O mundo tecnológico tem destas coisas: um dos smartphones mais interessantes da atualidade é fabricado por uma empresa que pouco ou nada tem apostado neste segmento. Falamos da Hewlett-Packard e do seu Elite X3. Mais do que uma bela surpresa como equipamento, este dispositivo merece a sua atenção pelo facto de mostrar aquilo que no futuro deverá esperar de um smartphone.
Referimos o HP Elite X3 quando escrevemos sobre o sonho do smartphone-computador. Isto porque o dispositivo da HP é aquele que atualmente mais aproxima os utilizadores do conceito de usar também o smartphone como computador.
A forma como a HP tenta fundir os dois conceitos ainda tem os seus ‘quês’. A empresa tem no entanto plena consciência que precisa de começar por algum lado para poder ir aprimorando este conceito. Pelas indicações dadas pelo Elite X3, a HP começou muito bem.
HP, a forasteira
Para quem não está de todo habituado a desenvolver e a produzir smartphones, o Elite X3 da HP apresenta-se como uma peça de hardware atraente e como uma máquina poderosa.
O primeiro elemento no qual vai reparar quando pegar no smartphone é o seu tamanho acima da média. Sim, é verdade que os smartphones atualmente são todos grandes, mas o HP Elite X3 consegue ser ainda maior. Isso deve-se ao facto de a HP ter escolhido um painel de 5,96 polegadas para este equipamento.
O tamanho extra torna o smartphone um pouco mais difícil de manusear, sendo o mais provável ficar agarrado a ele com as duas mãos – pois maior tamanho traz também mais algum peso.
Só que estes são dois elementos que esquecemos com facilidade quando somos ‘engolidos’ pela qualidade do ecrã. Além de grande, o painel tem uma resolução muito boa – 2.560x.1.440 píxeis – e uma reprodução de cores também muito certeira. Podemos assegurar que é um prazer consumir conteúdos multimédia neste dispositivo.
Esta vertente do HP Elite X3 é mesmo um dos seus grandes pontos fortes. Se por um lado o dispositivo é bom para ver filmes, navegar nas redes sociais e ver imagens com grande detalhe, assim como jogar, o tamanho do ecrã e a sua qualidade também são exímios para o consumo de PDF, documentos de texto, folhas de excel e powerpoints – estes últimos são o verdadeiro intuito da HP.
Se não ouviu falar muito do Elite X3 isso acontece justamente pelo facto de a HP direcionar o smartphone para o segmento empresarial. É uma estratégia que não condenamos pois o mercado de consumo está mais do que saturado. Vale por isso muito mais uma proposta que tem o seu público-alvo bem definido.
A questão é que ao produzir um produto de grande qualidade para os profissionais, a HP produziu igualmente um smartphone que tem todas as condições para ser o equipamento do dia a dia de qualquer consumidor disposto a investir os 870 euros pedidos pelo Elite X3. A autonomia que pode chegar com facilidade aos dois dias, o sensor de impressões digitais preciso e o scanner para a íris também preciso, mas um pouco lento, são pontos que a maioria dos consumidores também gostaria de garantir no seu smartphone.
Uma outra característica que reforça esta ideia é a câmara fotográfica. O sensor tem 16 megapíxeis, um tamanho generoso e que ajuda a contrastar com a abertura F/2.2 da lente. Ainda assim, o smartphone consegue captar imagens com bom detalhe, mesmo em ambientes de baixa luminosidade.
O facto de ter disponível um modo de fotografia em High Dynamic Range (HDR) também facilita a tarefa de conseguir fotografias de encher o olho. Junta-se assim o útil ao agradável: o Elite X3 capta imagens suficientemente boas para colocar em evidência o ecrã do smartphone; o que por seu lado permite perceber como é boa a qualidade da câmara fotográfica.
Os resultados finais apresentam-se sempre com um bom contraste, com um bom detalhe e também com uma representação fiel das cores – nem muito saturadas, nem muito deslavadas. Não é a melhor câmara que já vimos num smartphone, mas está claramente acima da média.
Como ‘bónus’ tem ainda a possibilidade de gravar vídeo 4K.
Já o sensor frontal produz resultados razoáveis para a realização de videoconferências desde que existam boas condições de luminosidade – sem luz os resultados caem de forma notória.
Sobre o desempenho geral do equipamento não há muito a dizer. A experiência de utilização ao longo de duas semanas foi quase sempre fluída – com destaque para o quase. Notámos que a otimização entre hardware e software não está completamente alinhada, o que de vez em quando acaba por traduzir-se em alguns ‘soluços’ ou em períodos de espera um pouco mais demorados na abertura de aplicações.
