Alcatel A5 LED: Discoteca ambulante

Numa altura em que uma boa parte dos smartphones são muito parecidos entre si, reconhecer o Alcatel A5 LED no meio da multidão é fácil. Foi por isso que mesmo sendo um equipamento de características modestas, acabou por ser um dos destaques do Mobile World Congress.

Graças à sua capa com 35 LED, o dispositivo da Alcatel é visualmente diferenciador. A questão que se colocava era: esta capa luminosa não acabará por ser demasiado chamativa? Será que o lado estético pode tornar-se no maior inimigo deste equipamento? E para quê tantas luzes, há um lado prático neste conceito? Que impacto é que isto tem na autonomia do smartphone?

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Isso foi o que tentámos descobrir ao longo de duas semanas de utilização com o Alcatel A5 LED. Quisemos também perceber se a criação de um smartphone modular low-cost é suficientemente apelativa ou se a Alcatel foi demasiado modesta nas especificações escolhidas para este equipamento.

Show luminoso

O facto de estarmos acima de tudo habituados a smartphones de linhas sóbrias e metálicas faz com que de imediato o Alcatel A5 LED desperte em nós uma reação – boa ou má. Acima de tudo vai depender do quão disposto está a experimentar algo novo – no nosso caso, que procuramos sempre algo distinto, a reação foi boa.

Não tanto pelo aspeto geral do smartphone, mas por causa da capa crivada com luzes LED. O smartphone em si é bastante básico e também muito grosso, justamente por causa da capa luminosa. O facto de ter uma espessura considerável acaba por ser compensado pelo facto de o smartphone ter um tamanho ergonómico – mesmo com um ecrã de 5,2 polegadas, segura-se bem na mão.

A qualquer momento o utilizador pode escolher usar uma capa ‘normal’, sem qualquer sistema de iluminação, mas em bom rigor isto colocaria o Alcatel A5 LED no saco dos smartphones que são semelhantes entre si.

Que respostas encontrámos para as questões colocadas acima? Em bom rigor a capa apesar de ser chamativa, não o é em excesso. Durante o dia, por exemplo, o sistema de iluminação até consegue passar relativamente despercebido. Já em ambiente de interiores ou então em ambiente noturno, aí a iluminação torna-se o centro das atenções naquele raio de ação.

Sobretudo se for uma pessoa que recebe bastantes notificações, então pode contar com o brilho constante do equipamento. O público-alvo do Alcatel A5 LED é claramente um segmento mais jovem e que procura um equipamento que transmita ele próprio alguma diversão.

Portanto não, não consideramos que o lado estético seja ao mesmo tempo o maior inimigo deste smartphone. A capa luminosa é perfeitamente tolerável, mesmo para aqueles que gostavam de ter o Alcatel A5 LED mais na ótica de quem procura um smartphone modular.

Isto porque no MWC17 a marca detida pela chinesa TCL prometeu o lançamento de um conjunto de capas diferentes que dá ao smartphones características adicionais. Por exemplo, está prevista uma capa que aumenta a autonomia do equipamento e outra que melhora a experiência sonora.

Há um sentido prático na capa luminosa? Em certa medida sim. O sistema operativo permite reconhecer as comunicações que o utilizador está a receber e identificá-las através dos LED da capa. Por exemplo, se receber uma mensagem no WhatsApp toda a capa vai brilhar em verde e vai surgir a letra ‘W’ em luzes brancas. Se receber uma mensagem no Twitter então a capa vai brilhar em azul e vai surgir um ‘T’ em branco.

Isto permite que o utilizador consiga perceber o que acabou de receber, mesmo sem ser necessário pegar no smartphone – se estiver pousado e com a capa virada para cima, é claro. A questão é que depois de perceber que este é um lado prático da capa, sempre que pousar o smartphone vai fazê-lo com a capa traseira virada para cima.

Noutra perspetiva isto também pode causar alguma falta de privacidade – se estiver num jantar de amigos, por exemplo, todos vão saber que tipologia de notificação acabou de receber. Pode também ser desconfortável os outros verem o smartphone constantemente a brilhar por causa de notificações, portanto tenha este aspeto em consideração.

