As assistentes virtuais estão a passar de mera promessa a vigilantes a tempo inteiro. E tal como nas bandas desenhadas, acodem as pessoas para ajudá-las quando precisam.
Há justamente dois anos a Microsoft disponibilizava a assistente digital-pessoal Cortana. Se na altura o movimento foi visto como uma resposta da tecnológica ao trabalho que as suas principais rivais estavam a fazer – a Apple com a Siri e a Google com o Google Now -, hoje é a Microsoft quem obriga a concorrência a estar em bicos de pés.
“A Cortana ficou mais inteligente a cada dia graças à sua habilidade em conhecer as pessoas, as empresas e o mundo que os rodeia”, explicou o diretor executivo, Satya Nadella na sessão de abertura da BUILD, a conferência mundial de programadores da Microsoft.
O evento terminou anteontem, 1 de abril, e agora que o pó assentou parece certo que a Cortana vai passar a ser a Super Cortana. As demonstrações feitas em palco foram uma amostra do que a Microsoft pretende fazer com o seu sistema inteligente de interação.
Na prática o objetivo final é facilitar a conversação com a Cortana ao ponto de parecer que está a conversar com um humano. Quando pediram à assistente virtual para contar uma anedota para geeks, ela disse “Sódio, sódio, sódio, sódio, sódio, sódio, sódio, Batman”, numa alusão ao genérico dos desenhos animados do super-herói na década de 1960. E só para que fique tudo esclarecido vale a pena lembrar que o símbolo químico do sódio é Na.
Não ficou impressionado? Então que tal esta: “Envia ao Chuck o powerpoint no qual estive a trabalhar ontem à noite”, disse o gestor do grupo de programação da Cortana para Windows, Marcus Ash, para o seu computador.
A assistente responde dizendo que fez uma pesquisa e encontrou um ficheiro – será este? Certíssimo! Basta fazer uma confirmação e o envio será feito. Em resumo, o que se passou aqui foi um entendimento de linguagem natural e de correlação de factos: a Cortana sabia que tinha de procurar um Powerpoint, que o mesmo tinha sido feito Ontem e que tinha de ser Enviado para um Destinatário. Parece fácil, mas não é.
Outra área onde a Cortana parece estar em forma é na memória. O programador queria saber o que tinha comprado há um ano, mas a sua memória não deixou. Como vive nas nuvens, a assistente virtual tem uma maior capacidade de acesso a dados – soube justamente a que loja tinha ido o seu humano.
Para potenciar toda a inteligência que a Cortana tem vindo a acumular a Microsoft vai integrá-la nas duas principais plataformas de conversação que detém: Outlook e Skype.
No caso do primeiro serviço o robot de inteligência artificial vai estar mais empenhado numa gestão do calendário do utilizador. Enviará notificações a avisar sobre encontros, vai alertar para a necessidade de sair com antecedência para chegar aos locais e vai analisar os emails para fazer marcações novas no calendário.
Em mais um pedido feito por Marcus Ash a Cortana voltou a puxar dos galões. Foi-lhe pedido que reservasse na agenda espaço para uma tarefa… mas já estava ocupado. Mas como o utilizador tem prioridade para o que acaba de dizer, a assistente avisa sobre o conflito e reagenda automaticamente um dos compromissos para as primeiras horas vagas do dia seguinte.
A CORTANA ESTÁ DISPONÍVEL PARA WINDOWS, ANDROID E iOS
Por esta altura o leitor pode estar a pensar que estas tarefas não são revolucionárias. E está certo. A conveniência com que a Microsoft as promete fazer é que parece indicar nesse sentido.
Um exemplo: o João estava em casa de um amigo e depois decidiu apanhar um táxi para voltar para a sua residência. Usando um serviço moderno, toda a interação foi feita através do smartphone. A fatura chega mais tarde ao email.
Como a Cortana não dorme, vai aperceber-se desta nova entrada e vai perguntar ao utilizador se quer acrescentar a despesa à aplicação que tem instalada no telemóvel onde costuma registar os ganhos e os gastos. O utilizador só precisa de clicar e dizer que “Sim” ou “Não”.
Ser amigo de um super-herói deve ser porreiro. Por isso é que a Microsoft vai deixar que os utilizadores tenham conversas por mensagens com a assistente, tal como se estivesse a falar com um amigo – no campo da linguagem claro.
A integração no Skype faz com que a Cortana esteja sempre presente nas conversas. E se conseguir ultrapassar a questão da análise de dados e da privacidade, então poderá extrair da assistente bons indicadores.
O sistema da tecnológica norte-americana consegue atualmente reconhecer texto, imagem, som, vídeo e fazer uma interligação entre os vários elementos.
Escreva isto: “Cortana, reserva-me os dias 8 e 9 de abril para o ClickSummit”. A seguir, e sem lhe perguntar nada em específico, ela vai sugerir a marcação de um hotel para essa altura e para perto do local do evento. Melhor: se alguém na sua rede de contactos estiver nessa zona, a Cortana vai sugerir que comece uma conversa.
Como é óbvio o que a Microsft mostrou esta semana foi trabalhado, sem margem para grandes falhas. Também é óbvio que tudo isto será fazível acima de tudo para falantes da língua inglesa, já que o único português que a Cortana vai falando é o do Brasil.
Mas a Cortana é neste momento uma das grandes apostas tecnológicas da multinacional norte-americana. A Cortana vai partilhar a sua inteligência com outros bots que a Microsoft espera que os programadores criem e que em breve vão começar a invadir a Internet.
Para quê? Para que cada site, cada empresa, cada marca, cada negócio e cada serviço possam ter ‘alguém’ para falar com os utilizadores. Se quiser podemos pôr os termos nestes moldes: a Microsoft não está só a criar um super-herói, está também a assegurar que existem milhares destas unidades especiais em todos os cantos da Web prontas para resolverem os problemas dos humanos.
E tudo se resume a isto como o próprio CEO Satya Nadella referiu: no futuro não serão os humanos contra as máquinas, serão os humanos ao lado das máquinas. “A tecnologia é sobre as pessoas, não sobre os dispositivos”.