Artigo de opinião por Gonçalo “BombNuker” Miguéis – Comentador de Esports, jogador de FIFA e um dos responsáveis pelo crescimento dos torneios de FIFA no nosso país. Podem ler a opinião em FUTURE BEHIND ou seguir a transmissão dos muitos torneios FIFA no Twitch
É impossível falar sobre este jogo sem referir todo o percurso que culmina neste tempo presente. Esta versão do FIFA começou com uma expectativa de jogabilidade altíssima quando saiu a versão Demo (demonstração). Era um jogo muito mais rasteiro e mais perto do que é o atual futebol real, ao contrário do que era o FIFA 19, onde a bola passava mais tempo no ar do que no chão. Nessa edição anterior de FIFA, El tornados, volleys e cruzamentos ao segundo poste eram a norma e, apesar de originarem golos espetaculares, rapidamente fugiram para um estilo de jogo demasiado arcade, que acabou por se tornar banal. Por esta mesma razão, FIFA 20 entrou como uma lufada de ar fresco, com elevado interesse por parte dos jogadores em jogar e tentar dominar logo de imediato a sua jogabilidade.
“Apenas a carta TEAM OF THE YEAR Cristiano Ronaldo é capaz de os marcar, e só de vez em quando!”
Com o decorrer de FIFA 20 ficou percetível que a meta de FIFA 19 relativamente aos cruzamentos enfraqueceu nesta transição, não pelos cruzamentos em si não conseguirem ser bem executados, mas sim pelo facto de que os cabeceamentos e os remates em volley estavam completamente inúteis, tornando praticamente impossível fazer golo desta forma. Contudo, remates de fora de área ainda se mantiveram como uma excelente opção de finalizar, especialmente devido à maior lentidão da movimentação dos guarda-redes no FIFA 20 e pela circulação de bola rasteira pela zona central do campo. No entanto, também estes remates deixaram de ser viáveis, acabando por ter uma presença curta no arsenal de opções dos jogadores. Patches da EA foram surgindo e pouco a pouco, patch após patch, esta opção acabou por se tornar demasiado incerta e foi praticamente abandonada pelos jogadores.
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O conjunto destes obstáculos de finalização levou a que restasse apenas uma opção para marcar golo: jogo pela zona central do terreno. Para combater isto, a maioria dos jogadores começou a utilizar a mentalidade defensiva de “ficar atrás” onde até os avançados vinham até junto da sua área para ajudar nas tarefas defensivas. Com a adoção desta estratégia, um jogo que já tão poucas formas de marcar tinha, estava a aproximar-se da marca do impossível de chegar ao golo. Posto isto, a EA atuou e com mais um patch, impediu os avançados de virem até à sua área para ajudar a defender.
Depois de uma notícia destas esperava-se que os jogadores e espetadores rejubilassem com a possibilidade de poder disputar e assistir a jogos com mais golos e, dessa forma, entusiasmantes. A verdade é que tudo estava aceitavelmente bem até o fenómeno do “sobrecarregar o lado da bola” surgir no competitivo. Por esta altura, qualquer jogador que jogue FIFA já ouvi este termo ou, mais que não seja, viu esta opção no menu de táticas defensivas quando acidentalmente carregou na seta do comando para baixo no decorrer de um jogo. Esta tática já existia nas versões anteriores do FIFA, mas poucos a utilizavam ou pelo menos não havia uma necessidade tão grande de a utilizar como agora neste FIFA 20, onde passou a ser moda. Falamos em modas, mas a realidade é que a sua eficácia era inegável. Ao ativar esta opção não só a tua equipa defendia com 11, sim os avançados voltavam a juntar-se perto da tua área para defender, como a tua própria equipa se juntava e fechava na zona central do terreno, mais parecendo o tão adorado “autocarro estacionado” em frente á baliza. Aquela que era a única forma de marcar golos acabou por ser novamente contraposta e os jogos voltaram á escassez de golos e animação.
“Foram tempos bastante negros para fãs de FIFA, até que muito recentemente a EA voltou a fazer um patch”
No entanto, tal como quaisquer estratégias adotadas anteriormente, também esta começou a deixar mostrar as suas fraquezas. Era dado demasiado espaço ao adversário para fazer posse de bola e assim como era cedido muito espaço ao adversário nas laterais. Poderia ser uma fraqueza infalível, não fossem os cabeceamentos e remates em volley tão inúteis como referido anteriormente, em que apenas a carta TEAM OF THE YEAR Cristiano Ronaldo é capaz de os marcar, e só de vez em quando!
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Foram tempos bastante negros para fãs de FIFA, até que muito recentemente a EA voltou a fazer um patch e “nerfou” o “sobrecarregar o lado da bola”, aumentado muito o custo da resistência dos jogadores quando esta tática está ligada. Ainda é muito cedo para dizer se esta ação por parte da EA vai ser suficiente para travar todo o abuso desta tática, mas, para já, tudo indica que sim. Apesar de haver a possibilidade de apenas a ligar quando se está em processos defensivos e desligar assim que recuperas a bola, o custo de resistência acaba por criar uma discrepância tão grande perante um jogador que não utilize de todo esta opção, que é bem provável que raramente voltemos a ver esta tática a ser usada daqui para a frente.
“O FIFA (…) é um videojogo, e como tal, deve sempre apelar a mais motivos para haver divertimento para quem joga e para quem assiste.”
Soa como uma boa notícia, pois com esta mudança deveremos voltar a assistir a jogos com mais agressividade ofensiva e com mais motivos para gritar golo. Com esta tática não só vamos poder voltar a ver os jogadores de FIFA de natureza mais ousada sem receios de arriscar e, mas também valorizar os jogadores que são realmente bons a defender, sem depender da inteligência artificial do jogo.
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Acredito que melhores tempos viriam para estas próximas competições em termos de jogabilidade com esta nova solução, porém, uma delas já foi cancelada (FCC5 devido ao Coronavírus COVID-19) e outras tantas estão em risco. Resta esperar para ver o que vai ditar o futuro das competições deste jogo que nós tanto adoramos e queremos ver na sua melhor forma. O FIFA é um simulador de futebol, mas no fundo é um videojogo, e como tal, deve sempre apelar a mais motivos para haver divertimento para quem joga e para quem assiste.