Onde as luzes funcionam bem em ‘grupo’ é no consumo de conteúdos multimédia. Seja um vídeo no YouTube, seja a simples reprodução de uma música, o sistema de iluminação responde à intensidade daquilo que estamos a ouvir. É um sistema que dá vida ao telemóvel e que acaba por funcionar bem.O smartphone tem ainda um conjunto de perfis de iluminação pré-definidos e que lhe vão dar jeito sempre que alguém perguntar ‘para que é que isso serve’. Nem todas as pessoas vão ficar convencidas da vantagem de ter uma capa com um sistema de iluminação LED, enquanto outras não se vão mostrar muito chocadas.

Se há mercado para um smartphone assim tão garrido? Vai depender muito do próprio perfil do comprador. Se procura algo divertido e dinâmico, então o Alcatel A5 LED pode ser considerado como uma opção. Temíamos que o sistema de iluminação acabasse por se tornar numa experiência excessiva, mas ao fim de duas semanas de utilização não ficámos com essa sensação.

Um reparo final para a questão da autonomia. Seria de esperar que 35 LED tivessem um impacto sério na autonomia do equipamento. Pela nossa experiência isto acontece mais ou menos, isto é, não teve um impacto tão notório quanto aquele que esperávamos, mas sim, estas luzes consomem alguma energia a mais. Com capa normal é possível ter autonomia para um dia inteiro de utilização [manhã-noite], enquanto com a capa luminosa muitas vezes necessitamos de carregar o equipamento antes de a noite acabar.

O show-off proporcionado pela capa quase que faz esquecer que do outro lado existe um smartphone que também precisa de ser avaliado. Para o caso de estar interessado no Alcatel A5 LED, esta é uma parte que aconselhamos a ler.

Falta de ambição

A Alcatel tem sido uma marca que nos tem entregado uma verdadeira montanha russa de equipamentos: temos smartphones muito bem executados como o Alcatel Idol 4s, temos dispositivos mal otimizados como o Alcatel Pop 4s, depois temos boas propostas de valor como o Alcatel Shine Lite. Infelizmente para a marca, o Alcatel A5 LED é mais um momento baixo de execução.

Temos que ter em conta que o Alcatel A5 LED custa 200 euros, um preço a partir do qual começam a existir um forte nível de concorrência e boas propostas de valor na relação qualidade-preço.

O ecrã do smartphone é de baixa qualidade, algo resultante da aposta de uma resolução HD num ecrã de 5,2 polegadas. As cores do painel são pouco intensas e a experiência de visualização sob luz solar direta não é muito agradável. Por outro lado os contrastes não são maus e os tons escuros são bem representados. O ecrã não tem níveis de brilho muito intensos, o que também acaba por ser uma condicionante. O Alcatel Shine Lite custa os mesmos 200 euros e tem um ecrã mais interessante.

O sensor fotográfico principal de oito megapíxeis do A5 LED também é muito modesto, captando imagens com poucos contrastes, também sem grande vivacidade nas cores e que à mínima condicionante em termos de luminosidade traduz-se de imediato em ruído na imagem.

Noutro patamar, o smartphone até apresenta no papel características que parecem ser suficientes – processador Mediatek MT6753 de oito núcleos a 1,3 Ghz, 2GB de RAM e 16GB de armazenamento interno -, mas a verdade é que a performance deixa um pouco a desejar.

O desempenho do equipamento está longe de ser um mimo – apesar de ser capaz de executar sem problema a maior parte dos jogos, como um King of Thieves ou Asphalt 8, a utilização no quotidiano não é fluída. Sobretudo na abertura e na troca de aplicações notámos alguma lentidão no Alcatel A5 LED.

É claro que pelo preço de 200 euros não seria de esperar uma utilização imaculada, mas por este preço também já seria de esperar uma utilização mais consistente. Foi o smartphone de utilização diária durante duas semanas e aguentou-se relativamente bem nessa tarefa, a questão que nos levanta é como será o seu comportamento a médio e longo prazo se já detetámos uma performance abaixo do esperado logo nos primeiros tempos de vida.

