Do sonho de três jovens à criação de um negócio de escala global foi um piscar de olhos. Scott Vandonkelaar, Tim Ruse e Kyel Smith começaram a imaginar uma experiência de realidade virtual mais realista assim que viram que os Oculus Rift tinham conseguido captar a atenção dos consumidores e dos meios de comunicação.
Estávamos em 2012 e bastou apenas um ano para que os três jovens apresentassem o seu primeiro protótipo para uma experiência de realidade virtual mais imersiva. A partir daí conquistaram os investidores e continuaram a desenvolver a sua visão para uma nova categoria de entretenimento.
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Em agosto de 2015 a Zero Latency abriu a sua primeira localização física, na Austrália, na qual as pessoas podem ter acesso a uma experiência de realidade virtual completamente independente e multijogador. Dois anos e meio depois a empresa prepara-se para ter o seu 17º centro a nível global e o segundo na Europa – Lisboa, mais concretamente o Dolce Vita Tejo, vai ser a casa para a nova aposta da Zero Latency. No mercado ibérico os direitos da Zero Latency são explorados pela empresa espanhola Climbing Planet.
Em Lisboa existe um espaço de 225 metros quadrados apetrechado com 72 câmaras de captação de movimento. Os utilizadores equipam uns óculos de realidade virtual OSVR com dois sensores, uma mochila que esconde o computador principal e ainda uma arma impressa em 3D também com dois sensores.
As câmaras da arena de jogo fazem depois uma análise do posicionamento dos jogadores – podem participar até seis pessoas por partida. Essa informação é posteriormente enviada para um servidor local, que por sua vez envia a simulação virtual para os computadores nas mochilas. O gestor de desenvolvimento de negócio da empresa, Alberto Marcos, disse que todo este processo de transmissão de informação demora apenas 0,8 segundos.
O lado tecnológico é um dos elementos que ajuda a distinguir a proposta da Zero Latency de experiências mais tradicionais de realidade virtual. É que além de tudo ser rápido ao ponto de não existir lag, é tudo feito sem fios. Os utilizadores podem vaguear pela arena de jogo quase sem limites – apenas precisam de prestar atenção às paredes e aos outros jogadores, mas o próprio sistema alerta quando a pessoa está prestes a ficar fora dos limites aconselhados.
“O investimento em Lisboa ronda um milhão de euros. Vamos criar, nesta fase, até dez postos de trabalho, mas provavelmente vamos aumentar esse número em breve se a resposta dos clientes portugueses for semelhante a Espanha”, começou por dizer Alberto Marcos em entrevista ao FUTURE BEHIND.
“É um grande investimento, claro, mas estamos sempre a falar de tecnologia de ponta em termos de realidade virtual. Não és capaz de encontrar esta experiência fora de Lisboa e de Madrid. Ser-se tão único também significa ter um grande nível de investimento”, acrescentou.
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Cada partida na Zero Latency demora uma hora: 15 minutos para um briefing inicial sobre o jogo e o equipamento, 30 minutos de jogabilidade propriamente dita e outros 15 minutos para retirar os equipamentos e conferir resultados. Cada pessoa terá de pagar 25 euros por partida e aconselha-se a que as sessões sejam reservadas com antecedência.
Para Portugal a Zero Latency tem ambições superiores àquelas concretizadas em Espanha, isto porque Lisboa é um dos espaços mais avançados da tecnológica até ao momento.
“O que vimos em Madrid é que num ano vamos ter mais de 20 mil jogadores. Esperamos que Lisboa nos traga até 25 mil jogadores no primeiro ano, o que é bastante realista, digo eu, considerando que o centro que construímos em Lisboa é melhor do que o de Madrid. (…) Aprendemos bastante em Madrid e agora estamos a implementar novos elementos, novas possibilidades, um maior espaço de jogo, estamos preparados para receber mais pessoas certamente”, salientou o gestor da empresa australiana.
Para já é só mesmo Lisboa
A arena de Lisboa tem apenas um pavilhão de jogo, existindo depois outras salas adjacentes, mas que têm como objetivo servir de suporte para eventos empresariais. O que podemos esperar mais tarde são novas experiências – uma nova a cada três meses – e possíveis melhorias em termos de tecnologia.
Por agora, em Portugal, esta será a única aposta da Zero Latency. “O nosso objetivo é estar em todo o lado e digamos que estamos focados em grandes cidades. Quando pensamos em Portugal e em cidades grandes surgem dois nomes – Porto e Lisboa. Agora o plano é ir para outras grandes cidades na Europa, vai demorar tempo, provavelmente, até que falemos novamente sobre Portugal”, referiu Alberto Marcos na nossa entrevista.
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Na opinião do gestor, os portugueses até são conhecidos como early adopters de novas tecnologias, pelo que acredita que a Zero Latency será bem recebida.
“O que sabemos e vemos todos os dias em Portugal, é que os portugueses estão sempre preparados para implementar novas tecnologias. Existem eventos globais em Lisboa que nos dão os sinais de que os portugueses são um povo preparado para aceitar esta tecnologia, são rápidos na adoção de novas tecnologias. (…) Estamos bastante confiantes de que Portugal vai adorar e as primeiras reações que estamos a ter nestes dias de testes são bastante positivas”, referiu.
Zero Latency: Aprovado!
