A temperatura vai ser superior a 21º perto da ponte Golden Gate depois das cinco da tarde do dia depois de amanhã?
O próprio diretor executivo da Viv Labs, Dag Kittlaus, admitiu que esta é a pergunta que ninguém vai fazer à sua assistente digital. Mas ele fê-la só para conseguir mostrar o poder de resolução e cruzamento de informações que a Viv tem.
Em menos de dois segundos a assistente virtual já tinha a resposta. Os elementos que destacamos a cores na frase são aqueles que a assistente tem de interpretar em conjunto para conseguir dar a resposta correta.
Na prática tem de procurar por um serviço específico – meteorologia -, tem de fazer uma comparação – superior ou não a 21º -, tem de saber onde é que essas condições devem existir – perto da ponte e que ponte é essa – e tem de saber o exato momento – cinco da tarde – de um determinado dia – o dia depois de amanhã, que neste caso seria quinta-feira.
Já pensou quanto tempo levaria se tivesse você mesmo de pesquisar esta informação?
O segredo da Viv está na sua tecnologia geradora de programação dinâmica. Dito assim parece difícil de digerir, mas isto significa que quando o sistema percebe a intenção do utilizador, escreve o seu próprio código para chegar à resposta desejada: no caso da questão que analisamos foram necessário 10 milissegundos para escrever um programa constituído por 44 passos de ligação. “É um software que está a escrever-se sozinho”, reforçou Dag Kittlaus durante a apresentação do sistema no evento TechCrunch Disrupt.
Um dos pontos fortes da Viv – e uma das suas fontes de rendimento – vai ser aquilo a que os seus criadores chamam de comércio conversacional. Ou seja, uma compra efetuada através de uma conversa que teve com a sua assistente digital.
“Envia flores para a minha mãe no dia do seu aniversário”. Um serviço de venda online de flores integrado com a Viv sugere os resultados. Nenhum interessa. “Então e tulipas?”, perguntou Dag Kittlaus. Os resultados foram refeitos, agora as sugestões correspondem ao pretendido e foi só clicar em confirmar para que a transação fosse consumada – não só no débito do dinheiro, mas também na garantia de que na data do aniversário e em casa da mãe [a Viv sabe estas nossas informações] as flores serão entregues.
É difícil não ficar entusiasmado com a demonstração feita com a Viv. Ainda que a mesma não tenha tido a pompa e a circunstância que possivelmente um serviço como estes mereceria, não deixou de ser eficaz. Tal como o outro fundador da Viv Labs, Adam Cheyer, já tinha referido ao FUTURE BEHIND, esta pode ser de facto a próxima grande plataforma computacional.
Dag Kittlaus disse mesmo durante a apresentação que a Viv será um pouco o que a App Store da Apple foi para as aplicações móveis.
Se os prós estão lá, os contras também. Isto é, a Viv Labs vai precisar do apoio dos programadores para desenvolver a integração de serviços com a assistente e também vai necessitar do apoio de empresas de hardware para que o sistema venha integrado de origem em diversos equipamentos.
“É um pouco como a Wikipédia: nenhuma empresa podia construir todas as páginas da Wikipédia e traduzi-la para todas os idiomas. Mas se tornares a plataforma aberta e montares os incentivos que conduzem à qualidade, então a Wikipédia pode estar em qualquer idioma e em qualquer serviço. É demasiado para um. Mas podes prender-te à inteligência coletiva do mundo para fazê-lo. Estamos a construir a Viv para que cada funcionalidade, cada idioma, seja feito por programadores externos”, explicou Adam Cheyer no final de abril ao FUTURE BEHIND.
Ainda que tenha características diferentes, a Viv apresenta-se assim como uma alternativa a outros assistentes digitais que já marcam presença no mercado como a Alexa da Amazon, a Siri da Apple ou a Cortana da Microsoft. O ano de 2016 tem ficado marcado também pela aposta crescente nos sistemas autónomos alimentados por ferramentas de inteligência artificial, também conhecidos como bots.