O que é que nos parece relativamente a esta questão? Que já vimos este filme noutro equipamento – o Alcatel Pop 4s. O desempenho do smartphone não corresponde às características que vêm no papel, o que nos parece indicar alguma falta de otimização do lado do software.

Para um fabricante como a Alcatel, que gosta de jogar mais ao nível do preço, seria aconselhável uma estratégia semelhante à da espanhola BQ, isto é, uma aposta em versões puras do sistema operativo Android. A Alcatel até apresenta conceitos interessantes de equipamentos, mas às vezes perdem-se na questão do software. O Android que vem equipado no A5 LED, na sua versão 6.0, é relativamente simples, sem grandes adições e traz funcionalidades interessantes – acima de tudo ligadas à capa luminosa – pelo que só pode ser mesmo uma questão de otimização a condicionante deste smartphone.

Dito assim pode parecer que não há muitos pontos apelativos neste smartphone e a verdade acaba por ser um pouco esta: tirando a capa luminosa e a robustez do equipamento, o Alcatel A5 LED não tem nenhuma característica de valor acrescentado.

Há apontamentos interessantes, como o suporte para redes 4G e o facto de o smartphone atingir bons níveis de volume – nos agudos, não nos graves -, mas estes são elementos que dificilmente vão conseguir desequilibrar a balança em caso de dúvida por parte do consumidor.

Considerações finais

Se tiver um orçamento limitado, se procura um smartphone que seja divertido, jovem e diferente, então o Alcatel A5 LED e a sua capa luminosa correspondem ao perfil de equipamento que procura. Se dá maior destaque ao aspeto do smartphone do que ao seu desempenho, então não vai ter grandes problemas em colocar este dispositivo na sua lista de hipóteses.

Para os restantes consumidores, o Alcatel A5 LED pode não ser uma escolha tão atrativa. Se o equipamento já tivesse uma rede de acessórios mais vasta, justificando assim em parte a sua modularidade, então talvez a análise fosse diferente. Por agora o ecossistema é curto, ainda não está disponível e isso complica o cenário geral para o equipamento.

Tirando a capa luminosa, o conceito de smartphone modular era aquele que mais podia puxar por este equipamento. Já aqui dissemos que a modularidade apresenta os seus pontos positivos e que só será seriamente considerada pelos consumidores quando estiver num nível de preço acessível. Pensámos que o Alcatel A5 LED seria o primeiro a iniciar esta vaga de modularidade, mas no final acabámos por ter apenas um smartphone modesto com uma capa diferente.Nem todos precisam de um smartphone com grande desempenho, pois simplesmente não vão aproveitar essa versatilidade. Como dissemos, o Alcatel A5 LED serve para as tarefas mais básicas, o que será justamente o que uma determinada franja do mercado procura.

A questão é que para fazer de um conceito diferenciador vencedor, as marcas têm de cumprir também os requisitos básicos daquilo que se procura num smartphone. A capa luminosa vai certamente atrair muita atenção, mas quando os consumidores souberem que a câmara fotográfica é fraca, então nem o facto de ser modular pode chegar para convencer o comprador.

A Alcatel podia e devia ter sido mais ambiciosa com este equipamento. Arriscou e isso é algo que louvamos sempre – mas arriscou pouco. Num smartphone como o Alcatel A5 LED pedia-se um equipamento que fosse muito bom na relação qualidade-preço, mesmo que isso não significasse um desempenho ‘louco’.

No estrangeiro há uma versão mais interessante do A5 LED – com leitor de impressões digitais, sensor fotográfico de 13 megapíxeis, 3GB de RAM e 32GB de armazenamento. Talvez esta devesse ter sido a única opção da Alcatel para todos os mercados.

Alcatel A5 LED
Design e construção
6
Ecrã
6
Fotografia
6
Performance
6
Autonomia
7
Software
7
Reader Rating0 Votes
0
Sistema modular
Robustez
Capa luminosa é bem explorada
Desempenho
Ecrã pobre
Fotografias pouco convicentes
6.3
EM 10
Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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