Participámos, a convite da Zero Latency, numa sessão de experimentação da sua tecnologia e experiência de realidade virtual. Em termos de equipamentos nada a apontar – quem já experimentou os PlayStation VR com o Aim Controller estará relativamente confortável, mas quem nunca experimentou também não terá problemas em aprender.
Um dos elementos que mais nos surpreendeu foi o peso bastante reduzido da mochila. Esperávamos algo mais pesado, que se fizesse sentir em termos de presença, mas isso foi algo que não aconteceu – o mais provável é esquecer-se que tem a mochila ao fim de 60 segundos.
Por agora a Zero Latency em Lisboa só tem disponível uma experiência de realidade virtual – chama-se Zombie Survival e tal como o nome deixa antever, somos nós contra os zombies. Na prática somos um pequeno exército armado que tem de defender a base contra várias vagas de ataques-zombie.
O nível tem algum dinamismo, pois além de existirem diferentes pontos de entrada para os zombies, os jogadores tanto podem escolher o rés do chão ou o primeiro andar para lidar contra a ameaça inimiga. Gostámos especialmente do facto de a experiência ficar mais difícil à medida que os minutos vão passando.
A sessão de testes, com uma duração de 15 minutos, já foi suficiente para deixar os braços cansados de tantos tiros de caçadeira que fizemos. Ainda que exista um objetivo comum, que é sobreviver aos ataques zombie, a partida acaba por funcionar como uma disputa direta entre todos os jogadores, ganhando aquele que tiver mais pontuação no final.
Dentro dos óculos o tempo passa a voar e é muito fácil esquecermo-nos do mundo real, sobretudo à medida que cada vez mais zombies tentam chegar até nós. Quando as barreiras de segurança são quebradas podemos apanhar inclusive alguns sustos – ouvimos sons estranhos, viramo-nos e já estamos a ser atacados por três zombies a apenas alguns centímetros da nossa cara.
Tendo em conta o nosso teste, a experiência proporcionada pela Zero Latency está aprovada: é divertida, é tecnologicamente fiável – zero lag, mesmo – e dá-nos muitas sensações fortes num curto espaço de tempo. É algo que, pelo menos uma vez, as pessoas deviam experimentar.
Provavelmente haverá quem considere que 25 euros para 30 minutos de jogo é demasiado. No final será tudo uma questão de expectativas relativamente à experiência: se forem superadas, então haverá claramente um sentimento de que foi dinheiro bem investido; se não for superado, então provavelmente vai haver queixas relativamente ao preço.
Daquilo que vimos, experimentámos e ouvimos, parece-nos que para a maior parte das pessoas a Zero Latency vai superar as expectativas em vários sentidos.
Uma escolha improvável
Um dos elementos que mais nos chamou a atenção foi a utilização dos óculos OSVR em detrimento daqueles que são outros dispositivos de realidade virtual bem mais populares, como os Oculus Rift ou os HTC Vive. O que à primeira partida parecia ser uma escolha tecnológica, na verdade está relacionada com outro aspeto.
“A questão é que quando começámos, e lembro-me há dois anos, não era possível, nem fácil, comprar as unidades que precisávamos. No início tentámos a HTC e muitos outros, mas nessa altura as empresas que estavam a produzir os óculos de realidade virtual não eram capazes de providenciar o número de unidades que precisávamos para o nosso centro. Num centro como Lisboa temos 24 óculos para serem usados. Naquela altura quanto tentavas comprar 24 óculos eles diziam que não era possível, só trabalhavam no mercado de consumo e vendiam no máximo duas unidades por cliente. Era o límite”.
Os OSVR acabaram por mostrar-se como uma boa solução e permitiram à Zero Latency crescer de forma rápida neste mercado emergente. “Não sabemos qual pode ser o próximo hardware. O hardware está resolvido e agora provavelmente o ênfase tem de ser dado ao conteúdo, que é o grande elemento. Precisamos de alimentar o sistema com novas experiências, com novos jogos, que vão chegar aos centros”, salientou o porta-voz da tecnológica.
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Apesar de funcionar em tecnologia de ponta, sobretudo no que aos sistemas wireless diz respeito, Alberto Marcos diz que as experiências da Zero Latency não são exclusivas para “gamers, fanáticos e geeks”.
“Não precisas de ter treino sobre os comandos, teclados ou joysticks – simplesmente mexes-te”, explicou, referindo-se à naturalidade da interação na experiência de realidade virtual. Em Madrid, por exemplo, 80% das pessoas que já experimentaram a Zero Latency nunca tinham jogado em realidade virtual.
“É fácil encontrar uma pessoa de 50 anos que está completamente espantada com o sistema e entusiasmada: ‘não, nunca joguei um jogo na minha vida, mas adoro isto’. Isto é o que esperamos também em Portugal – pessoas comuns, não apenas fanáticos ou geeks”.
O que a empresa espera é que as pessoas sintam que estão a fazer parte, muito antes dos outros, do futuro do entretenimento. “Ainda é muito cedo para dizer isso, mas podemos dizer que estamos a entrar numa nova categoria de entretenimento e à medida que a tecnologia desenvolve, nós vamos implementando. Sim, diria que estamos a iniciar uma nova categoria de lazer e podemos chamar-lhe o futuro do entretenimento”, concluiu Alberto Marcos.