Marchesa IBM Watson

A tecnologia é o novo preto na alta-costura

Manus x Machina ou, traduzindo no sentido figurativo, “Homem x tecnologia”. Com computação cognitiva à mistura, está claro. Partindo deste motto, hoje, a Met Gala, evento onde o último grito da moda e da tecnologia se vão encontrar na passadeira vermelha do Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque, serve de palco para a apresentação da mais recente criação da gigante tecnológica IBM e da Marchesa Fashion: um vestido cognitivo.

Curioso? Levantamos o véu sobre algumas das características desta peça de alta-costura, onde todo o processo criativo – desde a conceção, ao design, Investigação e Desenvolvimento (I&D) e produto final – bebeu das capacidades inerentes ao sistema cognitivo IBM Watson. Passo a passo, este vestido inteligente começou a ser pensado, como não podia deixar de ser, tendo como alicerce o sentimento dos fãs da Marchesa – de forma a não o desvirtuar.

Haverá melhor fonte do que as redes sociais? A plataforma IBM Watson Personal Insights acredita que não e, por isso, analisando as contas de Instagram e Twitter, forneceu uma análise sobre os ideais da marca. Colocadas estas informações na ‘liquidificadora’, o vestido deverá espelhar alegria, paixão, entusiasmo, encorajamento e curiosidade – assim o veremos.

A ferramenta cognitiva de design de cores da IBM Research deu, depois, uma ajudinha, ao desvendar os efeitos psicológicos das cores, as inter-relações entre emoções e a estética da imagem, com recurso ao estudo de centenas de imagens associadas aos vestidos da Marchesa.

Uma vez definidas as cores, supomos que já deve calcular qual foi o desafio seguinte. Acertou, foi a escolha do tecido. Mas o que pode ser uma dor de cabeça para muitos – especialmente se pensarmos numa cerimónia de casamento, por exemplo -, para a plataforma de I&D da Inno360, que integra sete serviços do Watson, parece algo fácil. De mais de 40 mil fontes relativas a informação sobre tecidos foram filtradas as 150 opções mais convenientes, num piscar de olhos.



Uma das particularidades a ressalvar aqui é o facto de a escolha do tecido ter procurado ser ‘amiga’ da tecnologia LED, contando, para isso, com o trabalho da Inno360 e da IBM Research-Almaden. Percebeu bem, este vestido é, literalmente, iluminado, contendo luzes em alguns apontamentos que aludem a flores. Por essa razão, a Inno360 recomendou 35 tecidos com base em critérios relevantes para a Marchesa, tais como o peso, a luminosidade e a flexibilidade, sendo que a palavra final ficou do lado da marca de roupa.

Et voilá, eis o inovador vestido cognitivo da IBM e da Marchesa, que vai mudando de cor, em tempo real, consoante o sentimento que for expressado pelos utilizadores no Twitter [#MetGala2016] sobre esta peça – uma possibilidade permitida pelo Tone Analyzer do Watson.

https://www.youtube.com/watch?v=kW9DSYxMR_E

Alta-costura cognitiva sim, mas não só

É certo que, neste momento, o Watson brilha por território nova-iorquino, dado o mundo de novas experiências que concede às peças de vestuário, mas a sua versatilidade faz desta tecnologia quase omnipresente, podendo ser facilmente encontrada em indústrias como a farmacêutica, ambiental, engenharia ou exploração ecológica, só para enumerar algumas.

Este supercomputador, que venceu, em 2011, o programa de televisão de perguntas e respostas Jeopardy!, respondendo às questões deste quiz em menos de três segundos – e superando dois campeões neste jogo, Ken Jennings e Brad Rutter -, entrou, por exemplo, no ramo da saúde, há um ano, com a criação do IBM Watson Health. Sempre com o mesmo formato: fornecido através de cloud e capaz de analisar um ‘tsunami’ de dados, de perceber questões complexas colocadas em linguagem humana e dar respostas assertivas.

Traduzindo para miúdos, em caso de dúvidas num diagnóstico, o “Dr. Watson” nutre a capacidade de ler os sintomas do paciente e, em seguida, percorrer uma base de dados segura, procurando milhares de estudos clínicos, diagnósticos semelhantes e manuais médicos, de forma a facultar uma lista de potenciais doenças. Perícias estas que já se tornaram numa realidade na Mayo Clinic, CVS Health ou no Memorial Sloan Kettering Cancer Center – com o programa Watson para a Oncologia, a título de exemplo. Mas, para além destas, outras parcerias foram formadas, quer seja com a Medtronic, para a antecipação de episódios de hipoglicémia em pacientes com diabetes, três horas antes de ocorrerem, ou com a Apple, para o armazenamento e análise de dados do ResearchKit.ibm-watson-big-logo

É caso para dizer, à boa maneira portuguesa, que o IBM Watson é pau para toda a obra

Adicionalmente, a IBM conta também com o apoio da Johnson & Johnson, numa parceira cujo objetivo é analisar documentos científicos de forma a encontrar novas ligações ao desenvolvimento de medicamentos, bem como com a Under Armour, que tem debaixo de olho o estímulo a um sistema de treino cognitivo que dê orientações aos atletas em aspetos como a atividade, nutrição, sono e fitness.

As provas colocadas ao Watson não ficam, no entanto, por aqui. Dentro da indústria farmacêutica, e depois de ‘instruído’ por investigadores da Glaxo e da IBM com toda a informação relativa a malária, remédios e outros componentes químicos, este sistema cognitivo conseguiu identificar corretamente medicamentos anti-malária e propor outros 15 compostos para combater a doença. Enquanto, por outro lado, também já provou ser dotado na cozinha, nomeadamente ao nível de receitas inovadoras, tendo criado um doce para ser servido ao pequeno-almoço, depois de ‘aprender’ mais de 20 mil receitas, dados sobre a química de ingredientes e avaliação de sabores.

A quantidade massiva de dados que hoje invade as cidades, recolhidos através de sensores, torna humanamente impossível a sua gestão na plenitude – e é aqui que reside a pertinência do Watson, que está já integrado em vários projectos a este nível. Os exemplos vão desde a plataforma que monitoriza toda a cidade de Madrid, os sensores e contadores de água inteligentes instalados em Miami, com potencial de poupar um milhão de dólares, o Centro de Operações do Rio de Janeiro, desenhado para a prevenção de cheias, mas também de outros incidentes e preparação de eventos de ampla escala, ou, ainda, a aplicação “City HeartBeat”, que permite, entre outras coisas, analisar o que se escreve sobre a cidade de Montpellier nas redes sociais.

Watson e a Rua Sésamo

Crédito: John O"Boyle / IBM

Nos próximos três anos, contudo, será na área educativa que o Watson irá também dar cartas depois da recente parceria anunciada com o Workshop Sésamo, uma comunidade da Rua Sésamo sem fins lucrativos ligada à educação. A finalidade? Criar ferramentas cognitivas de aprendizagem para alunos a frequentar a pré-primária, ou seja, programas e produtos que ensinem e aprendam com as crianças à medida que os seus conhecimentos se vão aprimorando.

“Com o saber do Workshop Sésamo e o processamento de linguagem natural, reconhecimento de padrões e outras capacidades cognitivas do Watson, brevemente teremos acesso a instrumentos pedagógicos que adaptam aulas com base nas preferências individuais, desinteresses e ao nível do envolvimento de cada criança”, assegura a IBM, acrescentando que esta é uma amizade que até o rabugento Oscar (personagem da Rua Sésamo) iria gostar – estaremos cá para ver e comentar.