O facto de estar equipado com o sistema operativo Windows também acaba por não representar uma grande exigência em termos de consumo de recursos – sobretudo no que diz respeito à experiência móvel.
Esta acaba por ser uma questão importante. A HP podia perfeitamente ter construído um Elite X3 sem um processador Snapdragon 820, sem 4GB de memória RAM e sem 64GB de armazenamento interno. Podia ter feito isto apenas se quisesse construir um bom smartphone Windows. A questão é que a HP quis construir um hipotético substituto do computador e para isso precisou de todo o poder de fogo que conseguiu encontrar no mercado.
Ao trabalho
Há dois elementos que distinguem o HP Elite X3 da maior parte dos smartphones. Por um lado suporta a funcionalidade Continuum do Windows 10. Isto permite ligar o smartphone a um monitor através de uma doca específica. A HP tem essa doca e quando tudo está configurado – o processo é relativamente simples e não deverá tomar mais do que cinco minutos do seu tempo – a ‘magia’ acontece.
Na prática a doca permite expandir o ambiente de trabalho do smartphone para um ambiente desktop. O utilizador não vai ganhar acesso ao Windows 10 completo que costuma ver instalado em portáteis e em computadores desktop. Mas pelo menos terá um ambiente de trabalho mais parecido com esse.
Neste ambiente é possível utilizar todas as aplicações Windows que são universais, isto é, apps que foram programadas por forma a funcionarem em qualquer tamanho de ecrã. A arquitetura da aplicação é sempre a mesma, a experiência de utilização é que varia se está a ser usada num smartphone, num tablet ou num PC.
Sobre este modelo nada a apontar: funciona bem e pode ser uma experiência de utilização do Windows Mobile mais agradável, sobretudo se tiver um monitor por perto.
Mas a questão depois acaba por ser justamente esta: quando é que tem um monitor por perto? Se estiver numa viagem de negócios é pouco provável que quando chega ao seu destino tenha um monitor ou um televisor acessível apenas para o seu trabalho.
Mesmo que tenha, também terá de garantir um teclado e um rato para poder tirar partido de toda a experiência desktop. Tem ainda de garantir que tem a doca consigo, para fazer a comunicação smartphone-monitor e tem também de levar todos os cabos – pelo menos um de alimentação e outro DisplayPort para ligar ao monitor. O monitor não suporta DisplayPort? Então terá de garantir um adaptador…
Como pode ver só por este último parágrafo, por muito ambicioso que seja o ambiente de trabalho em desktop e por muito bem que funcione, há toda uma logística pesada associada a este processo.
Enquanto este aspeto não for melhorado, então o tal sonho do smartphone-computador fica mais longe. Sim, o conceito que a HP apresenta com o Elite X3 é aliciante e é bastante funcional. Mas o hardware que é necessário garantir para esta mobilidade pode ser um problema – é simplesmente mais fácil meter um portátil na mochila e ter toda a experiência Windows disponível.
Depois há esta questão do que significa ‘toda a experiência Windows’. Com o Continuum os utilizadores não podem instalar programas no sistema operativo como instalam num computador. Têm de ficar limitados às aplicações universais, que acabam por não ser muitas – todas as da Microsoft, VLC Player, Tweetium, Aeries, Dropbox, Facebook, Netflix, Viber, Wunderlist são algumas que vai querer ter sempre consigo.
Se quiser ter acesso a uma experiência mais próxima do Windows para desktop, então terá de recorrer à funcionalidade HP Workspace. Pense neste serviço como uma plataforma de streaming de alguns programas que existem no Windows desktop, mas não estão contemplados nas aplicações universais.
Para aceder ao HP Workspace precisa de ter o smartphone em modo Continuum e fazer o registo – os primeiros 60 dias são gratuitos. Neste ambiente Workspace o utilizador vai encontrar um número limitado de programas, mas que certamente serão bastante familiares: Acrobat Reader, Internet Explorer 11, Google Chrome, Notepad, Slack, quatro programas do Office e pouco mais.
Neste modo de utilização o utilizador está, na prática, a alugar um computador na cloud. A HP depois faz a transmissão da utilização para o smartphone-monitor. É uma ferramenta que apesar de ter grande potencial, está ainda subaproveitada. Tirando o Google Chrome e o Slack, não vemos motivo para depois ter de sustentar uma mensalidade para continuar a garantir este método de trabalho.
Mas no final tudo se resume a este ponto: método de trabalho. Dependendo das necessidades que cada um tem no seu ambiente profissional, sobretudo quando está on the go, o HP Workspace pode acabar por fazer algum sentido. Parece-nos é que o número destes casos será limitado.
