questão que mais colocámos foi: o smartphone até se vai safando, mas até quando vai conseguir entregar uma experiência de utilização consistente? Ao fim de vários meses de utilização os equipamentos tendem a ficar mais lentos e este acumular de ‘lixo digital’ pode obrigar-nos a fazer limpezas regulares aos dispositivos menos capazes.
Em teoria o LAIQ Glam apresenta algumas características interessantes neste sentido – 32GB de armazenamento e 3GB de RAM são especificações muito bem-vindas num equipamento desta linha de preço -, mas não são as únicas a importar. Quando passamos o LAIQ pelos testes de benchmark do Antutu os resultados foram bastante modestos, com a pontuação a rondar os 32 mil pontos – o BQ Aquaris X, por exemplo, apresentou um resultado duas vezes superior e o valor do smartphone não está assim tão distante.
A mesma sensação de serviços mínimos ficou depois de experimentarmos o sensor fotográfico de 13 megapíxeis incluído. Quando as condições de iluminação são generosas, as imagens até se apresentam com algum detalhe, ainda que a questão das cores seja sempre um aspeto negativo neste equipamento – as tonalidades não têm saturação e isso traduz-se em imagens muito ‘pálidas’. A lidar com os contrastes a máquina até se safa, mas mais uma vez os resultados são muito medianos.
Ficam aqui dois exemplos.
Quando passamos para ambientes de fraca luminosidade, é aí que percebemos verdadeiramente a limitação do sensor do LAIQ Glam. As fotografias ficam com bastante ruído e não há muito que o utilizador possa fazer relativamente a isso.
Um outro elemento onde o smartphone mostra um comportamento abaixo da média é na velocidade de captação de imagens – os disparos são muito lentos para os padrões que já existem noutros smartphones de gama média.
Destaque final para o software escolhido para a câmara fotográfica – básico, funcional, mas visualmente pouco apelativo e sem grandes opções de controlo criativo. A LAIQ vai mesmo ter de fazer um trabalho melhor nesta área se quiser captar a atenção dos consumidores.
Já o dissemos várias vezes e voltaremos a repetir quantas vezes for necessário: a fotografia é, mais do que nunca, um dos pilares de escolha de um smartphone.
Altos e baixos
Existem outros elementos nos quais é muito fácil apontar o dedo ao LAIQ Glam por não cumprir bem a sua função. O exemplo mais claro disto é o leitor de impressões digitais incluído no equipamento.
Apesar de ser positivo ter um sensor biométrico num smartphone deste preço, a verdade é que este sensor é de baixa precisão. De tal forma que acabámos quase sempre por usar o código PIN como método de desbloqueio. Isto acaba por ser uma experiência um pouco frustrante, pois sabemos que temos um sensor de impressões digitais, mas vamos usá-lo muito pouco.
Outro elemento que destacamos é a ausência de NFC. Mesmo que esta tecnologia não seja tão popular como o Bluetooth, por exemplo, está a ganhar cada vez mais opções de integração. Ao não colocar um simples leitor NFC no equipamento, a LAIQ está a tornar o smartphone menos apelativo para quem pretende fazer um investimento a médio ou a longo prazo.
Para compensar estes lados menos positivos temos três elementos. O primeiro é a autonomia da bateria, que nos consegue garantir um dia de utilização relativamente intensivo. Ou seja, não é estonteante, mas não ficou abaixo das nossas expectativas nesse sentido.
Outro elemento que destacamos é a inclusão do Android 7.0 numa versão pouco customizada. Isto significa que os utilizadores vão ter acesso a todas as funcionalidades desta versão sem terem de levar com camadas extra de software que muitas vezes não acrescentam valor à utilização quotidiana.
Por fim destacamos o sistema de som do smartphone – mesmo sendo constituído apenas por um altifalante, consegue entregar um som com bons níveis de graves, o que acabou por ser uma boa surpresa para um equipamento deste segmento.
Considerações finais
Este é o típico caso de um smartphone que para tentar ser competitivo no preço tenta ser competitivo nas suas especificações. Mas ao fazer poupanças em todas as áreas, isso acaba por resultar num dispositivo que não é único e acima da média em nenhuma das suas especificações.
O LAIQ Glam é um smartphone aceitável para uma utilização quotidiana pouco exigente. Parece-nos que o preço está desajustado para o valor que realmente entrega e a marca portuguesa devia ter considerado um preço abaixo dos 200 euros para este modelo.
Isto parece-nos ainda mais relevante sabendo que a marca tem uma estratégia de longo prazo que está assente no conceito de proximidade com os consumidores portugueses. Uma vez mais: há muitas formas de cultivar esta proximidade e apostar em dispositivos que tenham propostas de valor inegáveis é uma forma de consegui-lo.
A própria execução do LAIQ como equipamento está uns furos ao lado do que seria expectável – nesta fase do campeonato já não é admissível um leitor de impressões digitais com uma taxa de erro tão elevada, por exemplo.
Há apontamentos positivos neste equipamento, como a evolução na qualidade de construção, e isso mostra algum esforço de melhoria por parte da marca portuguesa de smartphones. Um esforço que além de não ser suficiente, deveria ter ido mais além – pelos consumidores e pela própria ambição que a LAIQ já mostrou.