Por fim, destaque para o facto de a doca que permite fazer tudo isto vir bem apetrechada: tem uma entrada ethernet, uma DisplayPort, duas USB de alto débito e ainda uma entrada USB-C. Sentimos claramente a falta de uma porta HDMI, um standard mais popular que o DisplayPort, e sentimos também a falta de uma entrada para cartões SD.
De resto parece-nos que a HP conseguiu encontrar um bom equilíbrio sobretudo no que diz respeito ao tamanho da doca e às acessibilidades extra que garante.
Beleza discreta
Podemos continuar a falar da doca, mas para destacar um outro aspeto: a qualidade de construção que a HP colocou neste periférico. O rebordo desta base de trabalho é todo ele feito em cromado, um elemento que confere não só algum luxo, mas dá-lhe também um aspeto futurista.
Combinar a doca com o smartphone é algo que fica ainda melhor: o bloco maciço preto que é o dispositivo móvel contrasta na perfeição com o cromado da doca.
Gostamos do facto de a HP incluir diferentes bases para colocar na doca. Estas bases são aparentemente iguais, mas diferem um pouco no tamanho para o caso de o utilizador escolher utilizar o smartphone com uma capa protetora. Isso evita ter de remover a capa sempre que quer utilizar a doca – um pormenor bem pensado e que foi muito bem acautelado.
Na base inferior da doca existe também uma borracha bastante resistente e que garante uma boa aderência por parte do periférico – vai ficar onde o colocar, não havendo aquele perigo de deslizar pela mesa fora caso puxe algum fio sem querer.
Mas se a doca é bonita, o próprio HP Elite X3 não fica atrás. O smartphone não é espampanante no seu visual, mas é muito bem trabalhado nos pormenores. O design arredondado é coerente em todo o dispositivo e o plástico preto mate escolhido funciona muito bem com os acabamentos também em cromado.
O HP Elite X3 é aliás um bom exemplo de como os smartphones topo de gama não precisam de ser construídos em vidro ou em alumínio para garantirem um aspeto premium.
No caso do Elite X3 os acabamentos cromados estão no aro do sensor fotográfico na parte traseira, no logótipo da HP também na parte traseira e em todo o friso inferior do equipamento. O pontilhado aleatório, que na prática é o sistema de som, é um elemento de design muito bem conseguido e ajuda a dar personalidade ao smartphone.
Esta parceria com a Bang & Olufsen – que transita daquilo que já existe nos computadores da marca como o HP Spectre 13 ou o Elitebook Folio G1 – é um elemento extra positivo: o smartphone tem bons níveis de som e uma boa representação dos graves. É um elemento que ajuda a complementar não só o potencial multimédia do equipamento, como acaba por ser outro pormenor pensado para o segmento empresarial – o nosso palpite vai para a qualidade que isto assegura nas videochamadas.
Considerações finais
Chegados a este ponto, não conseguimos tirar da cabeça a seguinte ideia: ‘Consegue imaginar o potencial de um HP Elite X3 equipado com o sistema operativo Android?’. Se tivesse sido esta a escolha da HP, a tecnológica norte-americana estaria a concorrer diretamente com o iPhone 7, o Samsung Galaxy S7, o Sony Xperia XZ, com o LG G5 e outros dispositivos topo de gama.
Apesar de estar pensado para os utilizadores do segmento profissional, acreditamos que qualquer consumidor exigente com o seu smartphone ficaria satisfeito em ter um HP Elite X3. Nesta perspetiva o único grande senão é a inclusão do sistema operativo Windows – mas é este o software que a HP precisa de escolher se quer de facto criar uma simbiose entre telemóvel e computador.
O Windows não é um mau sistema operativo como sistema operativo, mas é fraco no que diz respeito ao ecossistema de aplicações. Por este motivo o HP Elite X3 será sempre um equipamento subaproveitado.
A marca tenta no entanto compensar este facto com a adição de uma mega-camada de produtividade. Os modos Continuum e Workspace podem ser uma conjugação poderosa nas mãos dos profissionais com necessidades específicas – não vemos é que estas sejam as necessidades da maioria do segmento empresarial.
Devemos todos agradecer no entanto à HP por ter tido a audácia de trabalhar este conceito. Ainda todos sonhamos com o dia em que o smartphone será o nosso único computador – seja em casa, na rua ou no trabalho. Com o HP Elite X3 ficamos um pouco mais perto dessa realidade e mal podemos esperar para ver que outras ideias a HP terá na manga para este conceito.